O Flash não precisava de mais outra pá de terra em sua cova. Se antes ele era duramente criticado por sua acessibilidade, com o panorama da mobilidade (e a aversão desta plataforma ao plug-in), o espaço do Flash só foi se extinguindo. Mas ainda havia uma defesa matadora: enquanto a mobilidade acuou a publicação de conteúdo, um bom naco do tráfego no HTTP era vídeo, rodando num player SWF. Youtube e centenas de congêneres (Xvideos? Não, nunca ouvi falar).
Uma pesquisa da Ericsson (Brasil inclusive) determinou que 72% dos entrevistados assistem vídeos em dispositivos móveis (mas apenas 45%, o fazem fora de casa).
O que podemos tirar disto:
- Como em dispositivos móveis o Flash não foi convidado, este pessoal está declinando o uso de conteúdo que é transmitido via um player SWF. Nem mais o argumento que ainda se usa Flash para ver vídeo, é uma tendência definitiva. Mas fique tranquilo: o Flash sempre terá um espaço especial nos portfólios dos designers;
- Quando se começou a falar em convergência de meios (a quem queriam enganar? Só queriam só discutir a fusão de TV e Internet), uma crítica costumeira é que enquanto o browsing era uma experiência privada, zapear uma TV poderia ser com duas ou mais pessoas. No final das contas, quem está ganhando é a experiência individual;
- Navegar enquanto se assiste TV: Analisar o IBOPE em tempo real descentralizou. Telespectadores podem medir o impacto de um programa de TV numa rede social e interagir enquanto assiste;
- Navegar enquanto se assiste TV: O hyperlink já não é mais o elemento essencial da experiência online. Ter mais de uma tela divide este espaço. Os usuários buscam sobre elementos que veem na TV em algum leve dispositivo móvel (celular, tablet ou notebook no colo). Naufraga assim a visão antecipada da convergência, aonde você via os óculos escuros do ator, clicava e o comprava para si, tudo em uma única interface;
- O Flash não vai pro buraco sozinho, a promessa de uma “hyperTV” do SMiL (W3C) vai junto. Nem chegou a começar a andar e já era;
- Finalmente a Rede Globo vai cair. Mas não porque a concessão pública vai assumir sua função social e apresentar documentários sobre não deixar água parada. Os telespectadores vão adotar modelos como o do Youtube (e congêneres). Pode-se dizer que as telas têm atitudes separadas: TV para canais e mobiles para Youtube. Mas canais têm aversão em transmissão via IP, então celulares não virarão TV (exceto por alguns chineses que tem rádio, TV, ondas curtas e arrebentam pipoca). Mas as TVs estão virando… Smart TVs. Elas ainda estão no tempo do orelhão de ficha se comparada com smartphones, mas com o tempo, se verão obrigadas a ter lá suas app stores. Daí, você não ficará mais amarrado ao que vier nas ROMs das TVs;
- Emissoras de TV terão que virar canais de Youtube. IPTV será aonde os bocós assistirão a Copa de 2018. Enquanto as emissoras regem hegemônicas nas TVs, na internet serão apenas um perfil a mais no Youtube. Enquanto na hegemonia a TV pautava uma sociedade, com diversos players transmitindo, este impacto será mais efêmero. Como será uma sociedade sem a TV a pautando?;
- O modelo da TV que pouco se modificou nos últimos 50 anos vai cair feito um “castelo de cartas” (se você assinou Netflix, entendeu o que quis dizer). Grupos independentes como o “Porta dos Fundos” já estão conectados a este novo modelo. A publicidade online (no Youtube, não os banners), já é muito mais ousada e inventiva que a da TV tradicional – vide as campanhas que vão ao ar apenas online;
- Cauda longa: Modelos de produção precisarão prever o uso de imagem de atores por até o fim dos dias. A TV resolvia bem isto: Venceu o contrato, retiravam do ar. Pagavam alguns níqueis pra continuar exibição de um “Chaves” para ocupar horários de traço. Agora sempre haverá uma demanda constante;
- IPTV demanda banda larga; então experimentaremos um momento que TV será uma coisa que só se assiste na fazenda ou na casa do avô no interior. Algo como ouvir rádio. Mas isto até meios de fazer chegar banda larga em todo o planeta. Google já especulou sobre e o Facebook anunciou recentemente este interesse. Alguma hora alguém consegue;
- Cacheamento de programas de TV será o novo DVD. Video Google Play Music é streaming, mas você pode definir o que quer guardado dentro do dispositivo para ter acesso sem depender de banda;
- Enquanto TVs não viram Smart TVs com app stores, restam a solução das set-top boxes, correto? Errado. Esta estratégia é furada e já tecnologicamente defasada (pense assim: tudo que a TVD brasileira estiver fazendo, é o caminho da defasagem. E eles vivem defendendo a set-top boxes). O dongle Chromecast torna qualquer coisa com uma entrada HDMI e uma USB numa Smart TV by Google. Interagindo com duas telas. Por uma ninharia;
- Apple TV usa set-top box. Mas por pouco tempo. Não iremos estranhar que em breve, a integração com iOS venha. Na forma de uma iTV ou de um iDongle.
Muito bom o texto, queria apenas comentar que, na minha opinião, o principal fator para não se assistir vídeos fora de casa ainda é a conexão. Poucos tem 3G estável e operando em velocidade normal – não reduzida, como geralmente acontece. Mas com certeza, a força dos dispositivos móveis foi um golpe bem forte no Flash.
Qualquer TV pode ser uma “smart tv”. Apenas conecte um HDMI no seu laptop e use qualquer site de vídeos. Preferencialmente livres e federados como GNU MediaGoblin ou simplesmente baixar seriados, músicas, filmes e deixar em um SSD externo. Simples assim.
O problema desses sistemas internos de “smart”phones e “smart” TVs é que não são nem um pouco “smart”.
Acho que complicam a vida demais, enquanto tudo pode ser simples.