Como a Antropologia pode trazer força de ação ao Design na busca de um entendimento mais amplo do ser humano, fazendo com que essa área projetual possa não somente criar produtos e serviços, mas também melhorar o mundo ao seu redor.
No último dia 14 de agosto a Mergo deu início a mais um projeto para fomentar as discussões e o compartilhamento de experiências e aprendizados sobre Pesquisa em Design. O Papo Qualitativo nasceu com a proposta de trazer pessoas atuantes no mercado como convidadas para papear comigo sobre métodos, processos, ferramentas, práticas e experiências sobre Pesquisa em Design.
Para esse episódio de inauguração, convidei as antropólogas e pesquisadoras em design Elizete Ignácio (Gerente de Pesquisa UX na Zoly), Carol Zatorre (Lider de Pesquisa na Kyvo) e Paula Neves Cisneiros (Pesquisadora na Kyvo) para falar sobre como a Antropologia pode trazer força de ação ao Design na busca de um entendimento mais amplo do ser humano, fazendo com que essa área projetual possa não somente criar produtos e serviços, mas também melhorar o mundo ao seu redor.
O Papo Qualitativo terá episódios semanais, todas as sextas-feiras com transmissão ao vivo pelo Youtube e Facebook da Mergo, posteriormente sendo publicados também como podcast e transcritos aqui no blog. Todo esse material pode ser visto logo abaixo.
Bom divertimento 🙂
Para aprender e trabalhar com pesquisa em design, inscreva-se na Formação em UX Research da Mergo: mergo.com.br/formacao-ux-research
Siga o podcast no Soundcloud, Spotify, Deezer ou iTunes.
https://soundcloud.com/papoqualitativo/antropologia-e-pesquisa-em-design-episodio-01
[Início da Transcrição]
Edu: Olá, eu sou o Edu Agni, e esse aqui é o Papo Qualitativo, que é o novo espaço da Mergo para a gente falar semanalmente com vocês sobre pesquisa em design. Eu estou aqui na presença da Karen, que é a nossa intérprete de Libras e vai acompanhar a gente nessa conversa. E pra começar a gente vai bater um papo falando sobre antropologia e pesquisa em design, e para isso eu chamei um time de peso aqui, então para eu começar a apresentar as nossas participantes, vou começar inserindo aqui na conversa a Elizete para ela se apresentar… Então está aqui a Elizete, boa noite! Faça sua apresentação!
Elizete: Oi! Boa noite! Obrigada Edu pelo convite, pela conversa, por ter adiado o papo quando eu tive uma situação pessoal, enfim… E obrigada a todo mundo que está assistindo, espero que vocês curtam essa conversa tanto quanto eu curti ser convidada para ela.
Edu: Legal. A Elizete é autora do livro UX Research Com Sotaque Brasileiro. Está em pré venda o livro, é isso?
Elizete: Então, o livro está em pré venda. Um monte de gente pergunta, ainda não tem data de lançamento, mas ele será lançado, já está na fase final, está na editoração. E aí vai para a editora, diagrama, volta para uma revisão da diagramação para ver se ficou tudo direitinho com os quadros, se não tem nada cortado, depois dessa revisão, gráfica, impressão, então a gente está bem na reta final mesmo, já virando a curvinha da reta final, e… Também sou antropóloga, como o Edu falou. E o que mais? Será que tem mais alguma coisa? Atualmente sou gerente de pesquisa na Zoly… Ah gente, não sei mais o que falar de mim, qualquer coisa a gente vai falando mais. Mas o livro está na pré-venda, sim.
Edu: Legal. Elizete também lançou agora, faz pouco tempo, o seu curso de Antropologia, Design e Consumo — que eu me inscrevi ontem, inclusive.
Elizete: Eu vi, fiquei super honrada! Olhei e falei “gente, que chique!”.
Edu: Semana que vem estamos lá!
Elizete: Começa segunda. É um curso bem teórico, bem de teoria, autores, é muita antropologia e um pouco de design, mas assim, dialogando muito com teorias de consumo, que eu acho que é uma interface interessante quando a gente vai pensar em design. Hoje o design está lidando com a questão do consumo também, ainda que num outro lado, e enfim… Eu estou dando uma reformulada também para esse ano, porque como já é a quarta edição, eu mesma gosto de ir variando para sentir que eu também estou mudando de assunto, então tem bastante coisa nova e acho que vai ser legal. Se chama “Antropologia, Design e Consumo”.
Edu: Legal. Bom, a nossa segunda participante é a Carol Zatorre, que eu estou adicionando agora aqui na conversa. Por favor, Carol, prazer.
Carol: Oi gente, boa noite. Prazer, Edu, de poucos anos que a gente se conhece! Oi Karen, também. Oi gente, boa noite. Foi uma honra também ser convidada para esse papo, primeiro porque a Mergo mora no coração, segundo porque o trabalho do Edu com a questão de educação é sempre incrível e estar com a Elizete é bem interessante, bem legal. Vocês nem imaginam, mas a gente troca muita mensagem de Whatsapp, eu e ela, e a gente tem várias ideias, “vamos fazer isso, vamos fazer aquilo”, e daqui a pouco morre e as duas vão fazer outras coisas, daqui a pouco voltam, e é assim. E a Paulinha que vem depois… Desculpa, eu já dei spoiler! Bom, eu sou a Carol, sou head de pesquisa na Kyvo, atuo nesse mercado já tem uns 10 anos… Acho que tem mais, mas vamos deixar por volta de 10. E trabalho com antropologia e design especificamente pensando com a interface de antropologia, e eu sou muito inquieta com esse lugar de pesquisa, então toda hora eu estou tentando repensar e entender o que está acontecendo, por que as coisas mudam, por que é assim, por que é assado, e acho que é isso. Sou do board da SDN no Brasil, também atuo ativamente — não mais tão ativamente, estou mentindo — com o Interaction, mas sempre estou procurando estar perto desses eventos para saber o que está acontecendo com esses eventos, principalmente para saber o que está acontecendo com o design, ficar com um pé lá e outro cá, e acho que é isso, estou no mesmo time que a Elizete, está bom de falar de mim.
Elizete: Só fazendo um adendo: é que a Carol falou que está no time dos eventos, eu sou advisor do Observe 2020 que é o primeiro evento de UX Research do Brasil, a gente fala agora e no final a gente falar de novo.
Carol: É verdade! Boa!
Edu: Com certeza, um evento que inclusive a Mergo está apoiando. E Carol, quando eu falei prazer não é nem de te conhecer, a gente se conhece faz anos, mas tirando mesa de bar a gente nunca esteve no mesmo lugar falando juntos sobre design.
Carol: Acho que não.
Edu: Mas hoje eu não vou falar, eu vou mais ouvir vocês, mesmo. Mas sem mais delongas eu vou adicionar a Paula aqui na nossa conversa para se apresentar também então, Paula, se apresente.
