Quarto episódio do Escuta Ativa, um podcast produzido pela Mergo e apresentado por Edu Agni, falando sobre segmentação, triagem e consentimento no recrutamento para pesquisa remota.
Depois de abordar o trabalho de moderação em pesquisa remota na semana passada, nesse quarto episódio do Escuta Ativa eu venho falar um pouco o processo de recrutamento para pesquisa, tanto no âmbito geral — identificação de grupos de usuários, variáveis de segmentação e screening — quanto no aspecto remoto — interceptação de usuário e consentimento.
Você pode acompanhar o podcast através do SoundCloud, Deezer, Spotify, iTunes ou aqui no blog com transcrição. Então, boa audição / leitura para você. E caso tenha algum ponto de vista, dúvida, opinião ou sugestão para compartilhar com a gente, basta enviar através do Instagram da Mergo, que a gente vai incluíndo nos próximos episódios 😉
Para aprender e trabalhar com pesquisa em design, inscreva-se na Formação em UX Research da Mergo: mergo.com.br/formacao-ux-research
[Início da Transcrição]
[Vinheta de abertura] Você está no Escuta Ativa, o podcast com doses de UX para você escutar.
[Pausa na fala, com música de fundo]
Edu Agni: Como recrutar participantes para fazer uma entrevista ou um teste de usabilidade? Como eu posso solicitar e documentar o consentimento para coleta de dados, para a gravação de uma pesquisa remota? É isso que a gente vai conversar aqui no episódio número quatro do Escuta Ativa, que é o podcast da Mergo para você aprender mais sobre UX. Aliás, a Mergo tem a missão de ajudar os profissionais a aprender mais sobre UX não só nesse podcast. A gente também está no Medium com o //ux.blog, que tem uma porção de artigos legais para vocês lerem. No nosso canal no YouTube que tem uma porção de conteúdos para assistir, vídeos de palestras dos nossos eventos por exemplo. E também com os nossos cursos… A Mergo é uma escola especializada em cursos e treinamentos na área de UX, e tem inclusive cursos online para você fazer durante a quarentena. Então, se quiser conhecer um pouco mais do nosso trabalho, segue a gente lá no Instagram, procura por @MergoUX e acompanha para conhecer um pouquinho mais do nosso trabalho.
Nessa primeira temporada do podcast, você está aprendendo sobre pesquisa remota. Nos episódios passados eu falei sobre as dimensões de pesquisa, falei sobre o porquê você não deve fazer pesquisa com UXers, falei sobre a diferença entre as pesquisas moderadas e automatizadas, e também como devemos fazer moderação em pesquisa remota, e hoje você vai me ouvir falar sobre uma das questões mais decisivas para que o seu estudo dê certo, para que a sua pesquisa tenha sucesso, que é o “recrutamento”.
Então fique ligado aí! Eu sou o Edu Agni e estou aqui mais uma vez para conversar sobre pesquisa remota com você. Vamos nessa comigo?
[Pausa na fala, com música de fundo]
Eu acho que a pior coisa que pode acontecer para alguém que trabalha com pesquisa é errar de alguma maneira no processo de recrutamento dos participantes, porque isso inevitavelmente pode estragar sua pesquisa, pode fazer com que você converse e pesquise com uma porção de pessoas que não se encaixam no perfil do público ou na segmentação de público que foi definida para o seu projeto, e isso pode direcionar de uma maneira equivocada as informações que você está coletando para o projeto. Pode ser inclusive que não estrague o resultado da sua pesquisa, pode ser que você perceba que aquela pessoa com quem você está conversando não se encaixa no perfil e descarte aquela sessão de pesquisa, mas mesmo que você não direcione de uma maneira equivocada o resultado da sua pesquisa, inevitavelmente você vai perder tempo e dinheiro, que são duas coisas que a gente não tem muito para perder durante as pesquisas.
