Quais os caminhos e atalhos que profissionais de outras áreas podem seguir para adentrar no mundo de UX Research?
No dia 16 de outubro realizamos o décimo episódio do Papo Qualitativo, onde convidei a Aline Vieira (UX Research no PicPay) e a Flavia Oliveira (Consultora independente em UX Research), para contar suas histórias de migração, de como foi sair de uma área completamente diferente para adentrar no mundo do UX Research.
O Papo Qualitativo teve sua primeira temporada acontecendo em episódios semanais as sextas-feiras com transmissão ao vivo pelo Youtube, LinkedIn, Twitter e Facebook da Mergo, posteriormente sendo publicados também como podcast e transcritos aqui no blog. Todo esse material pode ser visto logo abaixo.
Bom divertimento 🙂
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[Início da Transcrição]
Edu: Olá, pessoal! Como é que vai? Tudo bem? Estamos aqui começando mais um Papo Qualitativo, dessa vez no horário certo, horário de Happy Hour, para a gente trocar uma ideia com a cabeça mais vazia, tomando um vinhozinho, discutindo legal… Estou aqui mais uma vez com a Karen, minha companheira, trazendo a interpretação. Para quem está só me ouvindo, eu sou o Edu Agni, eu sou um homem branco, de cabelo praticamente raspado, barba por fazer, óculos pretos, um fone de ouvido bem grande, em uma cadeira preta, atrás de mim tem um biombo preto que tem uma placa escrito “bora pesquisar?”, uma outra placa escrito “eu pesquiso antes de falar” e algumas credenciais de evento, então esse sou eu. E hoje a gente vai falar sobre um assunto interessante, a gente vai dar um passo atrás, na verdade, de tudo que a gente vinha falando nos outros episódios. A gente discutiu muitos assuntos aqui diferentes sobre UX Research, inclusive no último episódio a gente falou sobre criação de portfólio de UX Research, e hoje a gente vai dar um passo atrás, a gente vai falar bem com aquela galera que está querendo entrar nessa área de UX Research, a gente vai falar um pouquinho sobre migração, sobre como que a gente pode sair de alguma área diferente do que a área de pesquisa e adentrar nesse universo. E para a gente começar a falar disso eu convidei duas pessoas aqui especiais — todo mundo que eu convido é especial! (risos) — convidei mais duas especiais (pessoas) aqui! Para a gente começar eu vou chamar primeiro aqui a Aline! Olá, Aline! Diga “olá”, se apresente para os nossos telespectadores!
Aline: Oi, gente! Boa noite! Meu nome é Aline Vieira, eu trabalho hoje com UX Research no PicPay.
Edu: Legal. E para completar o nosso time aqui hoje, estou chamando também a Flávia! Olá, Flávia!
Flávia: Olá, gente! Boa noite!
Edu: Boa noite! Se apresente para os nossos telespectadores!
Flávia: Bom, eu sou a Flávia Oliveira, eu trabalho com Research há mais ou menos um ano e meio, e eu sou independente, eu sou uma profissional independente atualmente.
Edu: Legal. Por que a gente resolveu falar desse assunto? Na verdade, em todos os episódios a gente acaba falando um pouquinho disso, porque assim, a área de UX… A gente não tem uma graduação de entrada para a área de UX, profissionais que trabalham na área de UX vêm de várias áreas diferentes, com mais força da área de design, então tem muitos profissionais da área de design que acabam migrando para UX de fato… Tem profissionais que vêm de outras áreas, de biblioteconomia, de ciências da computação, e acabam entrando no universo de UX… Então vêm de várias áreas diferentes. As graduações que a gente tem nas faculdades não se aprofundam na área de UX, é isso que gente ouve de todos os profissionais, e eles acabam tendo que buscar seus caminhos aí, e a gente tem pós graduações, tem outros cursos, tem eventos, tem a literatura toda aí para ajudar a galera a migrar. Só que quando a gente vai falar da área de UX Research eu acho que se distancia até um pouco mais, porque a pesquisa é algo que a gente tem que se aprofundar muito mais, a gente vai lidar diretamente com seres humanos, tentar entendê-los, tentar descobrir contextos e problemas que envolvem eles, e normalmente ou a gente vê profissionais que estão na área de design e precisam, talvez, descobrir um pouco mais sobre pesquisa, ou às vezes profissionais que se formaram como pesquisadores, como antropólogos — que têm muitos hoje trabalhando como UX Researcher — e que aí precisam se aprofundar um pouco mais na área de design, precisam buscar os seus caminhos, além de profissionais que vêm de outras áreas completamente diferentes, e vêm buscar também, ou na área de UX ou de UX Research, o seu caminho profissional também. Então, o que a gente pretende falar hoje? A gente pretende discutir um pouco sobre isso, quais são os caminhos que a gente pode seguir para migrar para a área de UX Research, quem pretende entrar e se estabelecer na área, independente de qual área que venha. E até para a gente começar a falar isso, Aline, eu estou com o seu LinkedIn aberto aqui na minha frente, e eu vi que você, lá no final dos anos 2000, você fez técnico em edificações no SENAI, e que inclusive a sua primeira experiência profissional foi “estagiária técnica em edificações”. Como que você saiu do técnico em edificações e foi parar no mundo do UX Research? Como foi esse processo? (Risos) É claro que é uma história de vida, não dá para você falar sobre dez, vinte anos aqui, mas resumidamente, assim, o que te fez sair dessa coisa de edificações e vir até UX Research?
Aline: Nessa época, era um Brasil antes da Copa do Mundo, então a construção civil era o hype! Tipo, “faz construção civil”! E quando eu fiz o técnico eu estava no ensino médio, então eu estava ali, muito nova, e tinha que decidir já uma carreira, e aí eu parti para edificações, porque estava ali no hype, digamos assim, e eu fiz edificações, mas na verdade eu sempre tive uma proximidade, acho que desde nova, desde criança, nem sabendo muito bem o que era, eu sempre quis fazer design, e aí eu acabei indo fazer desenho industrial, que hoje a gente chama de “design bacharelado”, então… Na faculdade eu tive desde projeto gráfico até projeto de móveis, até projeto de interiores, e aí eu acho que um pouco que, no final vai se conectar tudo, é que eu acho que devido à minha faculdade, tipo, eu fiquei muito dentro do ambiente acadêmico, e minha faculdade incentivava muito esse lado acadêmico dos alunos, então eu sempre escrevi artigos durante a minha jornada na faculdade, estava ali perto e de olho nos grupos de iniciação científica, então eu sempre tive esse lado um pouco mais de pesquisa, que a faculdade trouxe, mas aí acabou que a vida me levou para trabalhar com design digital, e aí eu trabalhei um tempinho em agência mesmo, com design digital, fazendo redes sociais, fazendo landing page, e depois disso, como você comentou, na faculdade, naquela época, estava-se começando a falar de design thinking, um professor ou outro mencionava um livro ali, que você dava uma lida e era totalmente “se você quer, tem que ir atrás”, sabe? E aí no finalzinho da faculdade, eu já estava ouvindo esse burburinho de design thinking, entrava na Amazon, comprava um livro, sentava com alguém e dava uma discutida… E foi justamente no meu TCC que eu tive a oportunidade — você tem meio que a liberdade de fazer um projeto do jeito que você quer, só com uma orientação — e aí eu juntei com a minha dupla e a gente falou “cara, vamos entrar nesse mundo aí, ver o que esse pessoal está falando!”, e aí a gente comprou This Is Service Design Thinking, a gente comprou The Lean Startup, e lia e tentava aplicar no projeto… E no final a gente sabia muito da teoria, apresentamos o projeto, foi tudo muito bem, e eu continuei trabalhando com design digital, aí eu comecei entrando mais, pesquisando, comecei a ler blog, UX Collective, e vai indo… E aí foi quando começaram a se falar mais do profissional de UX Design, e aí eu parei com a minha vida de agência e falei “eu vou atrás disso daí!”, e aí eu me joguei no mundo como Jr, espalhando currículo, e eu falava assim “eu sei a teoria! Esses livros aqui que está todo mundo lendo, todo mundo indicando, eu li!”