Paula: Boa noite pessoal, tudo bem? Eu estou rindo porque eu estou entrando aqui por último e eu já falei outras vezes, eu não tenho nem roupa para estar aqui no meio dessas mulheres maravilhosas! Eu quero agradecer o convite ao Edu, dar um oi também para a Karen e agradecer. Eu sou antropóloga, tenho mestrado em antropologia pela UFPS, sou recifence, adoro dizer isso, mas moro em São Paulo, e tenho uma carreira na verdade bem diversificada, já trabalhei com pesquisa antropológica, no sentido mais acadêmico mesmo, em diversos temas, então já pesquisei, para vocês terem noção, desde segurança pública até religião e criança, então… Eu amo gente. E aí, também já passei por algumas experiências curiosas, já fui florista, e depois eu fui procurar espaços da antropologia dentro do mercado que era algo que eu realmente queria muito explorar, eu sentia que eu tinha um drive mais assim voltado para o mercado do que para a academia, apesar de também gostar muito, e a gente sabe também que uma vez antropóloga vinda da academia a gente permanece com esse pezinho lá, então foi quando eu comecei a tentar explorar mais essa formação e fiz o curso, o workshop de UX Research na Mergo com o Edu — foi ótimo, foi maravilhoso, me ajudou muito — e fiz também esse curso teórico que a Elizete agora vai dar uma turma, eu também fui aluna dela, aprendi bastante, tava toda aula lá! E depois disso tudo eu já estava no maior flerte com a Carol de quem sou muito fã e acabou que estamos trabalhando juntas agora, eu sou pesquisadora lá na Kyvo, e acho que por enquanto é isso que posso falar. Obrigada, Edu.
Edu: A Carol gosta de contratar minhas alunas antropólogas, sempre.
Carol: Eu adoro, eu coleciono elas. Mas você sabe que a Fabi, maravilhosa, incrível, foi para uma startup?
Edu: Sim, sim, eu falei com ela hoje, inclusive. Ela estava me falando
Carol: Ela estava brilhando.
Edu: Estava, demais.
Carol: Falei com ela semana passada, e vou continuar contratando as antropólogas tuas, tá, Edu? Pode deixar, vão continuar vindo.
Edu: Legal. Bom gente, estamos transmitindo esse papo para o YouTube, para o Facebook também, então tem uma galera deixando comentários aqui, neste momento estão mais dando um oi, dando boa noite, mas conforme vocês forem tendo perguntas vocês podem ir deixando aqui no bate papo e eu vou jogando aqui para a gente ir respondendo conforme for passando. Bom, qual é a ideia desse papo na verdade? A gente traçar alguns paralelos entre antropologia, pesquisa em design… Antropologia como ciência social a gente tem o objetivo de entender mais o ser humano. Quando a gente fala de pesquisa em design, eu gosto muito daquela definição que chama o design de ciência do artificial, uma definição que tem naquele livro As Ciências Do Artificial do Herbert Simon… Eu tenho esse livro em algum lugar aqui. Mas a gente vê aquela definição de pesquisa para a criação de artefatos ou de projetos, mas até pegando essa onda do que se começou a disseminar, de se expandir de uma forma mais concreta o conceito de design centrado no usuário, de experiência do usuário, de todo esse conceito, acho que o mercado passou um tempo para entender e assimilar o que era a questão da experiência, e agora que a maturidade das empresas se elevou nesse sentido, ou seja, já entendem o que é a questão da experiência, tá começando a se olhar mais para a questão da pesquisa. Eu venho vendo muitas empresas expandindo times de pesquisa e a gente vê também as empresas direcionando projetos para outras áreas, alguns projetos mais coletivos, mais sociais, voltados para ecologia e tal, e aí acaba trazendo um fit bastante grande com a questão da antropologia, que vem ganhando força na área de design, a gente estava até brincando aqui, eu venho vendo muita gente da área de antropologia vindo estudar um pouco mais focado pesquisa em design e eu vejo as empresas contratando cada vez mais antropólogos para isso, então eu queria saber de vocês um pouquinho sobre como vocês veem essa conexão da antropologia com a área de design, com a pesquisa em design, como ela vem contribuindo, o que o design não tinha antes que a antropologia está trazendo, então eu queria ouvir um pouquinho de vocês sobre isso.
Carol: Edu, você precisa estabelecer um…
Edu: Ah, claro, claro, então eu vou escolhendo uma hora cada uma para falar. Acho que a Elizete pode começar, que foi a primeira que chegou.
Elizete: Tá bom. Acho que vou pedir para reformular a questão, porque que eu fiquei prestando atenção no comentário inteiro e perdi o gancho da pergunta.
Carol: Ou então se quiser eu posso começar e você pega meu gancho.
Elizete: Não, mas pode só pegar o gancho da pergunta, é porque ele foi falado e eu fui formulando questões e aí eu perdi o gancho da pergunta.
Edu: Eu quis falar muito sobre como vocês vêem essa conexão da antropologia com a pesquisa em design hoje, o que a antropologia vem somar na área de design ou complementar de uma forma que o design não alcançava, o que vocês acham que a antropologia vem trazendo para a área de design?
Elizete: Tá, eu vou falar um pouquinho da minha trajetória com o design que eu acho que vai me ajudar na resposta, eu vou resumindo. Eu comecei uma aproximação com o design no meu mestrado, isso foi em 2002 — se alguém aqui ainda não tinha nascido, gente, eu estava lá — é um campo novo também com muitas pessoas novas, a área de UX, mas eu comecei na verdade num diálogo — porque meu mestrado foi sobre música caipira e música sertaneja — mas dentro de uma linha de pesquisa, que o meu orientador era o José Reginaldo Gonçalves, ele trabalhava com Museus, Patrimônios e Objetos, até por isso o subtítulo do meu curso é “bases teóricas para criar objetos”, então vinha muito, tinha um diálogo muito forte com o design, com a arquitetura, porque são as duas disciplinas do artificial, que de certa forma materializa uma variedade enorme de coisas que na antropologia estão só num processo reflexivo, então a gente tinha uma série de reflexões sobre a questão dos objetos e de trajetórias de objetos e de como elas circulavam, e não era um debate só aqui do Brasil, era um debate já de fora, mas que dialogava muito com o design, com o processo e com a intenção de criação dos objetos. Só que naquele momento o nosso objeto era efetivamente o objeto físico, não era o objeto virtual, não era o objeto digital, não era um produto digital, então desde naquele momento a gente já percebia, inclusive na minha turma tinham muitos designers que estavam em mestrado ou doutorado em design mas que iam fazer disciplinas de antropologia. Por causa dessa aproximação, no debate que na antropologia é muito forte entre os signos e o debate o que vem da semiologia que é: a antropologia ela é uma ciência do comportamento humano. Mas a psicologia também é, a sociologia também é, há outras áreas de disciplinas de ciências humanas, também estudam o comportamento humano mas a especificidade da antropologia é justamente buscar aquilo que a gente acaba traduzindo como cultura que é buscar o que existe de específico no nosso olhar sobre cada coisa, e essa coisa pode ser um objeto, uma relação estabelecida entre pessoas, enfim, a gente vai chamar de cultura, pensando que existem diferenças e conforme grupos vão olhando e se relacionando com essas coisas, então o meu olhar sobre a relação da antropologia com a pesquisa em design é muito nessa busca de significado e é por isso que eu acho que hoje aqui no Brasil — e aí que eu falo aqui no Brasil, porque quando a gente vai pra fora, pra Europa, vou falar da Europa que é onde eu conheci um pouco mais — a antropologia não tem essa vibe, essa onda toda com a área de UX, quem ocupa esse lugar é a psicologia, por outras razões. Aqui no Brasil a gente já tem desde a década de 50 uma aproximação teórica muito grande de pesquisa entre a antropologia e o design. Um exemplo, o IPHAN era gerido por um designer — na verdade, dois -, e que era um espaço que era a casa de antropólogos na década de 50, 60, 70, enfim, então a reação que eu vejo é muito por essa busca de significados, não é só esse olhar que a gente divulga muito da empatia, o olhar que a gente traz para a pesquisa em design é esse olhar de “cara, por que as pessoas fazem as coisas desse jeito? Por que o usuário, quando a gente define ali uma rota bonitinha que ele tem que seguir, ele não segue essa rota? O que é que está acontecendo?” E também o que existe de específico por exemplo no nosso modelo mental, no modelo mental do brasileiro, que faz com que a gente siga uma rota completamente diferente de um argentino, de um alemão, de um americano? Então acho que é isso que a gente acaba contribuindo e trazendo pra esse olhar da pesquisa em design.