Então definir bem é seu público, definir bem as variáveis de segmentação é essencial para a gente não errar nesse processo de recrutamento. Por isso uma das coisas que você precisa ter bastante atenção durante o processo inicial, durante o planejamento é na identificação dos grupos de usuário, ou seja, aquele mapeamento sobre que tipo de pessoa você vai ter que conversar para realizar o seu projeto de pesquisa. Essa definição, essa identificação dos públicos pode vir de diferentes lugares, pode vir do direcionamento do próprio modelo de negócio, quem a empresa visa atender com seu modelo de negócio, qual é o nicho de mercado que se pretende atender; pode vir a partir de uma pesquisa de benchmark que vai trazer para você um pouco de como os possíveis concorrentes vêm funcionando, quem eles vêm atendendo; pode vir a partir de Desk Researches, que são aquelas pesquisas em dados secundários que podem te contextualizar sobre o problema que você quer resolver, que você quer entender e isso vai te ajudar a mapear quem são as pessoas que passam por esse problema ou por esse desafio; algumas sessões de pesquisas exploratórias podem ajudar a gente a conversar com alguns usuários e identificar aqueles que fazem parte ou não do nosso público.
E depois, usar todas essas informações que você já tem, que você levantou, para fazer talvez alguma modelagem de usuário, a criação de algumas Proto-Personas que ajudem você a identificar de uma maneira mais consistente os diferentes segmentos de público que você precisa conversar para esse projeto. E uma vez que você identificou os possíveis grupos de usuários, os diferentes segmentos de público que você tem para conversar, é interessante que a gente faça uma definição de quais são as variáveis de segmentação. O que são essas variáveis? São conjuntos de características que a gente vai identificar em cada segmento de público para garantir que as pessoas com quem a gente converse façam parte desse mesmo segmento. Essas variáveis de segmentação podem ser dados demográficos como por exemplo a faixa etária ou o status de relacionamento, podem ser dados geográficos como a regiões onde a pessoa mora, país, estado, cidade ou bairro, podem ser dados comportamentais, coisas que a pessoa faz ou não, “a pessoa gosta de ir no mercado a cada 15 dias”, ou então dados atitudinais, que envolvem declarações dessas pessoas, como a pessoa dizer por exemplo que “espera conseguir um futuro melhor para os filhos”.
Então para a gente entender um pouquinho melhor o que seriam essas variáveis de segmentação, vamos supor que a gente esteja fazendo um projeto de pesquisa para pessoas que prestam concurso público. Dentro disso eu posso identificar vários grupos de usuários, vários segmentos de público para que eu possa trabalhar a minha pesquisa, eu posso pensar em pessoas que já prestaram concurso várias vezes e nunca passaram, posso pensar em pessoas que já prestaram muitos concursos e passaram, posso pensar em pessoas que nunca prestaram concurso público e vão prestar pela primeira vez, então eu posso identificar ali diferentes grupos. Dentro de cada um desses segmentos que eu posso identificar, eu posso definir uma lista de variáveis de segmentação que vão me garantir que as pessoas que eu recrutar dentro de cada segmento fazem parte realmente desse mesmo grupo, ou seja, têm ali um padrão de comportamento e de características comuns. Por exemplo, vou determinar aqui que um segmento que eu vou recrutar de pessoas para essa minha pesquisa sobre concurso público são:
- Pessoas de 25 à 40 anos
- Moram na cidade de São Paulo
- Possuem ensino superior
- Já prestaram concurso público mais de uma vez
- Nunca passaram num concurso público
- Têm dificuldades para organizar os seus estudos
- Não estudam por mídias digitais
- Buscam estabilidade financeira
Então, se eu recrutar pessoas que têm todas essas características, mesmo que elas sejam pessoas diferentes, com vidas completamente diferentes, isso vai me garantir que elas fazem parte de um mesmo grupo de usuários, do mesmo segmento, que elas têm padrões comportamentais comuns. Normalmente quando pessoas compartilham entre si em média 8 variáveis de segmentação, eu já posso considerar que essas pessoas fazem parte de um mesmo grupo de usuários, de um mesmo segmento. Isso vai me permitir inclusive, futuramente, fazer o download da pesquisa desse segmento para criação de uma Persona ou de um Mapa de Empatia. Detalhar também essas variáveis de segmentação, que vão me ajudar a classificar os usuários, vai me ajudar a montar o nosso Screener de pesquisa, que é aquele questionário que vai ajudar a gente a fazer a triagem desses participantes, ou seja, de pegar toda aquela massa de pessoas e filtrar, para ter certeza que aquelas que eu selecionei estão dentro do perfil esperado. Eu posso criar um Screener, um questionário de triagem, para usar através de contato pessoal, como quando eu abordo pessoas na rua para pesquisa ou mesmo quando eu estou fazendo recrutamento por telefone, por email, ou mesmo criando um questionário online, uma survey, ou um formulário que eu vou disponibilizar para as pessoas responderem deixando os dados delas para que eu possa fazer esse recrutamento.