Edu: Está tudo aqui! (Apontando para a cabeça e rindo)
Aline: É! “Mas eu nunca fiz isso na prática!”. E aí acabou que eu consegui uma oportunidade como UX Designer Jr, e foi justamente na prática, pondo a mão na massa, que eu absorvi mais coisas, porque era muito doido para mim essa ideia de você fazer testes, de você pesquisar antes de fazer, porque o que eu tinha contato com o mercado de trabalho era muito a toque de caixa, tipo “pega e faz, pega e faz, não questione nada, não tente entender nada”…
Edu: Agência…
Aline: Agência! (Risos) E aí quando eu entrei no mundo de UX, que eu comecei a trabalhar não tanto com produto digital, mas trazer um pouco de UX para a área de marketing, que eu falei “nossa, dá para fazer isso na vida real e dá para ganhar dinheiro com isso, isso não é só teoria do que eu estou lendo nos livros”, e aí sendo UX Designer a gente dividia, uma parte do era fazendo um pouco de UI, fazendo tela, fazendo algumas soluções, fazendo features novas, e uma outra parte, tinha parte de validação e bem pouquinho de pesquisa de exploração, mas aí eu sentia que naqueles 50% que eu estava ali fazendo pesquisa eu estava muito mais empolgada do que nos outros 50% fazendo wireframe, e foi quando eu comecei a investigar e falar assim “não, espera aí, eu acho que eu gosto mais disso!”, e tendo contato com outras pessoas da área, me falaram assim “sim, existe uma pessoa focada, existe uma carreira focada em pesquisa com o usuário!”…
Edu: Que é só isso que você gosta! (Risos)
Aline: (Risos) Eu falei “sério? Não acredito! Então acho que eu encontrei um caminho!”. E aí, há um ano e pouquinho, também igual a Flávia, eu saí de Product Design, que eu trabalhava em uma squad, com desenvolvedor, com PM e tudo mais, e passei a trabalhar só com pesquisa com o usuário.
Edu: Legal. Essa coisa que você falou assim de “trabalhava como UXer e tinha a parte da validação”, normalmente a gente vê nas empresas os UXers que fazem pesquisa sempre já na parte de usabilidade, você até falou “tinha muito pouco de descoberta”, eu sempre falo que o teste de usabilidade é a porta de entrada para drogas mais pesadas na área da pesquisa, a gente sempre entra por lá. Agora, você falou assim “fui contratada como Jr”… Onde você foi contratada como Jr? Tem que falar, porque ninguém quer contratar Jr, então…
Aline: Foi na Escale Digital.
Edu: Ah, na Escale…
Aline: É uma empresa de aquisição, e na época eles não tinham um produto digital deles, eles tinham uma vertente de marketing e aí eles produtos essenciais de outras marcas grandes, então a gente trabalhava muito essa parte de aquisição e conversão em vendas, trabalhando uma utilização de funil, e a gente trabalhava junto com os dois times, tanto de marketing orgânico quanto de marketing pago, tentando entender a parte mais da experiência do usuário em comprar um produto, e aí a gente fazia coisas, a gente fazia entrevista e fazia pesquisa e olhava Hotjar e aí foi entrando, e a gente trazia um caráter mais de experiência, e não tanto só ferramentas de venda, sabe?
Edu: Sim, legal, boa. Flávia, eu também estou com o seu LinkedIn aberto aqui na minha frente. Tem aqui que você se formou em bacharelado em farmácia! (Risos) e que você tem experiências aqui… “Auxiliar de laboratório”, “atendente de farmácia”… Como foi isso de sair da área de farmácia e vir parar também em UX Research?
Flávia: Olha, a minha trajetória não chega nem perto da trajetória da Aline, que era uma área diferente mas já estava um pouco inserida ali… Eu fiz a faculdade de farmácia, e mais assim no finalzinho da faculdade eu cheguei a redigir um TCC mas eu não entreguei, eu deixei com a minha outra dupla, cheguei a iniciar também um projeto de iniciação científica também, na faculdade, pela USP, mas eu não consegui concluir porque a minha professora havia sido demitida e o meu coordenador não deixou eu continuar… Aí eu fiz essa formação em farmácia, a minha vida inteira eu trabalhei em farmácia e em laboratório, principalmente farmácia de manipulação e laboratório de ciências biológicas, e eu estava muito, muito insatisfeita com a área, porque infelizmente no Brasil a área da saúde como um todo é muito precária, não existe valorização… Enfim, isso dá uma conversa bem longa! Eu estava muito infeliz, estava muito insatisfeita, e aí conversando com algumas pessoas muito próximas a mim que trabalham com tecnologia eu fui apresentada, meu irmão virou para mim e falou assim “tem um negócio aí de ‘UX’ que estão falando muito, você não quer conhecer? Você não quer dar uma olhada?”, e aí eu falei “ah, está bem”, e aí eu comecei a dar uma pesquisada, ele me ajudou com alguns materiais… No final de 2018… Mas assim, essa transição era um projeto muito futuro, eu ia terminar a faculdade de farmácia, eu ia começar a estudar… No final de 2018 eu trabalhava em uma farmácia veterinária e eu fui demitida, meu chefe falou “não queremos mais você aqui, um beijo”, e aí meu irmão falou “vai ser agora”!
Edu: Vai que vai! (Risos)
Flávia: É! Mas assim, eu abri mão de tudo! Eu larguei a faculdade, eu larguei tudo, fui fazer o curso de UX e fui assim, tropeçando na área! Eu não tinha conhecimento nenhum de prototipação, nem sabia que era possível fazer pesquisa dentro da área de UX… Era tudo muito novo, muito! Eu lembro que durante cursos eu ficava anotando os termos técnicos, os nomes em inglês, para ficar pesquisando, porque era tudo muito novidade para mim! E aí eu fui indo, fui indo… Caí de paraquedas em uma parceria com a DUX, que viu o meu currículo quando eu comecei a procurar, e “vamos fazer um projeto pequeno”, e foi indo, e eu fui direto para essa área de Research, eu não cheguei a passar por essa experiência de prototipação, de criação de telas, eu fui direto para essa área de pesquisa com o usuário, mesmo.
Edu: Boa. Meu, sensacional! A parte boa é que você não tem que vender Cloroquina para doido hoje, não é?