Carol: Como é que é agora? Podemos?
Edu: Fiquem à vontade.
Carol: Edu, deixa eu te contar uma dica, é que nós três fomos treinadas num universo em que existe uma hierarquia de quem fala…
Elizete: Não!
Carol: Não, na antropologia e nas ciências sociais, quando você está numa mesa existe uma hierarquia, primeiro fala um, depois outro e depois outro. Não estou dizendo que a gente precisa replicar aqui, a gente sempre espera um falar porque existe esse rito, mas não precisa ser assim, óbvio que não, mas a gente espera um ao outro falar, é um pouco disso. Bom, pensando nessa pergunta, eu tenho uma resposta talvez similar a da Elizete, mas talvez com uma explicação paralela. Então eu penso assim: quando o design pensava artefatos, que eram produtos mais genéricos e isso talvez pudesse ser pensado de uma maneira universal, era possível de pensar uma pesquisa mais inferida do que aferida, então se podia fazer um exercício muito comum nos cursos de design que é moodboard, painel semântico, e até mesmo a persona para você saber quem era a pessoa que usava por exemplo, uma caneta. Como usar uma caneta é um produto meio que universal, existem diferentes pegas, mas usar a caneta, ela tem uma forma e ela tem a mesma função, então era esse caminho. Quando o design saiu desse lugar social de pensar a relação artefatos e ir para contextos sociais, eu acho que começou a faltar um pouco para o design um repertório mesmo, porque o processo do curso do design não é pensado para pensar o indivíduo em sociedade, a nossa formação ela é totalmente pautada para pensar no indivíduo em sociedade, então a gente pensa primeiro coisas como por exemplo “natureza ou cultura”? O que vem primeiro, a noção de indivíduo, a noção de perspectiva social? Então a gente vai construindo um acúmulo teórico a respeito de várias explicações e por várias correntes e por vários caminhos a respeito de quem é esse indivíduo, por quê ele está em sociedade, como ele está em sociedade, o que aquela sociedade informa dele, como aquela sociedade constrói o repertório dele ou a mentalidade dele ou o comportamento dele. Existem também vários caminhos para se pesquisar, então por exemplo, um cientista social tem basicamente três habilitações, ele se forma em uma das três habilitações, mas ele passa por três áreas de conhecimento, que são ciências políticas, sociologia e antropologia, então as ciências políticas acabam sendo um pouco mais descoladas das outras duas mas a sociologia e a antropologia são meio que áreas irmãs, andam juntas e coladas, e aí eu percebo que o design começou a se perder no sentido de que o indivíduo que eu estou pensando para se relacionar com o produto e o serviço que eu estou olhando já não é mais aquele indivíduo genérico do artefato físico, ele é um indivíduo complexo, porque ele está relacionando-se com serviço, ele está relacionando-se com interface digital, uma coisa que é nova também no nosso contexto social, então surgiu a necessidade de ter um pensador, uma área de pensamento que pensa especificamente o indivíduo em sociedade. Aí eu trago por exemplo, diferente da Elizete que trouxe mesmo que na Europa quem flerta mais com essa área é a psicologia, nos Estados Unidos quem flerta mais com essa área é a antropologia, tanto é que tem o Epic lá que é super forte nos Estados Unidos — o Epic People — e tem trabalhos incríveis a respeito. Existem equipes de antropólogos em algumas indústrias nos Estados Unidos desde a décadas de 50 também, por exemplo, como a Elizete trouxe, a Nissan tem time de antropólogo, que pensa a respeito da mobilidade, não pensa sobre andar de carro, pensa sobre o fenômeno mobilidade, o Google tem, o Facebook tem, então assim, tem essa aproximação por que o treinamento social — e aí eu sou super advisor mesmo — o treinamento social do design é em relação a uma outra coisa que não é o treinamento social do antropólogo, sociólogo, cientista político, que é formado para pensar no social. Ele tem essa formação, eu acho que a gente pode educar, eu acho que a gente pode treinar o grupo, trazer designers… Eu trabalho com designers o tempo todo, então, a Paula mesmo está trabalhando com um projeto na Kyvo em que trabalha um antropólogo e um designer, sempre, colados, então eu acho que é nessa interação, nessa multidisciplinaridade é que a coisa dá boa.
Paula: Eu acho que como eu cheguei dentro da prática da pesquisa em design agora, a minha visão é, exatamente isso que vocês falaram, mais fresquinha do que eu enxergava como “problema” dentro de um contexto mais acadêmico, vamos falar assim. Então, o que eu acho que existe dentro do design que a antropologia é um casamento… Não vamos falar de casamento, mas assim, uma boa parceira. Mas eu acho que o design busca muito entender para quem é que ele está produzindo aquilo e para quê, então tudo isso, essas duas perguntas são… A gente é treinado, vamos dizer assim — com nós eu quero dizer os antropólogos e cientistas sociais — nós somos treinados para a gente compreender isso de uma forma profunda e ir entendendo também as dinâmicas que envolvem esse “para quem” e “para quê”, então aí existem várias outras relações, por exemplo, relação de poder, existe também a questão de motivação, identidade, então todos esses tópicos que às vezes passam batido numa interação simples, a gente tem uma formação treinada mesmo para observar aquilo como parte de uma composição que é muito complexa, então o olhar do antropólogo, ele não é simplesmente entender que “tá bom, eu estou fazendo uma caneta específica para os professores”… “Professores” é tão amplo! A caneta também tem tantas possibilidades, e a partir daí… Isso quando se trata de produto né, quando vai para serviço, que era o que você estava comentando, vai criar outro âmbito, meu Deus do céu, estoura um negócio assim na cabeça que o antropólogo fica louco no meio dessas reuniões de projeto, meu Deus. E aí eu acho também que é muito interessante que o design traz para a antropologia, tentando fazer esse caminho inverso, é a questão… Eu não sei se eu posso nem falar “prática” sem soar até ofensiva para a antropologia sem soar que ela não é prática, não é isso, mas é numa dimensão de que dentro de um mercado, para fora da academia, aquilo se torna muito mais palatável quando a gente usa da metodologia por exemplo de design de serviços, de pesquisa em design, e o que a gente entrega, sabe? Então é óbvio que existe toda uma preparação quando você vai realizar aquela pesquisa, então existe uma preparação teórica do pesquisador, que eu particularmente considero fundamental, extremamente importante, mas quando a gente entrega, a gente entrega aquilo de uma forma que é muito mais palatável mesmo, sabe? É mais gostosinho, você toma um sorvetinho, é mais tranquilo, e assim, não que seja simples, que seja mais fácil, que seja melhor, eu acho que são dois campos de saberes que se complementam no que se propõem a entregar, sabe? Então, a minha visão agora, ainda um pouco maravilhada com todas essas possibilidades, é assim.