As perguntas que eu vou colocar no meu Screener dependem das minhas variáveis de segmentação, então se eu sei que eu quero recrutar pessoas de 25 à 40 anos, uma das perguntas que eu tenho que fazer é sobre a idade da pessoa, para ver se ela se encaixa na faixa que eu preciso. Se eu quero recrutar pessoas da cidade de São Paulo eu vou perguntar onde elas moram, se eu quero recrutar só pessoas que têm ensino superior, eu vou perguntar qual é o grau de escolaridade, e assim por diante. Então, as perguntas que a gente vai colocar nesse Screener dependem muito dessas variáveis de segmentação, elas que vão ajudar a filtrar quem são as pessoas que a gente vai de fato recrutar. Inevitavelmente para fazer recrutamento você precisa de um Screener, você precisa de um questionário de triagem porque você precisa garantir que os participantes, essas pessoas que você está chamando estão dentro do perfil esperado, até para não distorcer o resultado da sua pesquisa com perfis diferentes do que foi imaginado como público alvo.
Depois de identificar os grupos de usuário, definir as variáveis de segmentação e montar o seu Screener, a gente precisa ir atrás de pessoas para esse recrutamento. E tem algumas formas diferentes de nós encontrarmos usuários, e eu quero listar para você algumas delas.
Primeiro, se a sua empresa tem dinheiro e não só tem dinheiro mas acredita na importância da pesquisa, se existe uma verba disponível para isso, uma boa opção talvez seja a terceirização do recrutamento, contratar uma empresa especializada para fazer esse trabalho para você, porque é um trabalho chato, é um trabalho demorado, é um trabalho que envolve burocracia, que envolve ir atrás das pessoas, fazer todo o screening para identificar os perfis, de fazer os agendamentos, de fazer a parte burocrática de documentação, de consentimento, de ter usuários de backup caso alguém falte… Então é um trabalho chato, é um trabalho demorado, e que às vezes toma muito tempo do pesquisador, que podia estar investindo o tempo dele em preparar a sessão de pesquisa, em preparar o roteiro, em fazer a própria compilação dos dados, o download da pesquisa… Então se você tem essa possibilidade de terceirizar, é um problema a menos para você, mas é claro, a gente também tem que tomar um certo cuidado com essas empresas de recrutamento, porque algumas delas podem não ter um trabalho tão sério e podem não recrutar de uma maneira tão eficaz e eficiente pessoas dentro das variáveis que você precisa de fato, então é legal a gente ter indicações confiáveis de empresas que a gente pode utilizar para isso, conversas com essas empresas e ver como eles cuidam da seleção de pessoas, ver se eles têm funcionários fixos que trabalham fazendo isso, ou se eles contratam freelas que às vezes ganham por participante recrutado — que se preocupam mais com volume do que com qualidade — como eles trabalham o backup de usuários, caso algum falte numa sessão de pesquisa, qual é o tempo que eles levam para fazer tudo isso… Então a gente tem que tomar um certo cuidado, ter recomendação é sempre uma boa ideia, conhecer o processo de recrutamento dessas empresas é essencial, e principalmente como eles fazem pra evitar mentirosos na pesquisa, porque uma coisa que eu ainda vou falar… é que tem muitos usuários fakes, são os participantes profissionais de pesquisa que a gente tem que tentar evitar. Mas enfim, é bom você conhecer e confirmar a qualidade do trabalho dessas empresas de recrutamento se essa for a sua opção.
