Palestra da Ana Cuentro apresentada na Design & Experience 2019 (#DEXCONF19) que aconteceu nos dias 26 e 27 de julho na Bienal São Paulo.
Seguindo a nossa série de posts com os conteúdos apresentados na #DEXCONF19, venho trazer o podcast + transcrição e slides da palestra “Constrangimento positivo: uma reflexão sobre hábitos e acessibilidade” com a Ana Cuentro, que é Product Designer no QuintoAndar.
https://soundcloud.com/dexconf/constrangimento-positivo-uma-reflexao-sobre-habitos-e-acessibilidade
[Início da transcrição]
Antes de começar a apresentar a palestra, a Ana Cuentro se comunicou com a platéia apenas usando LIBRAS (língua de sinais), e dessa forma nenhum participante ouvinte entendeu o que ela dizia. A partir disso, ela seguiu com a fala que abaixo se segue.
Ana Cuentro: É, pois é. Eu entendo essa dificuldade, às vezes eu enfrento essa barreira. É meio complicado, né, mas… É um pouquinho. Acabei de falar em Libras pra vocês, são reflexões pra vocês pensarem um pouco seus hábitos, tentar gerar constrangimentos, pensar em acessibilidade, algo que está atrelado à deficiência.
Vou falar um pouco sobre a minha pessoa para vocês entenderem como é o meu perfil. Sou mulher, pessoa com deficiência, surda, oralizada. Sou ciborgue, haha, é brincadeira. Na verdade eu sou usuária de implante coclear, advogada da acessibilidade, fluente em Libras, designer. Meu nome é Ana Cuentro. Meu sinal é esse ????.
Eu vou explicar um pouquinho sobre o que é acessibilidade. É bem rapidinho.
Ela permite que pessoas possam interagir, compreender, navegar tudo isso sem as maiores dificuldades, sem barreira. As pessoas são empoderadas.
Afinal, o que é ter deficiência? O que significa deficiência? É um tipo de limitação da sua capacidade. Vou explicar. Existem três tipos de deficiência.
- Deficiência permanente: que é uma limitação que você sempre vai ter. No meu caso é a minha surdez.
- Deficiência temporária: é uma limitação que você vai ter por um tempo determinado. Por exemplo, eu quebrei o meu pé e não vou conseguir andar por um tempo.
- Deficiência situacional: é uma limitação que vai acontecer agora, no momento. Por exemplo, eu não consigo comunicar Libras porque estou usando essas duas coisas (microfone e passador de slides). Não consigo falar né?
Agora vou falar sobre a deficiência da comunidade surda. De acordo com Federação Mundial de Surdos, cerca de 80% dos surdos que dependem, exclusivamente, da língua de sinais para poder se comunicar e obter informações. É uma porcentagem muito alta, né?!
A gente tem uma língua, aqui no Brasil. É nossa. É brasileira. É uma língua de sinais oficial na comunidade surda brasileira, que é reconhecida, não é oficial não, reconhecida desde 2012. Eu falei errado. Eu falei 2012, é 2002.
Vou falar um pouco das minhas vivências como uma pessoa surda. Contar pelo que passei. Vou compartilhar. São várias, mas vou falar poucas.
No aeroporto, eu tenho muitas dificuldades quando vou para o aeroporto, nesse caso. Na hora de comprar a passagem, porque tem várias perguntas… qual o cartão? Qual o seu nome completo? Aí tem a pergunta: qual é a sua deficiência? Então, eu pensei: será que isso vai resolver alguma coisa? Então, eu resolvi arriscar e coloquei que eu tenho uma deficiência auditiva e que eu tenho a necessidade, como eles dizem, necessidade de assistência especial. Então, eu gostaria de ter uma ajuda, pelo menos. Pra mim é difícil entender o que está acontecendo no aeroporto, porque tem tantos alertas sonoros… A comissária está falando alguma coisa no avião e eu não entendo nada. Geralmente eu viajo sozinha, então…
Sabe o que aconteceu? Nada, nada, nada…
Outra dificuldade que eu tenho dentro do avião: eu estou tentando fazer o pedido, mas eu não consigo entender a comissária falando. Às vezes meus ouvidos ficam entupidos, eu acho que acontece a mesma coisa com vocês, né?! E mesmo com o aparelho auditivo, eu não consigo ouvir. E aí, que assim poderia tentar resolver e solucionar essa situação. Poderia ter um cardápio num monitor embutido ou colocado no check-in… Enquanto a gente vai fazer o check-in, você precisa fazer o check-in, que está checando o avião, então você poderia selecionar o que você quer comer. Se é sempre a mesma coisa, o que você vai pedir, né? Não tem novidade nisso.