Carol: Muda muito, né?
Elizete: Posso complementar uma coisa? Uma brincadeira que a gente fazia, Paula, quando a gente estava no mestrado, até falei isso essa semana, é que a gente falava que a antropologia desconstruía e o design reconstruía, mas eu acho que a gente precisa também ter um certo cuidado porque a gente está falando de uma disciplina que não é nossa, que somos três antropólogas falando de pesquisa em design, e aí eu acho que é preciso também situar de que tipo de pesquisa em design a gente está falando, porque senão fica parecendo que a gente está descobrindo a pesquisa em design, está ajudando os designers a descobrir o que é do campo deles. Tem uma classificação que eu curto muito, a gente até trouxe no livro — quer dizer, eu não lembro se isso permaneceu ou não, porque desde que eu coloquei isso já mudou várias vezes, eu não sei o que caiu quando passou pelas muitas revisões — mas é uma classificação que divide a pesquisa em design em três campos, eu vou ver se lembro das três, mas uma é a pesquisa de materiais, de formas, daquilo que seria muito associado por exemplo ao design de produto, porque quando a gente está falando de design a gente está falando de design de produto, design gráfico, design de interiores, enfim, daqui a pouco a gente vai falar até do design de sobrancelhas, então a gente está falando também de um campo que é muito extenso, não é só o design digital, não é só o produto, é preciso a gente situar, e essa classificação fala isso, ele tem três campos, uma que seria o design daquilo que é proprietário do design, dentro do design de produto pesquisa de materiais, dentro do design gráfico pesquisas de novas texturas digitais, novas formas, do design para dentro do design, que é quase um metadesign, uma pesquisa interna que é quase acadêmica, filosófica, e a pesquisa que eles classificavam como para negócios, que é aquilo que sai do design só disciplina e que acaba tendo uma interface muito grande com o mundo prático, e aí principalmente nos negócios porque o design também tem dentro da sua história — a gente fala da antropologia e é verdade, acho que a gente na antropologia não conseguiu gerar essa aproximação maior com a vida prática, acho que isso vem acontecendo agora — mas o design também teve o seu momento de “olha, a gente está aqui filosofando, eu não estou preocupada se o objeto é usável ou não, eu não estou preocupada com a função, eu estou preocupada com a forma — ou vice versa”, enfim, eles também têm as suas discussões internas. E aí, uma questão que fica para mim, é porque eu tenho um gap de 10 anos, eu trabalho muito próxima de design sempre, até 2005, entre 2002 e 2005 onde o design brasileiro é premiado no exterior, onde ele tem uma discussão sobre a questão da brasilidade muito forte, onde as nossas principais referências estão lidando com a nossa herança da semana de 1922, então da antropofagia, de abrasileirar o que vem de fora, de reconstruir, de levar o design brasileiro para o exterior, eu pego isso até 2005 e eu volto a trabalhar com design em 2015, 10 anos depois, e aí sim eu sinto, talvez por causa dessa aproximação com o mercado e talvez por falta dessa necessidade também de colocar mais pessoas nas empresas e do design digital, das empresas digitais começarem a contratar designers, porque até onde eu sei contratação de designer dentro de empresas não é tão antigo assim, esse desejo de ter designers dentro de empresas, como com a antropologia agora também é recente, e talvez por isso eu acho que os designers possam ter se distanciado — nem vou dizer se distanciado — reformulado esse olhar sobre o humano, que com o produto físico, embalagem, entre outras coisas, não é uma novidade. Isso que eu acho que é importante a gente ressaltar também. E esse olhar por exemplo, a defesa do centrado no humano começa no design, não começa na antropologia, justamente porque a gente não está na vida prática.
Carol: Eu acho até que para a gente não era nem um ponto de questionamento, se era centrado no indivíduo em sociedade, isso nunca entrou em pauta.
Elizete: É. E por isso eu acho importante a gente situar o nosso lugar de fala de antropólogas.
Carol: Embora os designers digam que todos somos designers, né?
Elizete: Não, eu sempre reforço que sou antropóloga.
Carol: Eu também reforço, mas é que eu acho que a pergunta do Edu no início foi assim “o que a antropologia enquanto área trouxe para o design?”.
Elizete: Mas eu não acho que trouxe algo para o design, eu acho que foi uma construção conjunta.
Carol: Não, estamos falando da mesma coisa.
Paula: Agrega, não é? O que agrega nesse sentido.
Edu: Acho que até nesse ponto do que agrega. A Paula até reforçou que nas ciências sociais vocês são treinados para entender o indivíduo em sociedade. E uma dificuldade que eu vejo na área de design, pelo menos no design de experiência que é o que eu estou mais ligado, é a minha área, é justamente em olhar esse indivíduo enquanto usuário, ou enquanto cliente, e eu sempre falo que na verdade as pessoas não querem comprar produtos, elas querem obter um benefício, resolver um problema, atingir uma meta, e talvez o produto vá ser um ponto de contato que vai ajudar esse indivíduo a resolver o problema dele, mas o problema que vai ser resolvido pelo produto é um problema do indivíduo — a pessoa só é usuário ao utilizar um produto, ela só é um cliente ao ter uma relação com a sua empresa, e eu acabo vendo que o design acaba olhando muito para o momento, o ponto de contato ali onde a pessoa é usuária e acaba perdendo essa coisa de olhar quanto indivíduo em sociedade que é de onde vem na verdade todo o contexto que causa o problema ou traz a necessidade para esse usuário. E até quanto essa base teórica de estudos a gente vê que hoje, principalmente na área de design digital a gente tem muito designer que começa a atuar com pesquisa sem ter essa preparação, não só de entender enquanto indivíduo em sociedade mas inclusive essa bagagem de pesquisa mesmo. Na área de experiência tem aquela coisa de falar assim “quem trabalha com experiência do usuário tem que fazer pesquisa com o usuário”, aí as pessoas pesquisam um método de pesquisa e saem fazendo aleatoriamente e sem ter esse embasamento, eu acho que isso acaba sendo um dos grandes pecados do design, e a gente sabe que a maioria das empresas não têm seus antropólogos, suas antropólogas ali para cuidar disso. Como vocês vêem essa coisa do design às vezes estar trabalhando — não querendo generalizar isso — mas às vezes essas empresas de design ou essas empresas de produtos digitais que trabalham com design estarem fazendo pesquisas sem ter esse embasamento?