Agora, se a sua empresa não acredita muito em pesquisa, ou não investe financeiramente muito nisso, talvez seja o seu caso, aí a gente precisa recorrer a algumas outras formas de recrutamento, e uma boa pedida pode ser a engenharia social, que é basicamente você ir atras da sua lista de contatos. Eu costumo dizer que a gente está cercado de usuários, então talvez você tenha um conhecido que se encaixa no perfil, ou seus amigos conhecem alguém que se encaixa no perfil de usuário que você precisa para essa pesquisa. Ativar nossa rede de contatos acaba sendo uma forma mais emergencial e rápida de conseguir um bom usuário, então é mandar uma mensagem num grupo de Whatsapp ou mesmo numa rede social, mandar para os seus conhecidos indicando o tipo de perfil que você precisa, pedindo indicações de pessoas, essa pode ser uma maneira mais rápida e direta e prática de a gente conseguir usuários. A única coisa que eu recomendo é que você não faça pesquisa com amigos ou familiares, porque muitas vezes essas pessoas não vão te respeitar como pesquisador, vão ficar fazendo brincadeira durante a sessão, vão ficar questionando o que você tá fazendo, ou então vão tentar te agradar de alguma maneira e dizer alguma coisa que não vai representar a verdade ou que ela pensa… Então eu prefiro evitar fazer pesquisa com amigos e familiares para não ter esse tipo de distorção no resultado. Agora, amigo de amigo, ou aquele contato de Facebook ou LinkedIn que você nunca viu na vida mas está lá, esse tipo de pessoa pode ser bastante útil para a gente recrutar para pesquisa.
Uma outra forma que a gente tem de recrutar — e que eu considero a forma mais fácil — é quando a gente tem uma base de clientes, quando você trabalha numa empresa que já tem um produto ou serviço, que já tem uma cartela de clientes cadastrados com dados, com informações, com variáveis, com informações de contato, isso tudo facilita muito o recrutamento. Até porque cliente e usuário são coisas diferentes, usuário é só quem usa um produto, agora o cliente é quem já tem uma relação com a sua empresa, e quando essa pessoa já tem uma relação com a sua empresa, a possibilidade dela querer ajudar a empresa (até porque isso pode retornar em benefício para ela mesma) é muito maior. Em todo o meu histórico profissional onde eu tive que falar com clientes das empresas em que eu trabalhava, a quantidade de pessoas que topavam participar de pesquisas era muito maior, as informações que eu acaba colhendo eram muito mais ricas e a disponibilidade que essas pessoas davam do seu tempo para a pesquisa sempre era muito maior. Então o cliente já tendo uma relação com a sua empresa ele entende que aquela ajuda, aquela opinião que ele pode dar durante a pesquisa pode reverter em benefício, pode melhorar o produto para o próprio dia a dia dessa pessoa, então é sempre uma forma fácil de recrutar. E também, as vezes, é até mais fácil de fazer a segmentação, porque normalmente na base de dados dos clientes você já têm uma porção de informações sobre os clientes. Eu trabalhei numa empresa que tem um software de gestão, e nessa base de clientes eu podia acessar o banco de dados e puxar: “ah, eu quero clientes da cidade de São Paulo”, “que sejam empresas que têm até 10 funcionários”, “que sejam empresas do simples nacional”, “que sejam empresas que emitam nota fiscal” e “que façam faturamento por boleto”. Então eu já conseguia acessar esse tipo de dado dos meus clientes para já fazer essa segmentação, eu conseguia de uma maneira mais simples pelo próprio banco de dados identificar essas variáveis de segmentação. Então, se você já tem uma cartela de clientes disponível, isso facilita um pouco seu trabalho.