(Todos riem)
Edu: Mas, meu, é muito legal ver o caminho que vocês trilharam e que vocês passaram, é muito louco ver todo esse processo. Agora, eu queria ouvir de vocês, nessa trajetória de vocês de migrar de área, quais foram as principais dificuldades? Se vocês tivessem que enumerar algumas pedras no sapato que dificultaram vocês, ou que deram mais trabalho, uma hora vocês falaram “não vai dar certo isso”…? O que vocês trariam como principais dificuldades? Jogo para a Aline.
Aline: Hmm, deixa eu pensar… Eu acho que o meu primeiro medo era que, por exemplo, eu trabalhava como Product Designer, então eu olhava as vagas e tinha vaga de tudo quanto é lugar, “UX Designer”, “UX Designer”, e querendo ou não eu, se precisasse eu fazia visual, se precisasse eu fazia tela, se precisasse eu fazia pesquisa, eu estava tipo “ok, segura, não precisei escolher!”, e aí eu lembro que a primeira vez que eu conversei, até, foi com uma antiga gestora minha, a Ana Paula Batista, eu falei “mas… Vai ter vaga? Porque eu vou deixar de fazer três coisas e vou fazer uma coisa só! É meio perigoso isso daí! E se eu ficar desempregada?!”, esse era o meu medo, sabe? Acho que era muito dessa decisão de você falar assim “ok, eu vou olhar para uma coisa só e eu vou ficar muito boa nessa coisa só”, e eu acho que esse foi o meu primeiro receio. E eu acho que o segundo foi já estando na área, foi ter essa confiança de “ok gente, essa pesquisa aqui está falando isso, então bora fazer, eu confio no que eu pesquisei, eu confio no resultado que eu cheguei para estar aqui na frente de vocês passando isso para vocês”, porque é uma responsabilidade! Hoje eu vejo que é uma responsabilidade meio grande, muitas decisões são tomadas em cima de coisas que eu entrego, sabe? Então esse frio na barriga que eu tinha antes — até hoje tenho um pouquinho! — de chegar, terminou a pesquisa, sentar na frente do pessoal e falar assim “ó, toma aqui, é isso aí, pesquisei e assino embaixo!”, sabe? Acho que foi um pouquinho as minhas dificuldades.
Edu: É, a parte de bater no peito e falar “pode ir nisso que eu garanto”, o problema é esse, esse aí… Principalmente para quem está começando, acho que é uma das maiores barreiras. E você, Flávia, como que foi? Em que você sentiu mais dificuldade?
Flávia: Praticamente tudo! Porque eu vim de uma área completamente diferente, é um universo completamente diferente… Apesar de a graduação em farmácia ser completamente fundamentada em pesquisa, porque desde o primeiro até o último semestre a gente vive lendo artigo científico, a gente aprende a pesquisar, a gente aprende a escrever e buscar fontes, é difícil fazer essa intersecção com uma área completamente tecnológica, porque a área da farmácia é uma área muito técnica, é uma coisa que você sabe, e você sabe e ponto final, e se você não sabe? Um beijo! Vai procurar saber! E para mim foi muito difícil demonstrar que eu tinha conhecimento para fazer pesquisa mesmo não tendo estudado as pesquisas que um produto digital precisa. Pesquisa é pesquisa, independente do que você vai pesquisar, os métodos de pesquisa são muito parecidos, você sentar e conversar com um paciente é praticamente a mesma coisa que você sentar e conversar com um usuário, você só vai procurar problemas diferentes… Mas a minha maior dificuldade foi essa, foi de falar “gente, eu sei! Não é porque eu fiz farmácia que eu não consigo me desenvolver aqui! Então por favor, me dá uma chance!”, isso foi muito difícil para mim no começo.
Edu: Você foi muito questionada por isso? “Mas você veio da área de farmácia, o que você está fazendo em UX?”…
Flávia: Muito! Muito, não só questionada, como em alguns processos seletivos eu mal era ouvida!
Edu: E aí você falou outra coisa muito louca, porque talvez você tenha tido, tanto na faculdade quanto na experiência profissional, mais sobre pesquisa do que muito designer que se formou como designer, não é?
Flávia: Exatamente!
Edu: Isso é muito louco, porque você tem pesquisa nas ciências naturais, nas ciências biológicas, nas ciências exatas… Você tem pesquisa nas outras áreas! É claro que o processo, se comparado à nossa ciência do artificial, é um pouco diferente em termos de objetivo, mas o método de pesquisa é muito parecido em muitas coisas! A Aline falou em pesquisa acadêmica também, você também vai definir objetivo de pesquisa, geral, específico, você também vai falar com as pessoas, você também vai usar métodos de conexões, Rapport, você também vai fazer várias coisas, tanto de um lado quanto do outro, não é? Por isso é até meio irônico esse preconceito, porque talvez você tivesse mais base — vocês duas! — tanto da academia quanto da sua área, talvez tivesse até mais base de pesquisa do que muito designer…
Flávia: Sim. Não só de pesquisa também mas na questão, pelo menos no meu caso, da conversa com o usuário, porque durante toda a minha graduação a gente aprende a lidar com as pessoas, porque a pessoa, quanto farmacêutica, lida com pessoas que estão em momentos de dor muito grande, ninguém gosta de estar doente, ninguém gosta de estar com problemas, ninguém gosta de ver o cachorrinho ou gatinho que tanto ama sofrendo, então você aprende muito a ter esse tato, você aprende a ouvir, você aprende a falar com a pessoa da maneira que ela quer ser ouvida, que ela quer ser acolhida…
Edu: É, isso é muito louco, porque até quando eu estou dando aula, às vezes o pessoal que está fazendo aula de pesquisa pergunta “como que a gente faz quando o usuário está sensível, quando ele está em uma situação difícil? Ou quando a pessoa chora, ou ameaça que vai chorar?”, e você já lidava com isso, não é? Porque, querendo ou não, é isso, as pessoas que você conversava nunca estavam em uma situação muito fácil, não é?
Flávia: Não, não mesmo.
Edu: Isso é muito louco. Olha, tem uma pergunta do Renato Cancela aqui, “pergunto: e para quem já tem mais tempo de estrada? É fácil migrar? Afinal, ‘cachorro velho aprende truque novo’?”. O Renato acabou de ganhar uma vaga no curso Formação em UX Research lá no sorteio do Experiência Observe 2020, ontem, então logo logo a gente vai estar trocando mais ideia aí, Renato! O Renato vem da área de pesquisa de mercado, e acho que ele tem 20 anos de experiência nessa área… E aí, dá para migrar já tendo muito mais tempo? Porque, querendo ou não, vocês migraram mas ainda no começo, não é? Foi quase como se tivessem pego um atalho errado e voltassem por um outro caminho. Agora, como será para quem já está há tanto tempo no mercado? Vocês se depararam com pessoas nessa situação? O que que vocês acham?
