O Sábado Criativo é uma iniciativa da escola SAIBADESIGN para promover ciclos de palestras e debates sobre Design. Tive a oportunidade de estar neste evento ministrar a palestra “Flat Design e a Re-Cultura da Interface”, Falando um pouco da evolução das interfaces digitais e a forma como eu vejo essas novas tendências visuais. Principalmente, tentando mostrar que os conceitos de Flat Design e Skeumorfismo podem ser complementares.
A cultura da interface
A minha apresentação iniciou com algumas referências ao livro Cultura da Interface (Steven Johnson), comentando como o surgimento do chamado Espaço-Informação através do Mapeamento de Bits e o surgimento do Mouse (criado por Doug Engelbart) mudou a forma como nós interagimos com as máquinas, e também a forma como nós nos comunicamos, tudo potencializado em grande parte pelas metáforas aplicadas as interfaces gráficas, que faziam referência a elementos do contexto social da época. Os dados informacionais passavam a ter uma localização física e uma localização virtual, sendo manipulados diretamente pelo usuário através do mouse, que servia como uma extensão ou prótese do nosso braço.
Muitas dessas metáforas aplicadas as interfaces gráficas utilizavam o conceito que conhecemos como Skeumorfismo, onde um objeto é feito para se parecer com um outro objeto ou material. No caso das interfaces, elementos visuais como ícones e janelas de softwares faziam referência a elementos do nosso mundo físico, utilizando suas formas e texturas. Vide a metáfora de pastas nos sistemas operacionais, que não somente se parecem com pastas físicas, como também se comportam como pastas.
O conceito de Skeumorfismo é muito utilizado nas interfaces criadas pela Apple (sendo muitas vezes chamado de Apple Design). Basta darmos uma boa olhada no Mac OS ou iOS: os ícones para o Calendário, Agenda de contatos e outros aplicativos se parecem com os seus correspondentes do mundo físico.
Segundo Steven Johnson, “o desktop começa com a descoberta da metáfora do escritório e em seguida examina as dificuldades da representação da vida social nessa moldura limitada”. Com isso, mesmo com uma inserção cada vez maior da sociedade no ambiente digital e a mudança de paradigmas cotidianos e sociais, alguns sistemas e aplicações retrocediam com um Skeumorfismo mal aplicado, criando interfaces anacrônicas como o Magic Cap e o Microsoft Bob, que tentavam simular ambientes reais completos com cômodos e móveis, ignorando toda evolução tecnológica e as novas gerações organicamente digitais.
Sentindo toda essa decadência foi que em 1996, Don Gentner e Jacob Nielsen publicaram o The Anti-Mac Interface, um artigo que pretendia inspirar designers da nova geração a revolucionar a forma como nós interagimos com nossos computadores, abandonando alguns vícios tão ultrapassados quando o uso de um ícone de Floppy Disk para representar o ato de salvar um arquivo. O The Anti-Mac Interface trazia inclusive alguns princípios de design antagônicos aqueles criados pela Apple, como a substituição do controle total da interface pelo usuário por um controle compartilhado com o sistema, ou a ideia de delegação de tarefas a interface em detrimento a manipulação direta.
A tendência ao Flat Design
Hoje, conseguimos vislumbrar uma evolução gráfica no design de interfaces, que vem se aproximando de uma tendência visual mais simples, minimalista, responsiva e vetorial, uma vez que as novas formas de se interagir com a informação (como o modelo touchscreen) coloquem a tecnologia dentro do nosso contexto social, ao invés de nos obrigar a entrar e emergir nos ambientes virtuais.
Dentro dessa realidade ubíqua, necessitamos cada vez mais de interfaces que sejam cross-browsers, cross-platforms e cross-devices, e apontando nessa direção é que tendências como o Flat Design começam a fazer sentido, com designs sem a utilização de Skeumorfismo e elementos tridimensionais como gradientes e sombreamentos. Dentro da avalanche de informação em que vivemos, o Flat Design nos traz uma proposta mais minimalista, com cores chapadas, tipografia nítida e bons contrastes, aonde a estética privilegia a compreensão e não interfere nos conteúdos, facilitando inclusive os filtros de informação.
Por mais que muitos designers venham compreendendo o conceito de Flat Design como inverso ao Skeumorfismo, a verdade é que ambos podem ser complementares. Interfaces sob a estética do Flat Design acompanham a evolução humana e tecnológica, e podem trazer elementos representativos com metáforas de objetos do nosso cotidiano, da nossa atual conjuntura. O que é necessário a muitos designers é compreender que o Skeumorfirmo não precisa necessariamente trabalhar com elementos ultrapassados como um Floppy Disk. O contexto tecnológico em que vivemos já faz com que hoje muitas metáforas digitais venham servir o mundo real de meta-informações. Por isso, a ideia que se tem de Skeumorfismo precisa ser atualizada, para poder se apropriar de metáforas mais atuais e complementar o Flat Design.
Tudo o que precisamos ter em mente é que [1] as metáforas de hoje são outras, [2] as novas gerações são organicamente digitais, e [3] cada vez mais, o menos é mais.
Veja abaixo os slides apresentados na palestra.
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Referências
- Livro: Cultura da Interface, de Steven Johnson;
- The Anti-Mac Interface (http://bit.ly/XC4lc3);
- The Floppy Disk means Save, and 14 other old people Icons that don’t make sense anymore (http://bit.ly/IDt0nn);
- Skeumorfismo, uma análise (http://bit.ly/16Dp7fe);
- Flat Design x Skeuomorfismo: tendência ou necessidade? (http://bit.ly/14lrKBC);