Uma outra forma de conseguir bons usuários para sua pesquisa é recorrer a algumas organizações, algumas instituições que acabam concentrando alguns perfis específicos de pessoas que a gente pode precisar. Então, se eu preciso fazer uma pesquisa com estudantes, eu vou até algumas instituições de ensino. Se eu preciso fazer uma pesquisa com caminhoneiros, ou com metalúrgicos, ou algum outro segmento profissional, eu posso procurar um sindicato ou uma organização profissional, então isso também pode facilitar o trabalho de encontrar perfis específicos de pesquisa.
Uma outra forma comum também de se utilizar são os anúncios. Claro que em outras épocas as pessoas faziam anúncios em revista ou jornal recrutando pessoas para pesquisa mas não é desse tipo de anúncio que eu estou falando. A gente pode utilizar hoje redes sociais para divulgar nossas pesquisas, só que o alcance dessa publicação sempre vai estar condicionado à nossa própria rede, mas a maioria das redes sociais hoje permitem a gente “promover” a publicação, ou seja, patrocinar ela, pagar um valor em dinheiro para que ela tenha um alcance muito maior. Então eu posso fazer um post na minha página do Facebook recrutando pessoas para uma pesquisa, e posso impulsionar esse post para que ele tenha um alcance com milhares de pessoas, e isso vai permitir que eu consiga recrutar em um espaço de tempo muito menor as pessoas, que eu consiga candidatos para pesquisa de uma maneira muito mais rápida. Então, recorrer a anúncios pode ser uma forma mais rápida de se obter o número de participantes que você precisa.
E uma última forma que funciona tanto no presencial quanto no online é aquele tipo de pesquisa de guerrilha, que é quando você aborda pessoas. Então eu posso, por exemplo, no presencial, ir em locais públicos, ir num shopping, uma biblioteca, um parque e abordar pessoas que tenham o perfil que eu preciso para a pesquisa. Eu posso abordar pessoas, fazer o meu screening, fazer a triagem para saber se elas se encaixam ou não no perfil que eu preciso e seguir com a minha pesquisa. Então, a guerrilha é o processo de você garimpar participantes em massa. No processo de pesquisa remota isso também é possível, porque a gente pode tentar recrutar pessoas que estão visitando seu site ou seu aplicativo em um determinado momento, ou seja, eu posso aproveitar o tráfego de usuários do meu site.
Para fazer esse tipo de recrutamento eu preciso de alguns recursos. Eu já falei que em todo tipo de recrutamento a gente precisa de um Screener, um questionário de triagem, e para eu fazer esse recrutamento através de um site ou de um aplicativo eu preciso exibir esse Screener de alguma maneira para as pessoas responderem. Pode ser que eu coloque um popup com esse questionário. Pode ser que eu coloque em algum lugar um link identificando que existe uma pesquisa disponível e a pessoa seja direcionada para uma Survey onde ela possa responder esse questionário. Se você for disponibilizar esse formulário de triagem online, duas perguntas por padrão com certeza você vai ter que fazer: [1] se a pessoa está disponível para participar da pesquisa (que pode acontecer naquele exato momento ou em algum outro dia agendado), e [2] os dados de contato dessa pessoa (para o caso de você precisar entrar em contato com ela para marcar melhor essa sessão ou mesmo para realizar a própria pesquisa).