Vamos falar sobre cinema… É, eu amo assistir filmes, eu adoro. Mas eu não consigo assistir filmes nacionais, porque não tem legenda. Como assim não tem? Deveria ter, né? Mais difícil ainda, eu não consigo assistir animações com legenda. É um sofrimento. Tem muita gente aqui que está tentando colocar legenda.
Mas tem uma coisa boa, vou dizer. Tem um projeto chamado Alumiar. É um projeto que existe lá em Recife, eu sou recifense, por acaso. E lá tem esse projeto. Eles exibem filmes com três tipos de acessibilidade comunicacional que são: audiodescrição, Libras e legenda descritiva. Eu vou mostrar um pouco, um pedaço do filme, para mostrar como é ter essa experiência tão acessível… Vou colocar o áudio.
[Audiodescrição do vídeo — mas muito baixo para transcrição]
Ana Cuentro: Agora vai! E aí, conseguiram ver e ouvir um pouco? Estava passando audiodescrição. Conseguiu ouvir?
Então, imagina assim, uma reflexão, têm pessoas surdas, pessoas cegas e pessoas como vocês. Está tudo misturado nesse mesmo ambiente, vendo o mesmo filme, mas cada pessoa está recebendo uma experiência. Tem usuários diferentes. Que bacana, né? Se vocês quiserem ter um pouco de experiência, vocês podem assistir esse seriado (Coisa mais linda) e colocar legenda em português, CC, que é closed caption. E, quando comecei assistir, foi muito legal, sabe… Porque eu comecei a assistir com legenda normal, mas eu percebi coisas que, tipo, a porta fechou e eu não sabia que tinha fechado, porque é um barulho tão discreto, mas quando coloca na legenda “a porta fechou”… Caraca!
[RISOS]
Ana Cuentro: Então, tem uma coisa que é muito chata… Eu estava conversando com minha amiga que eu precisava ligar no médico para fazer o check up geral, aí eu falei isso pra ela. Eu estava morrendo de preguiça de fazer isso e ela não entendeu. Eu vou pegar uma lista de contatos e toma. É só ligar.
Mas ela não percebeu que eu sou surda oralizada. Eu falo. Aparentemente parece que eu sou uma estrangeira. Eu estou falando e ela, às vezes, esquece. Isso mostra que minha deficiência é invisível. Mas, como eu gosto de ser independente, eu fico procurando alternativas. Aí, eu achei esse aplicativo chamado Pedius, que é um serviço telefônico para pessoas surdas. E como funciona? Eu vou mostrar um pouco.
Aí eu coloco o número do médico para tentar marcar uma consulta. Aí eu falo, da primeira deu tudo certo. Eu consegui marcar… da primeira vez foi massa. Mas na segunda vez, a pessoa ficava falando mas ficava desligando na minha cara. Eu acho que ele achava que era uma brincadeira de mau gosto, eu não sei. Talvez seja brincadeira de mau gosto ou outra coisa, não sei. A gente percebe que os atendentes precisam aprender a lidar com as pessoas surdas.
Mas a outra experiência que eu tive, acho que foi a melhor que eu tive até agora. É que a Hope, que era Hospital dos Olhos em Pernambuco. Aí eu descobri que tinha WhatsApp; como será que funciona? Era um chatbot no WhatsApp e ele ficava pedindo informações. Eu consegui marcar com tranquilidade. Foi a experiência mais simples que eu tive, foi rápido. Eu consegui trocar contato.
Sobre reuniões remotas, eu sou designer de produto e eu tenho muita interação com as pessoas, mas quando eu trabalhava lá em Recife, a gente tem a equipe em Recife e o cliente ficava aqui em São Paulo, sempre rolava muitas reuniões que acontecem. Ás vezes eu pedia intérprete de Libras, mas nem sempre tinha. E, imprevistos acontecem, né?