Aline: Eu acho que sim, na minha opinião super dá, no meu próprio time mesmo, hoje, a gente tem a Mari — beijo, Mari! — ela vem de um histórico de pesquisa de mercado gigantesco, ela tem uma bagagem gigantesca, e agora ela resolveu migrar para trabalhar com pesquisa com o usuário, então ela começou a fazer cursos, ela fez os cursos de UX da Mergo, começou a entrar e agora ela está com a gente, e por exemplo, hoje, no dia-a-dia — eu sou uma dupla com ela, a gente troca bastante — ela me traz muita coisa de pesquisa de mercado e eu trago a coisa de design, e a gente vai trocando, sabe? Porque, querendo ou não, o design só bebe ali na fonte de como você faz a pesquisa, o conceito de pesquisa, igual vocês falaram, é o mesmo, só que você adapta para a questão de “eu vou testar uma tela”, ou “eu vou entrevistar uma pessoa”, você usa uma metodologia diferente, você coloca um termo em inglês para aquele mesmo processo que todo mundo já fazia há muito tempo, sabe? Então eu acho que assim, tanto que a Flávia comentou, que ela tinha esse caráter muito mais técnico da pesquisa, e aí quando eu fui entrar para a área de Research, eu tive que ir atrás de novo de ir para esse lado mais técnico de pesquisa, acabei indo fazer alguns cursos, para entender amostra, para entender o que é estatística, para entender o que é população… Porque apesar de eu ter vindo de design, essa parte em que a pesquisa com o usuário se baseia bebe dessas fontes técnicas, então eu não podia passar por cima disso, então para mim foi essencial eu dar um passo para trás para entender a parte técnica também, e trazer um pouco da parte mais… Fazer um cruzamento entre qualitativa, o design é muito baseada em qualitativa, mas eu também precisava daquele apoio mais quantitativo, que a pesquisa técnica tem, e aí eu tive que ir atrás para balancear um pouco e conseguir tocar as coisas. Mas eu acho pesquisa de mercado… A galera de pesquisa de mercado tem muito a agregar sim, e a gente aprende muito com eles também.
Flávia: E assim, tem que levar em consideração também o que ele considera muito tempo de mercado! Porque eu trabalhei com farmácia durante dez anos da minha vida, eu vivi a farmácia, eu respirava farmácia, eu considero um tempo bem considerável, dez anos, você abrir mão… Mas super dá, e só depende da disponibilidade e da vontade da pessoa, porque não é fácil, nada é fácil, mudar assim radicalmente não é fácil, você vai encontrar muitas frustrações, você vai ter muito medo, vai ser tudo muito mais difícil, você está em um mercado que é muito competitivo, que está crescendo muito, mas dá. Se essa for a sua vontade, super dá.
Edu: Legal. É, a gente vê não só da pesquisa de mercado, a gente vê profissionais que vêm da antropologia, profissionais que vêm da psicologia, profissionais que vêm de pesquisa em outras áreas e que já têm essa expertise de contato, vem da pesquisa acadêmica, e que faz uma adaptação daquele conhecimento que tem, dá uma viradinha de chave ali em alguns quesitos, mas é isso que a gente falou, muita coisa vai ser em comum para isso. Vocês tiveram alguma pessoa que serviu para vocês como uma espécie de mentor? Que ajudou a direcionar vocês nesse processo? Quem que mais ajudou vocês nisso?
Aline: Eu tenho! Ela é um pouquinho famosa, vocês devem ter ouvido já o nome dela (risos), é a Diana.
Edu: Diana o quê?
Aline: Diana Fournier, conhece? (Risos)
Edu: Diana? (Edu faz cara de confuso e depois ri)
Flávia: Quase ninguém conhece! (Risos)
Aline: (Risos) quando eu fui migrar, que eu saí de Product Design para virar Researcher, ela entrou na Escale também, na mesma época, e eu entrei para o time dela, fui a primeira pessoa do time dela, de um time fundado. A empresa estava crescendo, a área de produtos também, e além do time de design eles criaram um núcleo dentro do time de design, que era só dos designers pesquisadores, então quando a Diana entrou eu fui a número 1 de mentoranda dela, e ela é uma inspiração para mim, eu já acompanhava os artigos, eu tinha feito o curso da Mergo e ela deu aula, então ela já era alguma coisa a se espelhar, e ela foi muito um exemplo de “olha só o quanto você consegue ir para frente focando em uma coisa só, se tornando referência em um assunto para tantas pessoas, e repassando conhecimento, ajudando”… Eu pude trabalhar ali do lado, sentadinha do lado dela, tipo “como é que você faz isso? Como é que você fez tal coisa?”, para mim foi muito gratificante poder acompanhar com alguém que já é uma referência, e eu vou seguindo os passos dela.
Edu: Ótimo, ótimo, ótimo… E você, Flávia?
Flávia: Bom, como eu já tinha citado, o meu irmão foi uma catapulta para mim, foi o que começou. Ele é programador, ele não é da área, mas ele foi o estopim para meu início. Eu já realizei, tive o prazer de realizar um trabalho com o Pipo Magalhães…
Edu: O Eurípedes…
Flávia: Isso. Talvez algumas pessoas o conheçam…
Edu: Eurípedes Magalhães, ou “Pipo”. Mais conhecido como Pipo.
Flávia: Mais como Pipo (risos). Tive o prazer de efetuar alguns trabalhos com ele também, alguns trabalhos temporários, e hoje, por ter um contato muito maior com as meninas da DUX, a Mariana, a Thaís Martinho, a Melina, são mulheres incríveis, de conhecimentos incríveis, eu me espelho bastante nelas e tento sugar o máximo que eu consigo delas, porque elas são demais.
Edu: Ah, o pessoal da DUX… Melina (Edu faz um coração com as mãos) é muito amor!
Flávia: (Faz um coração com as mãos)
Edu: Eu gosto muito de todo mundo que vocês falaram, eu acho que é sempre importante ter quem te direcione, quem te ajude a te dar uma direção. Acho até que nesse momento de pandemia cresceu bastante isso, não é? Pessoas se disponibilizando a dar mentorias, vocês tiveram a possibilidade de trabalhar com essas pessoas, mas hoje tem muita gente até se disponibilizando em dar mentoria, compartilhando sua própria agenda para a galera marcar ali, trocar uma ideia… Acho que essa direção de quem já está na área às vezes contribui muito para o nosso processo. Tem uma perguntinha de uma moça que eu não sei quem é ela direito… (Risos) Olha a Diana aí, perguntando “o que vocês levaram das experiências antigas para a nova?”. A gente começou a falar do que a gente começou a buscar de conhecimento para migrar de área, mas o que vocês trouxeram do que vocês tinham antes e usam hoje no trabalho? Alguma coisa?
Flávia: Para mim a empatia. Sem dúvidas. Era uma coisa que a gente já trabalhava muito, eu atendia pessoas em situação de rua, em feiras de saúde, e você não pode fazer cara feia, você não pode torcer o nariz, e você tem que atender aquela pessoa suja, aquela pessoa pessoa que só quer conversar, aquela pessoa que só quer uma atenção, um carinho, então essa é a principal característica e a principal experiência que eu preferi não abrir mão e continuar trabalhando cada vez mais, porque eu acho que quando você lida com pessoas, independente de você estar falando de um aplicativo ou de você estar falando de um problema de vida dela, você tem que ter esse cuidado, essa empatia, esse tato, então essa é uma coisa que definitivamente eu não abro mão.