Uma outra coisa com que a gente vai ter que se preocupar nesse questionário online é o fato de que muitas vezes as pessoas não têm certeza do por quê você está solicitando alguns dados dela e fazendo algumas perguntas, elas não sabem a destinação que você vai dar para essas informações, então é importante que você deixe bem escrito de que forma você vai usar esses dados. Se você está pedindo o telefone para a pessoa, deixe claro que é para entrar em contato com ela e fazer o agendamento de pesquisa. Se você está perguntando o nome completo dela, diz para quê você precisa desse nome. E claro, não pede nenhuma informação que você não vá usar no recrutamento. Eu não preciso por exemplo pedir o CPF da pessoa para agendar uma sessão de pesquisa com ela. A gente tem que ter muito cuidado em pedir dados pessoais, porque isso pode incentivar as pessoas a não preencherem seu Screener e consequentemente não quererem participar da sua pesquisa.
E outra coisa importante é que depois que as pessoas responderem esse formulário, esse questionário, que elas tenham uma mensagem de confirmação, indicando quanto tempo você vai demorar para fazer contato, ou se a pesquisa for realizada naquele momento que ela já vai ser redirecionada para a pesquisa, ou que em alguns instantes alguém vai ligar para ela, então essa mensagem de confirmação indicando o que vai acontecer a seguir é muito importante.
Se eu fizer um desses questionários de triagem numa Survey, eu posso não só disponibilizar no meu site como disponibilizar por vários outros meios: enviar por email ou distribuir nas redes sociais e conseguir muito mais pessoas preenchendo o meu questionário para que eu possa fazer esse tipo de recrutamento. Agora, se você vai disponibilizar seu Screener diretamente no seu site para recrutar os usuários que estão ali interagindo naquele momento, você só vai conseguir fazer isso se seu site ou seu aplicativo tiver um grande fluxo de visitantes diários, porque a incidência de pessoas que preenchem coisas desse tipo num site é bem pequena, as pessoas têm o hábito de não interagir com elementos da interface que elas acreditam que não vão ajudar elas a desempenhar a tarefa que elas precisam, normalmente os usuários se concentram na tarefa que eles estão realizando. Tem aquele conceito antigo que a gente chama de “cegueira de banners”, às vezes aparece um banner para a pessoa preencher a pesquisa mas para ela é só mais um banner, ela vai fechar, então a quantidade de pessoas que efetivamente vão olhar para aquele banner de pesquisa, clicar e preencher é muito pequena.
Vamos supor que seu site tenha dez mil visitas por dia. Talvez em um dia 200 pessoas respondam seu Screener, talvez dessas 200 pessoas você consiga efetivamente recrutar e agendar uma sessão de pesquisa com 10, e desse 10 alguns podem faltar e você consiga efetivamente a participação de 6 pessoas. Então se o seu site tem só umas 100 visitas por dia dificilmente você vai conseguir fazer o recrutamento só com os visitantes do site.
Para implementar um Screener desse dentro do seu site ou aplicativo, você tem duas opções: ou você vai utilizar algum serviço próprio de pesquisa que oferece esse tipo de formulário como o UserZoom ou como o Ethnio, e que vai exigir somente uma linha de código para inserir no seu site, ou então você vai precisar da ajuda de um desenvolvedor para criar esse formulário e para implementar no seu site.