Eu, como uma pessoa que gosta muito de tecnologia, fui procurar alternativas. Eu usei essa transcrição instantânea. Eu vou mostrar um exemplo de como isso funciona para mim. Eu tive que fazer uma gambiarra ali, porque o aplicativo só funciona pegando o som externo e ele transcreve áudio para texto, certo. E isso foi legal, mas eu precisava preparar meu ambiente de trabalho com… Está vendo, um headphone que eu precisava colocar para poder não fazer barulho, porque era ambiente corporativo, tinha 50 pessoas ao redor, como vou usar? Ele está falando muita coisa, então, é… Vou mostrar a outra alternativa.
Eu utilizei essa ferramenta online que é chamado WebCaptioner, que funciona a mesma coisa, que é software e utilizei Loopback. Ele consegue rotear o som de fora para dentro, infinito looping. Eu conseguia ver isso no computador. Assim, não é a melhor solução, mas eu conseguia entender o que estava acontecendo, eu consegui acompanhar as reuniões. Mas essa causa é só minha? E nós designers, o que a gente poderia contribuir?
Vou falar um pouco sobre podcast e YouTube. Eu tenho um monte de amigos designers que ficam falando sobre aquele podcast e YouTube muito legais. Muitas ficam falando sobre a experiência de usuário, mas a maioria não tem conteúdo acessível para mim, porque eu não consigo ouvir, não tem transcrição… às vezes tem legenda automática, mas legenda automática não é de verdade. Às vezes aqueles erros… e quando tem legenda, a legenda é inglês. Eu consigo entender inglês bacana, mas a pessoa colocou legenda em inglês por que o convidado é estrangeiro? Só por isso? Mas eu fiquei pensando, tem tanto conteúdo interessante, mas cadê o conteúdo sobre experiência do usuário com pessoas, usuários com deficiência? Até agora não achei nada. Só ontem eu descobri sobre a pesquisa que Malu fez sobre os usuários surdos, que foi muito legal.
Agora quero mostrar uma reflexão para vocês. Esses são youtubers surdos, que eles têm canais. Youtubers muito legais, com conteúdos diferenciados e todos eles só falam em Libras. Tem uma coisa que é bacana, eles sempre colocam legenda, legenda pra vocês poderem absorver e entender o conteúdo deles. Aí fiquei pensando: por que eles fazem isso? Porque eles têm essa empatia. Eles sofrem com isso e eles não querem… Então veja, vamo pensar, assim, geralmente a primeira língua deles é Libras. Libras é diferente de português. Então, eles mesmos que colocam legenda em português. Isso é uma tarefa muito difícil. Às vezes, eles pedem ajuda de pessoas para poderem fazer revisão. Se quiserem ver, assistam, é muito legal!
Sobre eventos, eu sempre… Toda vez que eu vou pra… Eu quero ir para aquele evento, eu acho muito legal, mas não tem intérprete. Eu sempre fico perguntando e não tem intérprete. As pessoas ficam falando, não sei. Eu vou conversar, vou ver se tem no orçamento. Geralmente é muito caro, é um serviço, mas é uma acessibilidade, né gente?
A gente tem uma galera enorme, é uma comunidade incrível e a gente pensa em tudo, então, a gente tem tanto a contribuir, vamos fazer, projetar, desenvolver soluções, mas vamos pensar em todo mundo, sabe… Eu quando penso em uma surda, eu fico muito feliz em ter deficiência reconhecida e poder usar aquele produto, porque é acessível. E como designer, eu fico muito feliz, também, em ver o usuário. É muito gratificante ver que aquela pessoa consegue usar aquele produto que a gente pensou. Vamos pensar todos juntos!
Obrigada!
[Aplausos]
Daniel Furtado: Ae! Esse passador… Tem que quebrar o passador, joga no chão! A gente vai chamar gente pra conversar com você aqui. Gente, quem quiser vir para o palco para fazer perguntas. A gente vai colocar as cadeiras aqui… Você quer uma água?
Ana Cuentro: Morrendo de sede!
Daniel Furtado: Mas você tem água dentro?
Ana Cuentro: Está cheio!
Daniel Furtado: Cachaça!
Ana Cuentro: Como que abre isso?
