E o pessoal achou complicado migrar do desktop publishing para new media:
Outra morte anunciada: Web design. Sim, eu sei, vocês são o diferencial que manterão a chama da profissão viva, aplicando aquele feeling excepcional que não há em mais nenhum outro lugar.
O problema é a paisagem. Sempre ela. Se bastou um pedregulho cair do céu e toda uma Pangeia de dinossauros viraram petróleo, que dirá o que faria com os web designers.
Falando no Cretáceo, havia profundas discussões em meados de 1996, sobre se o que valia para o design gráfico valia para o web design. Não, não valia. Sequer tínhamos controle tipográfico. A web sofreu por anos por causa dos arroubos da galera que não notou que a paisagem era outra.
New media é diferente do papel: Não tem margem de corte e há o diacho do hyperlink, esta coisa insubordinada. Agora que a new media já estava virando commodity media, todo mundo craque em lidar com ela… Chega o multiscreen.
O pessoal que se dispôs a criar apps está um tanto na vanguarda desta paisagem. Mas nem tanto assim: Como no web design, a coisa não é ciência de foguete, qualquer um com computador há de ter acesso para desenvolver apps.
Mas precisa pensar em termos de multiscreen. E nem isto é o pior: Não há um W3C guiando a indústria. Estamos nos primórdios da paisagem. É como VHS disputando com o Betamax; É como a Odissey disputando com a Atari; É como a Compuserve disputando com a AOL: Padrões proprietários que ainda não convergiram. Felizmente ainda há poucos players e há pouca chance que novos players entrem sem adotar alguma plataforma majoritária.
Alguma chance de surgir um W3C, ou quem sabe, o próprio W3C propor padronização para o multiscreen? Nula. Nunca houve interesse em surgir uma padronização industrial para console de videogames e eles não parecem infelizes com isto. O W3C pode até propor algo no sentido, mas é como o SMiL: Eles têm uma plataforma de markup para streaming de áudio e vídeo e quando muito, apenas o Real Media o adotou. Isto mesmo, aquele player que ninguém mais lembra, exceto compartilhadores de seriados nacionais mais interessados em compactação do que em qualidade de vídeo.
Outro defunto pra ser embalado é o SBTVD. Sua prometida interatividade é claudicante, não tem metade dos recursos que Lula arrotou, arrasta-se a passos de burocracia estatal e se chegar, vai ser monoscreen. Isto é o que dá colocar o Governo para fazer o serviço de iniciativa privada: Vai na direção errada e ainda chega atrasado.
E os produtores de conteúdo? Bom, o jogo zera novamente. Os fabricantes de hardware (e talvez em menor escala, os desenvolvedores de apps) começam a ter poder aonde apenas os canais e produtoras detinham. É como nos videogames, nenhuma produtora de conteúdo é maior que o fabricante do console. TVs e produtoras tem o essencial conteúdo, mas é aquela coisa… monoscreen.
Quando deram processamento de sobra aos produtores de conteúdo com a tecnologia do DVD, tudo que conseguiram criar foi “comentários do diretor”. Multiscreen pode fazer o menu de opções interativas do DVD parecer uma fita cassete.
Se não ter um W3C é uma diferença marcante, pior são os usuários: Antes de a indústria sequer pensar em termos de multiscreen, eles já estão fazendo uso do multiscreen. Assistem e twittam ao mesmo tempo; caçam referências na Wikipedia ou traduzem o termo em francês que aparece.
Se o mercado se antecipou a determinação do HTML5 do W3C, agora usuários se antecipam ao mercado usando eles próprios o multiscreen. Falta o mercado não errar, fazendo como no DVD: Muita tecnologia, muita banda, laser e tal… Mas criam coisas obtusas como as regiões aonde o conteúdo pode ser assistido.
O usuário adotou o multiscreen naturalmente por querer mais liberdade, e não menos.
Mas como pensar em termos de multiscreen? O seriado Lost. Se você concluía um episódio e voava para a Lostpedia, isto já era multiscreen. Se o link entre documentos já era hyperlink, veremos algo como um “überlink“, controles que acionamos e se distribui em diferentes telas. Se o hyperlink era assíncrono, você acionava quando quisesse e o conteúdo sempre era o mesmo, “tempo” será uma variável importantíssima no überlink.