Uma outra coisa comum que a gente vê nos recrutamentos para pesquisa é o oferecimento de alguma recompensa, seja algum brinde, seja, algum prêmio, seja dinheiro… Eu particularmente não gosto de anunciar recrutamento oferecendo dinheiro, porquê normalmente a motivação daquele participante acaba sendo ganhar o dinheiro e não necessariamente ajudar, então pode ser que a pessoa faça de tudo para a pesquisa acabar rápido para ela pegar aquele dinheiro e ir embora, ou às vezes ela se sente tão agradecida por estar recebendo aquele dinheiro que ela imagina que deveria falar tudo que você gostaria de ouvir, então ela pode ficar elogiando excessivamente seu produto, ou dando respostas que não representem a realidade dela. Além do que, oferecer dinheiro faz com que a gente corra um risco muito grande de encontrar usuários fakes, que são aquelas pessoas que se passam por participantes dentro do perfil só para ganhar uma grana. A verdade é que existe um grande número de “participantes profissionais de pesquisa”. A gente encontra facilmente grupos em redes sociais de pessoas que ficam compartilhando todo tipo de pesquisa que elas encontram, e que vai ter algum tipo de remuneração para que as pessoas possam participar. Eu já vi sites que davam dicas para pessoas desempregadas ganharem uma grana nesse período, e uma das dicas era justamente participar de pesquisas. É muito engraçado que quando eu recruto pessoas para pesquisa, muitas vezes eu faço contato com elas via WhatsApp, e depois que eu faço o recrutamento eu começo a receber mensagens de WhatsApp de números desconhecidos falando “você está realizando pesquisa? Eu estou disponível”, e aí eu faço um screening básico com a pessoa, faço uma meia dúzia de perguntas e vejo que a pessoa não se encaixa no perfil, mas eu vejo o esforço dela em tentar se encaixar ,em dizer que pode fazer, “minha pesquisa é sobre corrida”, “ah, eu posso participar”, “mas é para corredores profissionais”, “eu já corri profissionalmente, já disputei maratona”, “mas você vive de corrida?”, “não, mas eu já fiz isso”, então as pessoas sempre tentam driblar seu screening de alguma maneira para tentar participar. É uma coisa que acontece com muita frequência, esses usuários fakes, e o que a gente pode fazer para evitar eles na verdade é não oferecer dinheiro — acho que essa é a primeira dica — , tem outras formas de a gente recrutar participantes, talvez oferecendo brindes ou vale-compras ou alguma outra coisa que a pessoa possa receber na hora… Se você puder não oferecer nada na hora do recrutamento e só oferecer alguma coisa para o participante depois que ele realizou a sessão de pesquisa, como agradecimento, ótimo. É claro que isso reduz bastante a chance de a gente conseguir participantes. Sempre têm participantes que topam fazer pesquisa voluntariamente, sem receber nada, mas é um número menor, às vezes a gente acaba tendo que oferecer alguma coisa. Uma outra coisa que vai ajudar a gente a evitar esses usuários fakes é um bom Screener com perguntas que possam driblar esse tipo de pessoa, se você coloca perguntas fechadas com duas opções, é mais fácil da pessoa preencher e acertar, então a gente pode colocar perguntas fechadas, mas com múltiplas opções de escolha, que vai dificultar as pessoas a acertarem o critério que a gente vai usar no recrutamento. Uma outra opção boa também é a gente colocar no Screener algumas perguntas abertas, porque aí a pessoa vai ter que pensar, vai ter que refletir para responder, e se ela não fizer parte do público que a gente precisa com certeza ela vai sofrer mais para responder e a gente vai conseguir perceber isso, então um bom Screener sempre vai ajudar a perceber esse tipo de participante profissional.
Uma outra coisa que a gente tem que se preocupar bastante quando a gente faz recrutamento e aplicação de pesquisa é sobre o consentimento do participante com relação à coleta de dados dele. Bom, primeiramente eu quero deixar claro que eu não sou advogado, eu não entendo de todas as leis de privacidade que existem, mas eu quero compartilhar algumas coisas da minha experiência. A gente sabe que existem leis que proíbem a coleta de dados sem consentimento, às vezes a gente vê em alguma reportagem que uma investigação policial descartou a gravação de alguma ligação porque não houve autorização da justiça para esse grampo e nem “consentimento de uma das partes”, então mesmo não sendo advogado eu sei que existem leis e que eu tenho que tomar cuidado com isso, e é bom a gente se precaver de algumas maneiras. Então, a gente solicita algum tipo de declaração de consentimento das pessoas toda vez que a gente coletar algum tipo de informação dela ou mesmo realizar uma gravação de uma conversa, de uma ação ou comportamento desse participante. E a gente faz isso não só por questões legais, pois dependendo do tipo de informação que você está solicitando, dependendo do tipo de pergunta que você está fazendo durante uma pesquisa, o próprio participante pode ficar inibido de te dar respostas quando ele não sabe exatamente para quê vão ser usadas aquelas informações, então quando você documenta de maneira mais formal esse consentimento você especifica regras, você diz para o participante de que forma você vai usar o dado dele, e o que você não vai fazer com essas informações, por exemplo, não vai divulgar e não vai usar para nenhum tipo de publicidade.