Edu: Ótimo.
Aline: Eu acho que da minha parte, principalmente se olhar para a parte de design, muito do que eu tive na faculdade, do visual, foi muito traduzir o que eu estou pensando de outras formas, não só no formato de texto, não só no formato de um relato, ou falando… Então acho que o que eu consegui trazer da minha experiência antiga… Cheguei em um insight, em uma conclusão: em vez de eu escrever um parágrafo sobre isso, eu vou representar isso graficamente, eu vou fazer uma imagem, eu vou fazer um fluxo, eu vou fazer um vídeo… Isso é uma das coisas que acaba me ajudando e que eu tento carregar e até de vez em quando voltar lá para dar uma estudada, dar uma atualizada e não deixar se perder isso do design, de conseguir traduzir o que está na minha cabeça, que para mim faz total sentido, mas ser didático para passar para as outras pessoas para que elas entendam aquilo, porque muito do nosso trabalho é entender algumas coisas, ligar alguns pontos e passar para as pessoas, só que as pessoas também precisam fazer essas ligações e ligar esses pontos, então como é que eu faço para trazer da melhor forma possível algo que está na minha cabeça mas levar para as pessoas também, sabe?
Edu: Legal, ótimo, bons pontos. Uma coisa que eu queria saber, a gente já falou do que vocês trouxeram das experiências anteriores, e isso que você falou, Flávia, acho perfeito, porque querendo ou não, a conexão empática, acho que é uma das principais qualidades que a gente tem que desenvolver, realmente, para trabalhar com pesquisa, e no episódio passado a gente estava até falando de pessoas que trabalham na área de atendimento e vêm para a área de pesquisa, o quanto de bagagem elas trazem… Então acho que isso é ótimo. E a gente falou aqui um pouco do que vocês trouxeram, do que vocês tinham, para a área de pesquisa, quem ajudou vocês de alguma maneira, agora, que recursos que vocês buscaram para se aprofundar em pesquisa? Porque querendo ou não, tem isso que a gente falou, na faculdade de design, ou até em outras faculdades, tirando aquelas que são próprias para você se tornar pesquisador, como a antropologia, mas em todas elas você acaba tendo um pouco sobre pesquisa, mas nunca o suficiente para você se tornar um pesquisador, e vocês, evidentemente, nesse processo de migração, tiveram que buscar muito mais conhecimento sobre pesquisa. Onde vocês foram buscar isso? Algum livro de referência, algum canal? Onde vocês foram atrás? E deixem dicas também do que vocês encontraram de legal! Começando pela Flávia, agora, vou direcionar.
Flávia: Eu sou o tipo de pessoa que sou autodidata, curiosa, então a minha maior fonte de pesquisa, de material, de instrução, sempre foi o Google — claro que tomando os devidos cuidados, de ler um artigo e saber quem escreveu, quem é essa pessoa, quanto tempo ela tem de mercado, se ela sabe realmente do que ela está falando ou não… Mas a minha maior fonte sempre foi o Google, desde “como aprender a pesquisar” até pesquisas específicas, fontes específicas que eu preciso, isso é muito desde sempre. Então você consegue encontrar, ainda mais assim, quando eu comecei a minha migração e eu estava desempregada, eu não tinha recursos financeiros, eu tive que começar a procurar blogs, a procurar materiais gratuitos na internet, no LinkedIn, no Google, ir atrás disso, e assim eu vou fluindo desde sempre. E aí comprei um curso aqui da… A Udemy é uma plataforma que para mim ajudou muito, inclusive porque ela tem aquelas semanas de saldão, que faz vários cursos por R$30, e isso ajuda demais! (Risos)
Edu: Na promoção você já leva a banca de cursos, não é? (Risos)
Flávia: Exatamente! E dava para entrar lá e comprar três, quatro cursos de uma vez… Então eu sempre pesquisei muito assim, eu sempre fui muito atrás de informação assim.
Edu: Legal.
Aline: É, da minha parte, acho que eu comecei por uma parte mais autodidata sim, mas acho que depois que eu comecei a ficar um pouco mais velha eu fiquei meio preguiçosa nessa parte autodidata (risos), eu tive que recorrer a alguns cursos, mas assim, é muito da curiosidade de saber… Eu tinha muito empresas como referências, então eu sabia que em tal empresa tinha um time de pesquisa e era um time de pesquisa que funcionava, e aí eu ia atrás, “como que funciona o time de pesquisa do Spotify? O que eles fazem? Quais são os cases deles?”, acho que era mais esse tipo de conteúdo, mais prático, que me chamava mais atenção para ler, para saber como é que funciona, como que eu poderia fazer, sabe? Então eu acho que uma parte foi muito… Lendo esses cases, lendo o pessoal que fez alguma pesquisa e entregou, coisas do tipo, então o início foi mais dessa forma, trazendo essa curiosidade mesmo, e uma outra parte foi muito “ah, eu tive que ir lá fazer cursos”, então eu fiz alguns da Udemy, principalmente para conhecer as metodologias de pesquisa, de design, e uma outra parte foi muito de tipo, ir mesmo fazer cursos dessa parte que eu sentia mais falta, que era justamente a parte mais quantitativa e teórica da pesquisa, então eu fiz alguns cursos rápidos em institutos de pesquisa de mercado, mesmo.
Edu: Algum que vocês recomendam?
Aline: Eu recomendo o que eu fiz, mas eu não lembro o nome! (Risos) Eu vou dar uma procurada e mando, é um curso de pesquisa.
Edu: E você, Flávia, algum? Eu quero ouvir recomendações de vocês, algum livro que vocês leram que vocês falam “isso aqui que eu li mudou o que eu estava fazendo”, ou “esse curso que eu fiz”… Inclusive tem perguntinhas do pessoal um pouco sobre isso, a Sheylla está perguntando “quais cursos vocês fizeram durante a migração?”, vocês já falaram que fizeram mas não lembram exatamente… Você lembra de algum, Flávia, que você fez, desses da Udemy? Ou algum outro que vocês fizeram que contribuiu nessa parte de pesquisa?
Flávia: Os cursos, especificamente, eu não lembro, mas com quem eu mais estudei foi o Leandro Rezende do UX Unicórnio, ele tem cursos incríveis…
Edu: Sim, ele tem vários cursos lá no Udemy, não é?
Flávia: Sim, cursos desde esses acessíveis de 30 reais até uns mais completos, mais caros, então eu recomendo muito o material dele, foi uma das pessoas que eu mais estudei, o Daniel do UXNow — eu nunca lembro se é Daniel ou se é Danilo, mas eu acho que é Daniel…
Edu: Daniel Furtado.
Flávia: Isso! Do UXNow, também, tem um material muito legal no YouTube… São as pessoas que eu mais acompanho, e das que eu conheci, são os cursos que eu mais busco. Normalmente eu busco por cursos de pessoas, e não títulos de cursos.