Daniel Furtado: É bullying. É de propósito… É de propósito. Acessibilidade não tem. Aqui a gente faz de propósito. É passador que não funciona, água que não abre… É tudo de propósito para constranger.
Quem gostaria de vir aqui? Vocês…
Quer por mais próximo daqui? Será que é bom botar as cadeiras mais próximas para eles ou não precisa?
Você vem pra cá! Oi!
Participante 1: Oi, Ana, tudo bem? Eu queria saber, assim, muito é dito sobre sites e apps como acessibilidade. E confesso que, inclusive, é uma coisa que eu não costumo pensar e isso tem aparecido muito como solicitação para gente trabalhar na nossa plataforma. Alguns dos recursos que a gente conhece hoje em dia e, que algumas pessoas com necessidade de ter sites acessíveis falam, é que as ferramentas atuais, como sites que fazem leitura ou algumas ferramentas, até já conhecidas, não são muito eficientes. Pode ser que existam algumas outras alternativas melhores para essas pessoas, mas como falei, eu mesmo nunca pesquisei a fundo. Eu queria saber se tem algum lugar onde nós, designers, conseguimos vislumbrar outras ferramentas e outras alternativas para tornar os sites mais acessíveis, além do que a gente já tem no mercado e que são, geralmente, mais conhecidas.
Ana Cuentro: É difícil! Preciso pensar um pouquinho.
Até agora eu não achei muitas pesquisas sobre isso, sobre tecnologia assistivas, na verdade. Tem muita tecnologia assistiva, mas eu não gosto da maioria, porque pode ajudar algumas pessoas, porque cada pessoa tem o seu perfil, muito específico. Meu perfil é… Sou pessoa surda, oralizada, eu falo e meu perfil é bem parecido com o de vocês, mas quando se trata sobre vídeo, aí é outra história… Não sei explicar. É muito difícil. Eu sempre pesquiso sobre isso.
Pessoas surdas reclamam da tecnologia assistiva, porque não são boas o suficientes. Mas, até agora, não temos tecnologias assistivas 100%. Acho que não existe.
Participante 1: Trocando uma ideia com relação a isso, eu acho que talvez o movimento, agora que a gente está trazendo mais esse assunto em pauta e tendo mais visibilidade, você foi a primeira designer surda que eu conheci aqui na palestra, então foi uma surpresa muito positiva ouvir sobre acessibilidade de uma pessoa que precisa trabalhar com isso. Acho que a gente pode impulsionar o movimento de trabalho em conjunto, porque você realmente está certa quando diz que a gente está aqui para resolver problema, mas a gente não pensa no problema de todo mundo. Então, muito legal ouvir o que você teve para falar hoje. Pelo menos, espero que demais pessoas, mas os meus olhos foram abertos e eu vou procurar me juntar com pessoas que precisam de sites acessíveis, entender quais as necessidades dela, porque eu não acredito que o que a gente tem hoje é o melhor que a gente pode oferecer. Eu acho que realmente falta espaço e empatia das pessoas que não precisam de acessibilidade para com as outras pessoas.
Muito obrigado!
Ana Cuentro: Eu que agradeço. Muito obrigada!
Participante 2: Bom, hoje tem muitos sinais que eu esqueci, mas eu sei que Libras, línguas de sinais é importante e eu sei que eu preciso aprender mais e eu quero isso. Então, desde já, muito obrigado!
Ana Cuentro: Obrigada!
[Aplausos]
Participante 3: [Risos] Eu estou até nervosa, minha Libras está muito enferrujada. Eu, antes de trabalhar como designer UX, eu trabalhei em uma revista para pessoas com deficiência, chamada Incluir. Infelizmente ela faliu, mas a gente já se preocupava muito com acessibilidade naquela época. O nosso site tentava atender pessoas cegas, surdas, só que isso já faz uns três anos e, na época, a gente sabia que só o texto não bastava para o surdo. A gente tentava outras formas como aplicativos como Web Libras e HandTalk.
Eu queria saber hoje… Hoje eu perdi um pouco o contato, mas pra fazer uma interface, o que é importante para o surdo? Só o texto basta? Ou realmente colocar o aplicativo, hoje, como o Handtalk já ajuda vocês? O quê que vocês necessitam, assim? Porque é muito visual, só que até que ponto está auxiliando vocês ou não?