Carol: Eu vou ser defensora disso meio que para sempre, porque eu comecei fazendo minhas pesquisas dessa maneira. Eu fui contratada pela primeira vez pelo Núcleo de Design e Sustentabilidade da Federal do Paraná para avaliar se o modelo de pesquisa que eles tinham desenvolvido tinha coerência, aí eu fui ver e… Eita! Várias coisas. E eu tenho dificuldade com relação a isso, eu assumo isso, não é nem escondido né, eu acho que… O que me incomoda sinceramente é que a falta de treinamento, é um, porque assim, não é um treinamento, é um acúmulo teórico, e a falta do acúmulo teórico é um ponto. A falta da reflexividade é outro ponto. Generalização é outro ponto. Reducionismo é outro ponto. Então são vários fatores que me incomodam muito quando eu penso no tipo de pesquisa que acaba sendo feita, e eu recebo diariamente perguntas do tipo “Carol, como eu faria tal coisa?”, e eu me disponho a falar com praticamente todo mundo que entra em contato comigo para saber como eu faria aquilo com pesquisa, como eu resolveria aquele problema de pesquisa, e eu vejo que as perguntas são muito básicas, então por exemplo, uma coisa que eu sempre trago, eu nunca trato o indivíduo como usuário, eu sempre falo “a pessoa é usuário no contexto de uso”, ela é pessoa, ela é indivíduo, ela tem uma história social, ela tem uma identidade, ela tem uma narrativa de vida, e dentro dessa narrativa de vida dela ela tem uma relação de uso e dentro dessa relação de uso pode ser um microframe, um microssegundo, pode ser abrir uma tela e apertar um botão como pode ser entrar numa fila, pode ser muito mais longa que isso, e eu digo que essa narrativa de vida da pessoa informa todo o espectro de decisão dela, então quando você vai pensar na experiência da pessoa, você está olhando a experiência dela com o artefato só e não pensando no que teve antes e no que vai ter depois, você pode estar perdendo a oportunidade de ter insights muito melhores, para ser bem prática, você está perdendo uma bela oportunidade, e isso é uma coisa bem angustiante para mim. E eu acho que está mudando, eu tenho um grande amigo que esteve no Kyvo Convida falando sobre Etnografia, o Ronaldo, ele é professor da Federal do Paraná em curso de Design e ele fala sobre as brigas que estão tendo na reformulação do currículo do design, de trazer esse tipo de olhar para dentro do design, porque é muito importante, e eu já começo a ficar assim “opa, temos uma luz no fim do túnel”. Além disso, eu tenho uma crítica muito severa à antropologia nesse aspecto, que é assim: a antropologia nunca se dispôs a falar com esses cursos, com o curso de design, com o curso de administração, tem essas matérias obrigatórias, mas são obrigatórias, e a gente sabe que elas são ofertadas de maneira muito superficial…
Paula: Secundária, né?
Carol: Secundária! Eu me lembro de colegas, de pessoas do design falando para mim que tiveram aula de etnologia durante o curso de design, “a gente só leu etnografia a respeito de índio”, mas gente! Com uma bibliografia imensa podendo falar de artefatos, como a Elizete por exemplo, e os caras vão dar uma bibliografia para falar de grupos indígenas para um curso que está pensando essencialmente no indivíduo urbano? As minhas considerações nesse sentido são que… Eu acho instrumentalizado. Para ser bem sincera. Não me odeiem, mas eu vou continuar achando isso.
Elizete: Eu concordo que é muito instrumentalizado. Eu estranho menos, porque eu venho da pesquisa de marketing, no fim eu tenho um namoro com o pessoal da pesquisa de marketing, então… Comparando, eu já acho efetivamente que só de a gente pensar a ideia na centralidade no humano já é um grande passo na minha trajetória de interdisciplinaridade. E aí eu volto um pouco na questão de onde essa instrumentalização começou, eu acho que tem várias coisas de currículo, e aí não só currículo de design, currículo de antropologia, currículo de outras disciplinas, que é como a gente prepara profissionais para o mercado, isso é o primeiro ponto, como é que a gente prepara um profissional de design para o mercado. O segundo ponto, e aí eu quero trazer um pouco da minha experiência também de ter sido a única pesquisadora dentro de uma empresa em tecnologia atendendo questões diversas que é qual a maturidade que a empresa tem para que por exemplo os designers consigam levar isso. O terceiro ponto é como é que a gente ao mesmo tempo consegue fazer com que o designer tenha esse olhar holístico mas no fim das contas ele está entregando uma interface e ele tem que projetar essa interface? E aí fica o designer, e o que ele tem que fazer? Ele tem que lavar, passar, cozinhar, esfregar, limpar o chão, no fim para tudo estar brilhando para quando o usuário chegar e aí em que momento esse usuário ganha ajuda? E aí eu acho que, respondendo a primeira pergunta, eu acho que a contribuição, não só de antropólogos, porque eu sou muito fã de times multidisciplinares, não só de antropólogos mas de outros profissionais de pesquisa que conseguem apoiar esse processo de pesquisa para o design, e aí eu gosto de diferenciar a pesquisa para o design da pesquisa em design, porque eu acho que a pesquisa em design é um campo, a pesquisa para o design é o que a gente faz enquanto antropólogo, é o que o estatístico vai conseguir fazer quando vai trabalhar com métrica, é um o que um psicólogo vai fazer trazendo seu olhar, a gente vai fazer pesquisa para o design, e aí eu acho que o campo de UX, pensando a experiência, ele vai se constituir como essa coisa que a gente já não está mais fazendo pesquisa em design e nem pesquisa para o design, a gente está fazendo pesquisa para pensar a experiência, para entender a experiência e aquilo ali é materializado por designers, pelo menos eu acho que eles são bem mais competentes que eu nesse quesito.
Carol: Concordo super.
Elizete: Então, nessa linha de entender também qual é o papel que o designer quer desempenhar dentro de uma empresa para que ele não tenha que fazer uma pesquisa que seja rasa, que seja instrumentalizada, que tenha todos esses problemas, e a gente vê todos esses problemas que a Carol listou e se a gente pensar mais um pouquinho a gente vai achar mais, mas que também está associado um pouco a quais as possibilidades que essa galera tem para desenvolver pesquisa e de levar isso de um ponto, como é que eu vou dizer… estressar a barreira, mas por outro ponto também não ficar se estressando ali, porque vamos combinar todo mundo é gente, todo mundo está trabalhando oito horas por dia, por mais que você adore o usuário, no fim do dia você quer dormir sem precisar tomar remédios e drogas e coisas afim. Então eu acho que a gente também precisa tem empatia com eles, mas concordo com a Carol de que precisa ter empatia mas precisa ter um sinal interno de “será que isso é legal?”, “ok, eu não dou conta de fazer tudo isso, como é que eu consigo trazer pessoas para fazer isso?” e também de ouvir dentro das suas possibilidades, assim, pesquisa, por ser antropólogo a gente fala muito da etnografia, mas pesquisa é um universo super vasto de métodos e de técnicas, então como é que eu ganho por exemplo capacidade, ganho competência para fazer pesquisas que me tragam respostas e eu reconheço o nível, o alcance delas. Tem pesquisa, tem um debate internacional que está bem legal, dentro de uma empresa, que é a distinção entre as pesquisas direcionais que são feitas em UX e as pesquisas fundacionais, e isso para mim já é um avanço de debate para os designers entenderem onde é que eles conseguem entrar e onde não, e também para as empresas entenderem qual é a demanda delas contratando outros profissionais para apoiar esse time e aí então cair nesses erros de ficar fazendo coisas que são muito ruins. Agora, cabe sim também aos designers, assim como cabe a nós antropólogos entender os processos de design, entender as ferramentas — eu fui fazer curso de Figma, coisa que eu nunca mais vou usar, eu fui fazer curso de produto mesmo sem querer ser gestora de produto, mesmo sem querer ser PO ou PM — cabe a nós fazer esse passo mas também cabe ao designer estudar métodos, estudar, até para ele saber demandar, tinha gente que não sabia demandar, e aí você precisa saber demandar, reportar o que você quer entender.