Aline: Da minha parte, de metodologias, de design, eu fiz o da UX Unicórnio, então era bom para entender o processo inteiro, e aí de pesquisa, focado — eu dei uma pesquisada aqui no Google, rapidinho, eu achei — eu fiz cursos na ABEP, que é a Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa, e aí eles trouxeram muito esse lado mais técnico e teórico, de amostra, população, estruturação de questionário para grandes públicos, eles falam um pouquinho dessas empresas de pesquisas maiores, tipo o IBOPE e como que funciona, então eu trouxe mais esse lado técnico e combinei com a parte um pouco mais prática que eu já tinha mais do UX, no geral, que me trouxe.
Edu: Legal, boa. Eu queria ouvir um pouco do processo de vocês, inclusive eu tinha colocado uma da Andréa, sem querer, antes, mas a pergunta é agora: “por onde começa uma pesquisa?”. Como vocês começam o processo de trabalho de vocês hoje? Eu sei que cada lugar que a gente trabalha tem um processo diferente, mas na cabeça de vocês, ao começar uma pesquisa, como que é? Aline.
Aline: Pra mim, eu sempre aprendi, e tem dado muito certo até o momento, a focar na pergunta principal, no que você quer responder, e não só no que você quer responder, mas fazer a pergunta certa, então às vezes você tem um problema ou às vezes você quer descobrir alguma coisa, mas você precisa fazer o tipo de pergunta certa para chegar no que você precisa, então às vezes é uma coisa mais quantitativa, então a sua pergunta tem que ter alguma coisa que te indique que você vai chegar em um resultado quantitativo. Agora, se é alguma coisa mais qualitativa, a sua pergunta tem que vir com “por que?”, tem que vir com “como?”, então eu acho que uma pesquisa começa com você fazer uma pergunta, e você fazer a pergunta certa.
Edu: Ótimo.
Flávia: Concordo plenamente, toda pesquisa vai começar com uma dúvida, com uma suposição, com uma hipótese, com um problema, e em resumo, uma pesquisa é você querer resolver ou trazer respostas para alguma coisa, pode não ser necessariamente um problema, mas você supõe que alguma coisa aconteça e você tem que buscar os seus meios para dizer que sim ou dizer que não.
Edu: Legal. O Arthur deixou um comentário/pergunta aqui, a gente estava falando da acadêmica, e ele está falando “a pesquisa acadêmica pode ser solitária”, isso eu já ouvi de bastante gente que trabalha com pesquisa acadêmica, “onde parte dos insights são individuais ou no máximo incluem os orientadores. Como foi a transição para pesquisa em UX, com o envolvimento dos stakeholders?”. Como foi para vocês trabalhar com pesquisa envolvendo essa galera toda de uma vez?
Flávia: Para mim foi mais fácil (risos).
Edu: Ah, é?
Flávia: É, porque eu já vim desse ponto de a pesquisa acadêmica ser solitária. Quando eu iniciei o meu projeto de iniciação científica, que foi aquele que não deu certo… Normalmente quando você faz um projeto de iniciação científica dentro de uma área, vou dizer da área da farmácia porque é o meu conhecimento, você é sozinho, no máximo, de fato, seu mestre, ou seu orientador, ou seu doutor que vai te guiar, mas a sua pesquisa é sua pesquisa, você no máximo divide ela com duas pessoas, muito raramente é uma pesquisa de um grupo muito grande. Então, a mim, ter mais pessoas, que tragam visões diferentes e virar uma equipe foi mais fácil, porque às vezes você fica tão enviesado em tentar responder uma coisa e você bate tanto em uma tecla que você não enxerga os outros pontos, e essa revisão de outras pessoas é muito importante para uma pesquisa.
Edu: A gente diz que isso é o que ajuda a tirar o viés, porque todo mundo tem um viés, não tem jeito, todo pesquisador tem. Eu sempre falo que metade do resultado da pesquisa é a pessoa pesquisada, e metade é o pesquisador, não é? Tem um viés, e acho que o que ajuda a diluir o viés é justamente isso, você poder compartilhar e diluir com uma equipe.
Flávia: Sim.
Edu: E para você, Aline?
Aline: Da minha parte eu acho que foi mais um desafio, porque apesar de o processo de UX já envolver bastante stakeholders dentro do processo, você o que você pega, o que você faz, e depois você tem ali um contato até mesmo com… de tecnologia para o desenvolvimento de um produto, a parte de pesquisa, pelo menos do Product Designer, às vezes ela é meio solitária, às vezes ele vai lá, faz, volta, aí ele aprende aquilo e já aplica, então era um pouco mais solitário, absorver o insight era muito mais fácil, porque bom, fui eu mesma que fiz, estava lá em contato com o usuário, então beleza, quem precisava absorver e aplicar aquilo já estava ali no processo! Só que agora na parte de UX e pesquisa você está fora do processo e você precisa que as pessoas que estão ali dentro entendam, sabe? Então para mim foi muito um esforço, é um alinhamento contínuo, tanto de você estar tendo a mesma percepção do problema que eles, então rola ali um pouquinho de empatia, e de na hora que você (disser) “ok, chegamos em alguns resultados”, você apresentar isso para eles de uma forma que eles também entendam, entendendo também o contexto deles, porque eles às vezes estão mais imersos no problema do que a gente, e fazer com que eles liguem os mesmos pontos que você, sabe? E uma coisa que a gente tem, uma das coisas que a gente consegue fazer, é tentar envolver eles desde o começo, tipo, no planejamento, faz uma dinâmica de alinhamento, tenta trazer eles para a pesquisa, pô, está rolando uma entrevista? Traz os stakeholders para ficarem como observadores, e isso de eles estarem ali, estarem acompanhando o processo, torna mais fácil essa relação, eles vêem a importância, eles vêem o tempo que leva… Eu gosto muito da parte interdisciplinar, a parte de cocriação, porque você começa a trazer pessoas de áreas diferentes, pessoas com backgrounds diferentes, e tudo no final acaba ficando mais rico do que se você pega a pesquisinha, vai para o cantinho, faz traz o resultado, sabe? Então para mim foi um desafio ter tanta gente mais envolvida, principalmente na parte de “agora que eu sou uma porta voz de alguns resultados eu preciso passar isso de alguma maneira clara, e para passar isso de uma maneira clara eu também preciso entender um pouco do cenário das pessoas para quem eu vou passar o resultado estão”, sabe?
Edu: Legal demais. Eu vou trazer aqui algumas perguntinhas. A Mara está perguntando dicas de leitura. Vocês têm alguma dica específica? Um livro, ou um artigo, ou qualquer coisa que vocês lembram de ter lido especificamente, que lembrem o nome — ou que não lembrem! — ou um blog em específico…
Flávia: Olha, especificamente… Eu vou ficar te devendo essa resposta! Porque assim, como em questão de metodologia de pesquisa, de trabalho, não foi uma coisa que mudou muito para mim e eu sou muito defasada em outras áreas, então acabei focando mais em estudar outros aspectos do UX, apesar de hoje trabalhar com Research, mas eu preciso conhecer todas as etapas, todos os processos, e como isso era uma coisa que me faltava bastante dentro de todo o meu histórico profissional, eu acabei tentando entender outros pontos, então eu não vou saber responder.