Ana Cuentro: Então… Muita gente não gosta de utilizar o aplicativo HandTalk. Tem gente que utiliza porque, às vezes, ajuda. Mas, pra mim, a minha opinião e para algumas pessoas, poderia ter um texto e embaixo ter o vídeo das pessoas que interpretam traduzindo o texto, sabe? Tem um site acessível que é assim, eu esqueci o nome. E eu achei maravilhoso, sabe? Se poderia colocar o texto e faz o vídeo, o texto e o vídeo.. É como se fosse uma janela no site, sabe? Acho que isso responde a sua pergunta.
Participante 3: E eu queria, também, perguntar como é ser uma designer surda. Na faculdade eu tive, também, a oportunidade de ter um professor surdo e ele era muito detalhista. Então, você não poderia entregar uma logo um mínimo tortinho assim, sabe? Um detalhe que ele percebia. Então, eu queria saber o que é ser uma designer surda. As expertises… O seu olhar do mundo.
Ana Cuentro: É como um… Parece aquela história de super-herói, né… Quando você perde uma capacidade, a outra capacidade fica mais forte. E eu sempre fui uma pessoa observadora e sempre vi vários detalhes, sempre lia, sempre via quadrinhos, desenhos e depois eu percebi que gostava de brincar, trabalhar com arte. Não sei dizer, a gente consegue ver mais do que algumas pessoas.
Participante 3: Obrigada!
Ana Cuentro: Obrigada!
Participante 4: Eu estava pensando aqui, agora, que, assim como o outro amigo designer falou, no aplicativo que eu trabalho, infelizmente, nós não tivemos, até então, nenhuma iniciativa voltada para a acessibilidade. E você acabou de dar um exemplo na parte de conteúdo que é uma coisa que não é difícil de fazer, mas, ao mesmo tempo, que ajuda muito que é a questão de legendas. Então, que outros recursos dentro, por exemplo, dentro de um aplicativo assim como a legenda, que a gente poderia fazer que ajudaria bastante?
Ana Cuentro: Como assim? Ferramentas para poder colocar legendas, não sei… sim, sim. Eu acabei não entendendo bem…
Participante 4: Tá, tá… Tranquilo!
Assim como a legenda, que é um recurso que ajuda bastante dentro de um aplicativo para poder ter um outro olhar sobre o conteúdo, quais outros recursos que a gente pode usar assim como texto ou outras coisas que poderiam contribuir também para que o aplicativo pudesse ficar mais acessível?
Ana Cuentro: Acho que depende do conteúdo que você vai colocar. O conteúdo é visual? O conteúdo é textual? Acho que depende muito. O conteúdo visual precisa colocar legenda, a janela de intérpretes. Agora textual? Eu vou observar os comentários dos meus colegas surdos.
Participante 5: Bom, eu não sei se eu entendi muito bem a sua pergunta, mas eu vou tentar respondê-la. Eu não sei ao certo, mas eu acho que bom… às vezes a gente pensa se texto é uma resposta para a acessibilidade, usando a legenda, então, bom… vou explicar um pouco das experiências que eu tive com sites. Com filmes também, né? Filmes sem legenda eu já assisti, mas eu vi que tem descrições daquele filme que você consegue entender, tem detalhes… Parece o close caption, mas fica embaixo do filme. Eu consigo ter ali os detalhes, então eu consigo, teoricamente, entender.
Eu acho que texto assim é ruim, descritivo… Porque a gente precisa ver e entender. Legenda é isso, acompanhar o filme enquanto ele rola. Acho que o texto descritivo parece audiodescrição… É como se fosse audiodescrição, só que não é ao mesmo tempo. Teria que ver a imagem e ler depois, então não é simultâneo, então não é legal.
Não sei se era isso a sua pergunta, mas… Depende muito. Não sei se respondi certo, mas tomara que ajude.
Bom, a Ana diz que o mais importante é a ideia, então o que falta é acessibilidade para surdas crianças, por exemplo. Você pode ver ai que não tem… Às vezes eles não conseguem acompanhar direito por falta de legenda. As crianças ficam mais animadas com Libras. Você pode ver aí que, às vezes, quando tem uma sala cheia de crianças ouvintes e surdas, as surdas às vezes, não estão rindo e as ouvintes estão super felizes. Então, acho que falta isso nas crianças surdas.