Carol: Essa fala da Elizete é maravilhosa, sério, porque a coisa que eu mais fico angustiada é assim, “Carol, você tem um framework de uma pesquisa etnográfica?” e eu “caralho, qual é o recorte da pesquisa?”. “Não, não precisa saber o recorte da pesquisa, eu quero saber se tem um framework”, gente, mas olha só… Eu posso te dar uma receita de bolo, se você não usar os ingredientes de uma maneira coerente, o bolo vai dar errado! Então eu preciso saber o que você quer antes, se você quer um bolo, se você quer um brownie… Não adianta. Outra coisa que eu fico meio assim… Os designers sofrem de uma síndrome do impostor muito severa, porque assim, os caras são excelentes! Eu aprendi tanta coisa com designers no quesito de pesquisa que eu não consigo nem enumerar aqui, então por exemplo, o dia que me caiu na mão a possibilidade de eu sentar com uma pessoa na minha frente e desenhar com ela uma ferramenta com interação, entendendo o contexto do indivíduo, aquilo me abriu um universo que eu não sabia nem fechar depois! Então se você souber fazer as perguntas certas, que foi isso que a Elizete falou, por isso que eu disse que essa fala é incrível, se você souber fazer as perguntas certas você tem metade do caminho andado, metade! Porque fazer pergunta certa, criar recorte e organizar o que você quer aprender naquela pesquisa, porque é o que a gente faz, o que a gente é treinado é a pensar em muitos caminhos para a gente resolver um problema. Obrigada Elizete, arrasou.
Paula: Mas aí eu acho que todas nós concordamos que existe aí um fator que é realmente do treino e preparação do pesquisador e que óbvio que quando estamos falando de nós como antropólogas nós estamos falando de um treino nessa área, então tipo, o jogador, o preparador físico vai fazer às vezes um treino de natação em determinado momento, um jogador de futebol, mas é mais ou menos nesse sentido que eu acho que senti muito isso quando eu fui estudar e observar e namorar mesmo essa área, era muito isso assim que até você comentou, e quando eu fiz o curso com o Edu eu até falei na aula, acho que eu passei uns cinco minutos assim querendo chorar porque era a discussão de etnografia que para a gente na antropologia a etnografia não é uma ferramenta, e quando a gente chega no dia a dia de uma pesquisa em design a etnografia é, “a gente vai fazer uma pesquisa etnográfica, é um negócio maravilhoso, a gente vai entender tudo”. Não! Até porque o antropólogo, falando da minha área de formação, o antropólogo é treinado para sempre cair o queixo, e se você chegou lá no campo e você não fez, “meu Deus, é tudo que eu me preparei, é muito maior do que eu pensava”, ou então “é muito mais do que eu achava, eu vou ter que cavocar muito mais”, então você não se preparou o suficiente, e às vezes acontece muito isso com pesquisador que não é bem treinado que é ele chega no campo e “ah, isso aí… No meu desk research aí… Já resolvi”. E isso tudo acontece com que, com os recursos metodológicos que a gente usa dentro da antropologia para que a gente construa tanto essas possibilidades de desconstrução e quebra e reconstrução, como a Elizete tinha me ensinado, junto com o design, já é uma coisa que enriquece bastante, mas essa é a profundamente que a meu ver ainda acho que a meu ver na formação ainda é muito válida, que é a teoria. Eu posso ser até polêmica, não tem espaço dentro da pesquisa de mercado de todo mundo estudar muitas teorias, lógico que não, mas por exemplo, o fato de uma equipe multidisciplinar existir e ela ser defendida dentro daquela empresa, vamos supor, ela vai fazer com que essas diferentes áreas olhem de uma forma que todo mundo consiga construir esse conhecimento prévio e chegar no campo com o mínimo, claro que não estou falando que todo mundo vai ter que chegar cientista social no campo, mas assim, conhecer o ser humano é multidisciplinar, não é só a antropologia que faz isso…
Carol: Arquitetura… Escola de Chicago…
Paula: Então eu acredito que esse treino não é simplesmente enviar um formulário ou saber qual ferramenta que eu vou usar de internet para isso, sabe?
Elizete: Eu acho que tem dois problemas na formação, um que eu acho que é muito geral do ensino superior em ciências humanas no Brasil, que é o pouco valor que a gente dá pra metodologia… Porque vamos combinar, todo mundo teve metodologia, não importa se foi design, se foi pesquisa social, se foi ciências sociais… Todo mundo tem metodologia. E são as disciplinas mais mal dadas de todas as pessoas que eu converso e isso independe da qualidade da universidade, porque eu vejo gente de universidade de ponta que sai formado das áreas mais diversas, psicologia… Vem falar comigo e teve a disciplina de métodos, técnicas e metodologias e não teve os princípios básicos, e isso está associado a pouco valor que é dado a essa disciplina. Nos Estados Unidos e na Inglaterra — eu falo sempre dos lugares que eu particularmente conheço — existe o papel do metodólogo e isso não é nenhuma novidade, chama-se metodólogo em português e em inglês é metodology designer, que não é uma pessoa formada em design, é uma pessoa que conhece métodos de pesquisa diversos que faz o desenho da pesquisa, e isso não é uma coisa nova, isso é década de 40, 50, 60, enfim, esse profissional inclusive se perde nos anos 90, que é aquela pessoa que tem uma formação em metodologias de pesquisa muito forte e continuava formando outras pessoas. Cara, no Brasil eu falava isso para os meus amigos “estou pensando em estudar metodologia na London School of Economics” olha só, é coisa chique, a pessoa era ambiciosa, e meus amigos olhavam para mim e perguntavam “mas por que? Você está deprimida? Você está com algum problema? Você quer enterrar sua carreira?”. E um segundo problema é esse excesso que a gente tem hoje de eventos de negócios que fica lá e a parte de “empatia” é ir lá e fazer meia dúzia de entrevistas e ou então um formulariozinho e então as pessoas disparam aquilo e ganham um prêmio e saem dali achando que aprenderam a fazer pesquisa e interação com o usuário e aprenderam a entender o usuário. Cara, não. Desculpa, sinto muito, aquilo ali é só um “startzinho” para você, tem que estudar metodologia, tem que pesquisar, tem que entender, o que significa fazer etnografia, o que significa fazer uma entrevista contextual que também trabalha com observação mas que não é a etnografia, e isso eu estou falando por exemplo da entrevista contextual — nunca trabalhei! Eu sei porque… Ai gente, olha que coisa horrível! Está no livro, mas a Denise e a Cecília trabalharam muito, tá? Mas assim, de entender inclusive, eu nunca trabalhei, mas entender em que contexto a gente consegue, e aí isso não é só para designers, é para qualquer pessoa que vai trabalhar com UX. A gente precisa, infelizmente, se formar pesquisador depois que sai da faculdade.