Aline: De dicas de leitura, de pesquisa em si eu não sei, acho que eu não tenho nada muito em mente, mas eu tenho alguns livros que me acompanharam e me ajudaram a chegar em como eu construo as coisas, eles servem como construtivos. Um deles é o Isto É Service Design Thinking, ele é meio que um dicionário, às vezes eu estou com algum problema, eu preciso resolver, e aí eu vou lá e consulto, é um livro basicamente com várias metodologias pequenininhas, como se fosse um cardápio…
Edu: E você vai consultando…
Aline: É, eu sempre vou consultando, às vezes eu estou com um problema de pesquisa que eu preciso resolver, ou um cenário que eu preciso entender, aí às vezes eu não estou fazendo nada, eu dou lá uma zapeada nele para ter um insight, alguma ideia de alguma pesquisa. o The Lean Startup também é bem bom, porque às vezes você fica muito preso à parte técnica de pesquisa, e aí às vezes você acaba não conseguindo aplicar isso, eu acho que isso é um desafio, principalmente quando você vem de outras áreas, você não consegue aplicar a pesquisa de forma ágil, dentro de um time de produto digital por exemplo, tudo é muito rápido, tudo muda muito rápido, então essas leituras de processos ágeis eu acho que ajuda bastante, que aí você tenta trazer um olhar tipo “ok, essa é a parte do processo de pesquisa, essa é a parte técnica da pesquisa, como que eu consigo trazer isso e aplicar dentro de um contexto mais ágil?”, e você entendendo todas as metodologias ágeis e esses processos fica mais fácil.
Edu: Você citou bem o The Lean Startup, e eu gosto de falar dele, o The Lean Startup traz aquela coisa da aprendizagem validada, você vai aprender enquanto você pesquisa. Eu sempre falo que o processo de pesquisa é um processo de aprendizado, e ele traz muito o conceito de sair do prédio, ele fala “você não vai aprender as coisas sobre o seu produto no seu escritório, você vai aprender fora!”, e eu acho importante isso, não necessariamente a gente tem que buscar só livros específicos sobre pesquisa, mas principalmente em um contexto do dia-a-dia de trabalho, acho que a parte mais difícil não é nem a gente aprender um método de pesquisa, mas conseguir convencer as pessoas da importância, então quando você pega um livro como o The Lean Startup, que reforça — é um livro de negócios — mas que reforça a importância de “olha, seu negócio só vai ter sucesso se você validar com as pessoas que vão usar”. Nesse sentido, eu estou curiosamente com esse aqui na minha mesa também, que é o Do Sonho à Realização em 4 Passos — 4 Steps Before the Epiphany — do Steve Blank, que é o cara que inventou o termo “Lean Startup” — o Eric Ries, que escreveu o livro, era um pupilo do Steve Blank — e nesse livro ele fala do processo de customer development, o desenvolvimento do cliente, e aí tem a etapa do customer discovery, como você vai descobrir o seu cliente… Eu acho que esse é um livro super interessante, ainda mais para quem trabalha em contexto de startup, são coisas essenciais. Só para recomendar mais dois, também, tem o livro UX Research, que é da editora O’Reilly, em inglês, mas eu acho que ele é um livro muito bom para quem lê em inglês… Eu tenho muito livro que não é de pesquisa em design, é esse negócio que a gente estava falando, pesquisa tem a base da pesquisa que independe se é para produto ou não. Tem um livro que eu tenho até aqui no Kindle, que é o Técnicas de Pesquisa, da Marina Marconi e da Eva Lakatos, eu acho esse livro muito bom, é em português, fala de pesquisa, pesquisa, não necessariamente de UX Research, mas eu acho que é uma boa base para a gente começar a consumir a literatura sobre pesquisa.
Aline: E logo logo vão lançar o livro UX Research Com Sotaque Brasileiro.
Edu: Isso, isso, isso! Duas das três autoras já passaram aqui! A Denise Pilar foi a última que passou aqui, a Cecília ainda vai passar, a Elizete esteve no nosso primeiro Papo Qualitativo aqui. O livro UX Research Com Sotaque Brasileiro está para sair, já, se vocês procurarem no Google vocês pegam mais informações. Fica uma grande dica aí, porque vai ser um livro em português sobre o contexto brasileiro! Porque muito do que a gente tem de contexto de pesquisa a gente pega muito livro em inglês mas que está falando de um contexto de pesquisa em uma outra cultura… Eu acho que ter um livro escrito em português, escrito no Brasil, dado o nosso contexto, eu acho que vai ser bastante relevante. Já anotem aí, quem está assistindo, UX Research com Sotaque Brasileiro. Deixa eu ver aqui mais perguntas… A Carol está perguntando aqui, “quando vocês decidiram de vez migrar de área”, eu não sei se teve um ponto em que vocês decidiram “agora eu vou migrar”, não é? É uma coisa meio progressiva, mas “quando vocês decidiram migrar de vez, qual foi o primeiro passo de vocês?”.
Flávia: No meu caso foi a minha demissão! (Risos) Eu fui demitida da farmácia, e aí o que era um plano para o futuro, o que eu queria fazer a longo prazo e de uma forma mais fluida foi um tapa na minha cara, falou “Acorda, vai! É agora! E se não for agora, não vai ser nunca mais!”, então quando eu fui demitida eu falei “agora eu vou ter que investir e ir para cima!”, e comecei do zero e fui.
Edu: Momentos de demissão são ótimos para a gente virar a chave, não é? (Risos)
Flávia: São, pior que são.
Aline: Da minha parte não foi tão do dia para a noite, eu sentia, como eu comentei, uma afinidade maior com a parte de pesquisa do que eu fazia, mas eu ficava ali na parte de pesquisa de validação, e eu acho que o primeiro passo realmente foi abrir o escopo de pesquisa, porque eu focava muito só nas pesquisas de validação, e aí eu falava assim “já que eu quero seguir para essa outra área, agora eu preciso diversificar o tipo de pesquisa que eu faço”, então enquanto eu ainda estava como Product Designer, eu tentava de certa forma olhar mais para o inicio do produto, então quem é o usuário, pesquisas mais holísticas, digamos assim, e aí virou a chave quando o time de pesquisa começou a rodar, eu falei “ok, agora eu não mexo mais com isso!”, e aí eu fui trabalhar só com pesquisa com o usuário, e aí eu participei de duas pesquisas bem grandes para identificar quem era o usuário de alguns tipos de produto, entender contexto, entender cenário, sair um pouco mais da área de validação e abrir o olhar para todo o leque de possibilidades de pesquisa com o usuário que a gente tem.
Edu: Boa. Deixa eu ver mais alguma pergunta aqui… Olha a Sheylla de novo, está perguntando para vocês “quanto tempo demorou a migração de vocês?”, desde esse primeiro passo de vocês até vocês se estabelecerem e dizerem “eu sou UX Researcher”.
Flávia: Para mim foi… Olha, vamos lá, vamos montar uma linha cronológica aqui, porque também não tenho isso no papel, mas em novembro de 2018 eu concluí o curso de formação da Mergo em UX, foi um intensivão, e eu comecei efetivamente, quando eu comecei o meu primeiro projeto, a trabalhar com isso, que foi até um projeto de recrutamento, já foi mais voltado para ingressar nessa área de pesquisa… Em novembro de 2018 a gente concluiu o curso, entre o finalzinho de junho e comecinho de julho eu comecei a trabalhar efetivamente, e assim, para mim, eu comecei a trabalhar, eu já sou aquilo, então para mim foi mais ou menos esse tempo.