Ana Cuentro: Mais perguntas? Ok… falar não? Então vamos?
Daniel Furtado: Obrigado! Quer ajuda? Tem mais uma pergunta? Tem mais uma pergunta? Temos uma pergunta! Temos mais uma pergunta!
Participante 6: Oi, meu nome é Gabriela. Eu gostei muito da parte que você mencionou vídeos e canais do YouTube e podcast feitos por pessoas surdas. Seria muito legal, assim, se vocês conhecessem mais alguns aplicativos de celular ou sites que tem essa acessibilidade bem resolvida, até para o público que é ouvinte conseguir pesquisar e conseguir assim, “ah, agora que eu sei como é o bem feito, eu posso me inspirar e fazer, também, dessa forma”.
Ana Cuentro: Até agora eu não consegui ver… Normalmente… Eu descobri, tem um podcast chamado Movimento UX. Conhece? Izabela de Fátima me conhece e já falei com ela várias vezes para colocar transcrição. Então, assim a segunda temporada tem transcrição… Assim, é um dos pouquíssimos podcast que é acessível e que poderia ser mais, mais, mais, mais acessível se tivesse vídeos em Libras. Porque nem todo mundo sabe falar em português e entender português. Desculpa, eu não consigo achar uma referência 100% acessível. É difícil!
Participante 6: E algum aplicativo de celular que seja acessível em Libras? Tem no Brasil?
Ana Cuentro: Segundo as pesquisas que Malu fez ontem… Ele fez uma pesquisa para pessoas surdas e ele percebeu que a maioria prefere usar WhatsApp porque consegue se comunicar bem, porque você consegue escrever, mandar vídeo, para conversar em Libras também. Não existe um aplicativo específico não. Tem WhatsApp e Instagram que eles adoram usar.
Participante 6: Está certo. Obrigada!
Ana Cuentro: Obrigada!
Participante 7: Olá, tudo bom? A gente trabalhou, eu e a Carol, inclusive, a gente trabalhou no Bradesco e teve uma campanha que a gente tinha que fazer que era o Dia nacional do surdo. E a gente ia fazer um e-mail marketing e era só escrito sobre… Falava também sobre 80% que não sabiam português escrito e a gente falou assim, “tá, a gente vai mandar esse e-mail e quem realmente precisa ler, não vai conseguir ler. A gente está querendo parabenizar a comunidade surda”.
A gente, então, pegou… no site do Bradesco tem o Web Libras, não sei se é tão bom. Acho que deve ser tipo a gente quando usa o Google Tradutor e traduz ao pé da letra e não deve ser tão bom. Mas acho que atende, de certa forma, e aí, a gente fez no e-mail marketing os sinais de parabéns e ela tirou foto e eu fui a guria que fez os sinais e a gente pediu ajuda, depois, para alguém pra ver se a gente não estava falando besteira.
A ideia era fazer uma comunicação interna para todos os surdos que trabalhavam com a gente. De certa forma, eu acho que uma das maiores dificuldades é a gente saber qual ferramenta hoje a gente consegue usar para ser o mais próximo da comunidade surda. Porque o Web Libras ou o HandTalk eles ajudam, principalmente para site, que a gente consegue implementar a janelinha do lado e ele vai traduzindo conforme a pessoa vai, acho que selecionando. Só que no aplicativo, a gente até consegue colocar mensagem de texto, só que vendo que 80% só sabe a parte de libras, a gente, de certa forma, não está atingindo esse público.
Tem algum site ou aplicativo que é referência para vocês que falam: “nossa, esse aqui é TOP, me atende muito”, que a gente pode, também, olhar para eles e pegar como referência e melhorar nossas plataformas?
Ana Cuentro: Acho melhor site, mas com Libras, mas… Tem um site que eu falei, mas eu esqueci o nome. Mas eu posso compartilhar depois, porque eu tenho twitter, Ana Cuentro, qualquer coisa você entra e eu vou divulgar lá um site que eu achei muito acessível, porque… Eu acho meio polêmico pra mim, são muito poucos. Desculpa, mas…
Participante 7: Obrigado, de qualquer forma.
[Fim de transcrição]