Carol: É total esse sentimento.
Edu: Pessoas, já estamos nos aproximando na verdade de uma hora de papo, passou muito rápido, mas eu vou jogar algumas perguntas que eu vejo que o pessoal está mandando aqui… Tem uma pergunta aqui de “marcenaria lab”, “como o designer pode adotar práticas de antropologia em seu trabalho no dia-a-dia?”.
Paula: Essa bola aí é para a Carol chutar, pelo amor de Deus. O que ela faz na Kyvo é isso, gente!
Elizete: É, vai lá, Carol.
Carol: Ai, lá vem, chego a ficar com a mão suando.
Elizete: Quer que eu dê um gancho?
Carol: Não, deixa eu tentar começar… É porque eu fico me prometendo que não quero ser polêmica mas dá. É que assim, eu não vou fazer demagogia, a Paula está aqui, quem quiser da Kyvo se manisfestar pode falar, e é muito real. A gente tem recortes de pesquisa, a gente fica craniando um belo tempo qual é o fenômeno social em que aquilo está envolvido. Tem um raio de uma revista que saiu, uma matéria que saiu na Harvard Business Review, “o que um antropólogo faz quando chega num bar”, que ensina a transformar um problema do cliente em um fenômeno para ser analisado, então por exemplo, o cliente chega e fala assim “meu cliente final não toma mais o meu café”, aí ele dá o exemplo assim “você não tem que pesquisar sobre o café do cara, você tem que pesquisar sobre o hábito de tomar café, sobre o fenômeno de tomar café, o que é tomar café naquele contexto social, com aqueles indivíduos, naquele ecossistema, então esse é o primeiro ponto. O segundo ponto, a gente se dá ao luxo de usar teoria na Kyvo, a gente tenta minimamente ter um recorte teórico de para quem a gente está olhando, então transação financeira? A gente vai olhar muito com Claude Lévi-Strauss, com princípio da reciprocidade, a gente pega muito autores clássicos. Quando a gente vai falar de mobilidade urbana, a gente fala muito do Marc Augé, a gente usa esses autores. Quando a gente vai falar de estratificação, criar persona, a gente traz muitas referências do Pierre Bourdieu, sobre a própria teoria dele de hábitos, de distinção social, então a gente tenta criar esse tipo de coisa. Além disso, é um processo de qualificação até do cliente mesmo, porque a gente faz um trabalho de treinar o cliente… De treinar não, de convidar o cliente a partilhar desse campo com a gente, então olha, entenda que é disso que a gente está falando, entenda que está acontecendo um contexto social. A gente localiza o cliente em um período histórico, a gente conta para o cliente sobre as transformações sociais do mercado, então tem todo esse papel holístico que a gente faz, então assim, de verdade, a gente se apoia muito no Double Diamond, no “sair com um problema, expandir, gerar uma concisão, sair com uma segunda versão”, mas isso muito com o olhar interdisciplinar de um antropólogo ou, quando não tem um antropólogo, como nesse projeto que a Paula está, e como em todos os projetos em que a Paula está, porque eu não posso tirar isso dela nunca porque ela é antropóloga, em todos os projetos que a Paula vai estar como antropóloga ela vai trazer esse olhar para dentro do projeto. Quando não tem um antropólogo dentro do projeto esse papel é meu, então eu faço a leitura de todos os projetos e tipo “ó, e aí minha gente? Qual é o contexto social disso aqui? Quem é o indivíduo em sociedade?”, então acho que é isso. De maneira bem prática, é isso. E, eu não ia falar, mas vamos falar: o raio da beleza, da autoridade, não se enganem, “Carol, a empatia não existe?”
Paula: Eu sabia que ia falar!”
Carol: É! Existe, existe, e ainda bem que existe! A empatia a gente precisa ter enquanto indivíduo! Eu tenho empatia com quem está no meu entorno! Agora, no momento de projeto, pro-je-to, eu estou com meu chapéu de projeto, eu tenho que dar um jeito de me afastar dos meus vieses para criar um entendimento das necessidades, das dores e dos desejos do outro, e isso é feito como? Na interação com o outro, no lugar de fala do outro. Tem uma palavrinha aí no meio que eu meio que escondo para não gerar mais confusão, são duas palavras, que é um processo de estranhamento que a gente tem que fazer durante o campo, e um processo dialético, que é um processo analítico das ciências humanas, não das ciências sociais, das ciências humanas. Pronto, parei.
Edu: Legal. Tem mais uma perguntinha aqui do Ricardo: “tem algum livro nacional para quem é designer e quer aprender mais de antropologia?”.
Elizete: Cara, tem vários.
Carol: É, tem vários. Em português ou em inglês? Vamos começar por aí.
Paula: Vamos fazer uma outra live, só de referências?
Elizete: Rick, fala que eu mando alguns. Assim, o que a gente costuma recomendar sempre é o… Não sei nem se ainda é esse mas é o… Esqueci! Carol, o clássico?
Carol: Tem o Relativizando, do Roberto da Matta, que é uma introdução…
Elizete: É, mas eu acho o “Relativizando” pesado. Tem o Cultura: Um Conceito Antropológico, que é uma boa introdução, eu acho que é uma boa introdução, tem um outro que é o “O que é Etnografia” que é pequenininho, da coleção Primeiros Passos, mas é muito bonitinho, e fala dessa questão da etnografia como uma abordagem e não como um processo, a etnografia não é um processo, é um abordagem…
(Nota: a Elizete reenviou o nome do livro, não é “O que é Etnografia” e sim “Etnografia e Observação Participante“)
Carol: Os textos da Mariza Peirano, Mariza Peirano gente, tá tudo online, maravilhosa! Ela explica muito bem!
Paula: Tem um artigo bem legal também, O que é etnografia para os Antropólogos, é bem legal, bem fácil também, é show. E também do Roberto Cardoso de Oliveira que fala do Olhar, Ouvir, Escrever, que falar sobre o fazer antropológico, esse também é show de bola. Esses eu acho que são bons começos.
Carol: Esse do antropólogo eu até tenho aqui, esses (artigos) eu tenho muito perto de mim porque eu consulto mesmo, gente, fica aqui. E tem um da Cláudia Fonseca que eu adoro, esse texto da Cláudia Fonseca porque ela escreveu para não-antropólogos, então eu acho que ela foi super, que é o “Quando um caso não é um caso”, se for o caso eu te mando, se precisar me pede lá em algum canto.
Elizete: Tem um que eu não sei se é dela, que o título é esse mesmo, “Antropologia para não-antropólogos”.
Carol: É, então. Tem uma outra coisa bem legal que é a Karina Kuschnir, ela tem um trabalho de esquete para antropólogos, então ela fala sobre como os antropólogos podem usar esse esquete, e aí ela começou a entrar nessa conversa de tipo, pensar abstração de acordo com com visualidades, como tornar visual algumas abstrações, isso também é uma coisa interessante.