Aline: Da minha parte eu acho que… Não sei! (Risos) Eu não consigo medir muito bem! Mas assim, falando pessoalmente, acho que a partir do momento que eu fui para o time, beleza, eu migrei e ponto, mas eu me ver, ter ali uma certa confiança, acho que foi uns 6 meses, e ter feito pesquisas que antes como designer eu não fazia, então ter saído da parte do final do diamante, do delivery, e explorar um pouco mais ali, de entender contextos, de fazer pesquisas em profundidade… Às vezes você fazia entrevista sempre muito focada em um problema pontual, e para eu me sentir como “ok, migrei, agora eu entendo e domino”, foi muito experimentar esses outros pontos da área, ir para essas pesquisas mais amplas, essas pesquisas até mesmo de estratégia, começar a olhar para tendência também, porque às vezes como designer você está ali muito focado no seu produto, focado no seu problema, aí você resolve e vai fazendo, e eu pude dar um passo para trás e olhar, fazer pesquisas holísticas, começar a acompanhar tendências, começar a cruzar outras fontes de informação, olhar mais para o futuro, teoricamente, então “está rolando tal coisa no Brasil, isso vai envolver a economia e isso vai mudar o comportamento X e lá no final isso interfere em como os nossos usuários estão consumindo tal coisa”, então foi ampliar um pouco mais o meu olhar e falar “ok, experimentei todas as pontas que o pesquisador pode encostar dentro do processo de pesquisa com o usuário”, então acho que foi quando eu me senti um pouco “ok, migrei, agora estou ciente”.
Edu: Legal! A Camila deixou um comentário aqui: “pesquisa é muito mutável, às vezes você vai usar uma parte da pesquisa para uma validação pessoal, às vezes você vai o processo completo, quantitativa, qualitativa, entrevista em profundidade e outras etapas”. Isso acontece muito, principalmente no contexto das empresas de tecnologia, que às vezes você tem um tempo ali para fazer uma pesquisa e desenvolver um projeto de pesquisa bem estruturado, completo, mesclando métodos, e às vezes você tem aquela coisa muito pontual, “tem aqui um protótipo, é um teste de usabilidade, toca o barco”, ou “tem aqui, vou fazer uma surveyzinha só para tirar o insight”. Acontece isso muito com vocês, de às vezes não conseguir montar um projeto de pesquisa completo, às vezes atuar em um único método ou alguma coisa muito pontual que vocês sentem que ficou faltando informação, dado para estruturar coisas? Contem um pouquinho da experiência de vocês. A Aline primeiro.
Aline: Eu acho que isso tem muito a ver quando você está, principalmente, dentro de startup, o produto tem prazos, você está ali dentro de uma esteira de produção na qual você precisa entregar, e você é meio que o começo da linha de produção, então assim, o que eu tento fazer é, por exemplo, não me apegar a mini detalhes técnicos, mas claro, você tem que manter uma certa confiança no que você vai entregar, você precisa de um mínimo de respostas, você precisa de um mínimo de dados para aquilo ser confiável. A partir do momento em que eu preciso de certa forma reduzir ou espremer, de alguma forma, o meu processo, você tem que também deixar claro “ok, eu precisava fazer esse e esse método, eu fiz só isso, então eu estou te entregando um resultado com 70% de confiança, e aí parte de você que vai pegar isso continuar ou não”, porque, uma coisa que eu até comento com as pessoas, você pode fazer um produto e partir do zero, “não sei nada sobre o meu usuário e vou criar um produto”, beleza, ou você pode fazer uma pesquisa antes, de certas formas, e partir dos 50%, partir dos 70% de informação, sabe? Então acho que é muito do pesquisador ter também esse jogo de cintura de saber “ok, eu vou fazer uma pesquisa e vou tentar de certa forma encaixar ela dentro desse contexto que eu estou, que é um contexto mais ágil, mas sem abrir mão de uma confiança”, porque querendo ou não você vai assinar por aquilo, pessoas vão usar aquilo que você trouxe, então você não pode também abrir mão da confiança da sua pesquisa.
Edu: Legal. Flávia, quer comentar também?
Flávia: Assim, os processos são diferentes, não é? Eu, por ser independente profissionalmente hoje, eu tenho o que seria uma parceria fiel com a DUX, mas na DUX o trabalho é muito dividido, as meninas equilibram muito a equipe, elas dividem em muitas etapas. Hoje eu atuo com a observação de testes, então eu não participo do princípio, da pesquisa, eu estou ali mais em contato com o usuário, mais em contato com os testes, analisando dados, e aí eu entrego para a moderadora os dados que eu coletei e ela monta… Então talvez eu não tenha tanta propriedade para falar por conta disso, porque todo o processo funciona diferente.
Edu: Sim, é mais uma equipe com papéis divididos, não é?
Flávia: Isso.
Edu: Eu sei que lá ná DUX cada um cuida da sua partezinha, e junta todas as pecinhas depois e a coisa flui linda.
Flávia: Sim, é bem segmentado lá.
Edu: Boa. São muitos contextos diferentes, em cada empresa a gente vê um contexto muito diferente, como funciona, a gente sai de uma empresa e entra em outra e é uma coisa completamente diferente… Às vezes o pessoal pergunta assim “qual que é o caminho das pedras para fazer…”, meu, depende muito do seu contexto! Eu não sei como é a sua empresa, como são as pessoas, a equipe, se tem outras pessoas de pesquisa ou não, se as que tem e não são de pesquisa entendem o que é pesquisa… Então inevitavelmente a gente precisa primeiro entender o nosso contexto para poder pensar em como agir, em como fazer depois. Pessoal, a gente já chegou aqui às 20h02, a gente já passou dois minutinhos do nosso horário, é sempre chato terminar… Mas enfim, a gente poderia conversar por muito mais tempo contando experiências de vida sobre isso, mas eu queria muito agradecer Flávia, Aline, por vocês dedicarem o seu tempinho aqui para falarem um pouquinho da experiência de vocês, eu acho que a parte mais rica que a gente tem é justamente o compartilhar de experiências, eu acho que contar um pouco da nossa história sempre ajuda as outras pessoas a construírem as suas próprias histórias, então isso é sempre muito rico, agradeço muito vocês. Quero agradecer a Karen que está aqui mais uma vez ajudando a gente, minha companheira fiel de todo Papo Qualitativo. Quero agradecer a todos vocês que estão assistindo a gente aqui no Facebook, no YouTube, no LinkedIn, no Twitter, agradecer a todos vocês que mandaram perguntas e comentários, infelizmente não dá para a gente colocar a pergunta de todo mundo aqui, mas como eu sempre falo: estamos todos a um clique de distância! Então se conectem conosco, vamos conversando, vamos tornar essa conversa mais ativa para além desse programa aqui. Galera, muito obrigado! Uma boa sexta-feira para vocês, um bom fim de semana e até o próximo Papo Qualitativo. Tchau tchau!
Flávia: Tchau! Um beijo!
Aline: Até mais!