Porque o Google é o Google?
Por coisas como essa aqui: slate.com/articles/technology/good_riddance
A próxima geração do Chromebook (que não é um computador de verdade, segundo a Microsoft e o pessoal do Trato Feito, “pois não tem MS Office”) eliminará do teclado a Caps Locks. No lugar, colocarão uma tecla Search.
Faz um tremendo sentido. Eliminar a Caps Locks. Mas, e a Search? Em partes:
No texto, relembram que a Caps Locks é uma tecla herdada das máquinas de escrever (aquele negócio que ficava ao lado do toca-discos e o amuleto contra dinossauros) e quando fabricantes começaram a introduzir computadores no mercado, e o máximo que eles faziam era processamento matemático e texto (sem gráficos), copiaram o recurso das Remingtons e Olivettis para aproveitar a mesma experiência dos datilógrafos.
A tecla foi introduzida no século XIX nas máquinas de escrever. E continuam nos computadores até hoje por… Inércia tecnológica. Vão ficando lá. É como a Sys Rq ou a Scroll Lock, primas que só surgiram num advento não muito posterior à máquinas de escrever, o IBM PC XT.
Interfaces touchscreen já não tem mais a Caps Lock – mantenha o Shift pressionado e VOILÁ. Qual era a dificuldade de habilitar isto num teclado mecânico? Só a do Google vir e mostrar como se faz.
E colocar um Search no lugar, faz sentido? Para o Google, não. Sou usuário de Android deste criancinha. No Android 3.x, os celulares mantinham na interface um atalho para Search. Útil pra burro. No Android 4, declinaram deste atalho (agora tem apenas Home, Voltar e Alternar apps).
Claro, no Android 4 a busca fica a cargo do Google Now, permanente na tela. Mas que faz buscas num escopo amplo. No Android 3.x, se precisasse fazer uma busca, por exemplo, dentro do Evernote, Springpad ou Winamp… Era só clicar na tecla Search. Hoje, no Android 4, este Search fica escondido em algum menu popup. Nem sempre está à vista. No Chrome, por exemplo, o Find está depois que expomos o menu superior e clicamos para abrir o popup.
Mas para o usuário que se aventurar no Chromebook, a tecla Search à mão pode ser muito útil. Afinal, é metade do trabalho de clicar <ctrl + F>, né? Bom, isso no caso de todos softwares, pois no Microsoft Office eu acho que era <ctrl + H>. O Office, aquele conjunto de programas em que <ctrl + A> abre arquivos ao invés de selecionar tudo, <ctrl + T> não abre caixa de diálogo de textos, mas seleciona tudo. E ainda, salva-se um documento clicando <ctrl + B>, que não é negrito, pois negrito é no <ctrl + N>… que outros programas normais usam para abrir um novo documento.
Inércia tecnológica. Fica fácil inovar assim, basta só quebrar esta inércia, correto? Nem tanto. Por que até hoje usamos teclados que foram inventados quando o homem ainda usava cavalos pra voltar para casa no fim do dia? Porque até hoje não surgiu nenhuma tecnologia tão prática quanto as teclinhas.
Reconhecimento de voz? Olha, melhora na toada da Lei de Moore, sem dúvida. Mas pense num andar inteiro de gente teclando seus memorandos e agora pense no mesmo andar, de gente ditando seus emails. Teclado é uma tecnologia barata, funcional e incrivelmente discreta. Exceto por deslizes gramaticais (exceção, essessão, encheção), tem uma baixíssima ocorrência de entradas de dados dúbios.
Imagine preencher uma planilha de dados ditando-os. Assim não dá, Bionicão.
“Ah, tem o Minority Report“, dirá aquele sujeito entusiasta do design, que usa cachecol aos 35 graus Celsius e óculos retrô colorido. De fato, manter os braços erguidos apoiados em… luz, nossa, que ergonômico. Quero passar cinco dias por semana, oito horas por dia assim. Melhor que isto só aquelas telas que a gente enxerga através delas, como vimos em “Os Vingadores”.
É possível que nossos netos ainda tenham lá que lidar com seus teclados, exceto se o processamento conseguir eliminar a dubeidade ao interfaciar os bits. Claro que o avanço tecnológico pode vir a eliminar a própria interface. Computação tão avançada que pesca dados e comandos diretamente do cérebro.
Falta saber se a computação vai ficar tão singular a este ponto e não vai escravizar a humanidade antes disto. Vai ver, são os teclados que ainda nos mantém a salvos.