Elizete: Sim. A Karina faz um trabalho que é justamente o inverso, que é muito legal, ela trabalha com a ideia de etnografia visual, mas que é você transformar, o treino do antropólogo é transformar as suas observações, as suas análises em texto, e ela trabalha ensinando os antropólogos a transformar isso em imagem, e principalmente desenho que é a ferramenta dela, mas ela trabalha também com colagens — aí fazendo um pequeno merchandising de novo no curso, inclusive o meu trabalho de fim de curso foi pegar todo aquele conceitual teórico e transformar numa visualização, e aí nesse ponto óbvio que os designers sempre mandam super bem, mas os antropólogos que fazem o curso também não fazem feio, mas que esse exercício também que eu entendo muito como exercício de estar no lugar do designer, qual é a dificuldade de pegar tudo isso que a gente observa e transformar em algo visual, e transformar em artefato, e a Karina faz isso super bem, é um trabalho super legal, vale a pena também acompanhar a Karina, ela é da UFRJ.
Carol: É, tem coisas maravilhosas. Isso que a Elizete falou é legal. Mandem mensagem para a gente — vocês acham a gente fácil, no LinkedIn acha, manda mensagem que a gente manda a bibliografia.
Paula: Está até marcado no Instagram da Mergo, estamos lá.
Elizete: Mas por favor, gente se descobrirem meu telefone e se mandar mensagem por Whatsapp, por favor comece assim “oi, eu sou fulana/oi, eu sou fulano”, porque as pessoas me mandam mensagem assim “oi Elizete, tudo bem? Você pode fazer isso, isso, isso e isso por mim?” Sim, eu posso, é claro, mas falar “oi, eu sou fulana, te conheci em lugar tal”, por favor, senão eu fico parecendo grosseira de ter que ficar “oi, quem é você mesmo?”.
Edu: É, isso acontece bastante. Mas de qualquer forma pessoal, a gente vai depois transcrever essa conversa, a gente tem o hábito de fazer isso, a gente transcreve essa conversa toda, se alguma coisa de referência gente não entender, a gente pergunta para elas e vai colocar num post depois no blog, mas pessoal, a gente já passou aqui, 1h05m já de conversa, a gente podia ficar aqui com vocês, ouvindo vocês aliás, podia ficar aqui duas, três, quatro horas, mas acho que a gente vai ter oportunidade para outros papos lá na frente, então eu queria muito agradecer vocês por essa conversa, essa disponibilidade, imensamente honrado de estar aqui com vocês, ouvindo vocês, como a Carol falou da hierarquia, eu estou aqui na hierarquia só para ouvir vocês, vocês estão ali em cima…
Carol: Não é aqui Edu, é lá nas academia, lá no universo acadêmico…
Edu: Mas vale para cá também. Mas gente, queria muito agradecer, queria que vocês dessem um recadinho final, uma despedida para o pessoal, para a gente encerrar.
Elizete: Vai invertido agora.
Carol: Vai Paulinha.
Paula: Agora eu vou. Gente, eu queria agradecer, agradecer o Edu, a Mergo, a Karen, Carol, Elizete, todo mundo que mandou várias perguntas, adorei, adoro conversar sobre esse assunto, e se alguém também quiser continuar — ou sobre todos os outros, né, Carol? — mas enfim, se alguém quiser continuar o papo sobre isso, pedir alguma indicação, eu também migrei agora há pouco tempo, então a gente pode ter uma conversa legal, eu estou no LinkedIn, é fácil me achar, Paulas Neves Cisneiros, e também estou no Instagram, também é fácil achar. Tá bom? Até a próxima. Vai Carol.
Carol: Vou. Gente, eu agradeço o tempo todo, vou continuar fazendo esse papel aí… Estou com uma demanda, fui convidada recentemente para compor o board do Epic como representante, então logo logo trarei novidades sobre isso, e aí eu estou mandando para o Edu um link que eu gostaria de compartilhar para usar com respeito, é um calendário, que eu tenho me disposto a falar com pessoas sobre esse assunto, então o que acontece, a pessoa clica no calendário, vai aparecer alguns horários da minha agenda que eu estou dispondo para falar, então são trinta minutos que as pessoas conseguem blocar esses horários, mas venham com perguntas, não venham tipo “estou aqui Carol, agora pode falar”, então assim, é para a gente compartilhar mesmo. A gente está com uma campanha bem legal na Kyvo que eu abracei, peguei amor, que — a coisa da Carol blogueirinha é uma zueira, mas a questão toda é que a gente está querendo tornar mais aberta para as outras pessoas parte das discussões que acontecem dentro da Kyvo, são discussões muito ricas, por exemplo a gente cria bibliografia. A Paula, agora ela não falou isso, mas ela está criando uma bibliografia sobre antropologia de negócios para a gente, então provavelmente a gente vai começar a discutir esse assunto. Outra coisa que a gente vai começar a falar mais é da antropologia das emoções, porque a Paula também tem essa bibliografia que ela já trabalhou, então são coisas que a gente tá tentando apresentar para o mercado de uma maneira mais didática, e isso tem a ver com a Carol Kyvo mas tem muito mais a ver com a Carol pessoa. Obrigada por esse espaço mais uma vez, Edu, quando você quiser eu estou aberta sempre, “é nóis”.
Elizete: Então gente, eu fiquei para falar por último porque eu tenho os comerciais para fazer! Eu quero agradecer a Karen, obrigada, incrível! Eu ficava olhando para ela enquanto vocês estavam falando, e é muito legal a gente ver esse trabalho, que não é fácil, é pesado, imagino que seja. Agradeço ao Edu o convite, fiquei muito honrada, muito honrada de falar a primeira vez com a Carol, porque a gente fala sempre mas nunca falamos publicamente, muito honrada de falar com a Paula, saber que a Paula fez o meu curso, que legal! Espero que tenha gostado e que eu não tenha falado nenhuma bobagem! Se eu falei, tudo bem, guarde para si! Mas é muito legal poder falar com vocês, a Fabi que foi da Kyvo, além desse curso vai vir o outro que é o Antropologia, Design e Consumo: A Prática do Dia a Dia, e a Fabi vai ser uma das pessoas que vai falar, não vou ser eu, vão ser pessoas convidadas…
Carol: Você tem um fã clube na Kyvo, Elizete.
Elizete: Eu sei, eu sei, mas quando eu chamei a Fabi eu não sabia que ela era da Kyvo, foi por outros caminhos, e aí eu lembrei que ela era da Kyvo. E o que mais… Acompanhem o Observe 2020, que vai ser o primeiro evento brasileiro de pesquisa de experiência do usuário e a gente está fortalecendo muito isso em português, em “brasileirês”, o Observe… E também acompanhe o lançamento do livro, quem colaborou na benfeitoria: vai chegar, quem comprou na pré-venda: vai chegar, quem quiser esperar lançar: vai chegar! Que é o UX Research Com Sotaque Brasileiro. Obrigada, gente!
Edu: Gente, muito legal! E só reforçando, a Elizete falou do Observe, o próximo Papo Qualitativo vai ser justamente com a galera da organização do Observe, vão vir algumas pessoas aqui para a gente bater um papo, e agradecer todos vocês que estão aí assistindo, que estão aí comentando, colaborando, infelizmente não deu tempo de colocar a pergunta de todo mundo, o Murilo acabou de falar aqui “minha pergunta ficou de fora”, mas Murilo, manda para a gente aí, se conecta nas redes que a gente vai conversando. Galera, muito boa noite para vocês e até a próxima!
Todos: Boa noite! Sextou!
[Fim da transcrição]
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