Quando você está fazendo um Screener seja numa survey ou através de um formulário no seu site, você pode colocar uma política de privacidade indicando como esses dados vão ser usados e pedindo para o participante assinalar que ele tem ciência desses termos. Agora, se o que você está fazendo é gravando uma sessão de pesquisa, seja a voz do participante, seja tirando fotos ou mesmo em vídeo, aí a gente vai precisar de uma declaração de consentimento sobre isso, e essa declaração pode ser feita inclusive na própria gravação, antes de iniciar a pesquisa você pode explicar para o participante que você pretende gravar, pergunta se ele dá permissão, e quando você iniciar a gravação, você dá a declaração de que a sessão está sendo gravada, que esses dados não vão ser divulgados, nem utilizados para finalidade de publicidade, que só vão ser usados para fins de pesquisa… Normalmente a declaração durante a gravação costuma ser mais que suficiente para o tipo de pesquisa de produto que geralmente a gente faz. Mas se você pretende coletar nessa pesquisa algumas informações mais delicadas, por exemplo, informações médicas ou informações financeiras, eu aconselho que tanto para questões legais quanto para que o participante se sinta à vontade a compartilhar essas informações com você, que utilize um termo de consentimento, um documento onde a pessoa possa especificar essas declarações, onde ela possa assinar. Normalmente quando a gente faz pesquisa presencial a gente leva esse documento impresso e a pessoa lê, assina, coloca o nome, a data e o número do documento dela. Quando a gente faz pesquisa remota, a gente pode usar um documento desses em algum desses serviços como Docusign ou Clicksign, que permita que seja realizada a assinatura digital, isso deve ser suficiente tanto para garantir a tranquilidade do participante quanto para evitar qualquer problema com relação a esses dados.
Uma outra preocupação que você deve ter é que nem todo mundo que pode ser participante de uma pesquisa é legalmente capaz de fornecer esse consentimento. Se você vai realizar uma pesquisa com uma criança ela não pode dar o consentimento dela, você precisa que os pais ou responsáveis façam isso, que é o mesmo caso de pessoas com algum tipo de deficiência mental ou cognitiva. E mesmo que o participante seja legalmente capaz de fornecer o consentimento, tem um ponto de atenção com alguns perfis, por exemplo pessoas que possuem algum tipo de distúrbio psicológico ou algum tipo de stress considerável, como ter perdido algum parente próximo ou sofrido um acidente. Essas pessoas, mesmo que elas sejam legalmente capazes, elas podem estar passando por um momento em que o consentimento pode ser considerado inválido. Então, dependendo do caso, às vezes é melhor a gente recorrer à boa e velha anotação e deixar a gravação de lado para evitar qualquer dor de cabeça.
Mas se você está consciente e certo da necessidade dessa gravação, eu acho que a principal recomendação que eu posso te dar em relação a esse termo de consentimento, essa declaração de consentimento, é que você sempre use com participante a linguagem mais simples possível, que não tenha nenhum termo jurídico, nenhum termo burocrático, nenhuma linguagem excessivamente formal que possa dificultar o entendimento do participante sobre esse consentimento.
[Pausa na fala, com música de fundo]
E aí? Já passou por alguma dificuldade específica no recrutamento para pesquisa remota? Como você costuma fazer o seu Screener de recrutamento? E sobre o termo de consentimento, você tem alguma dúvida ou alguma dica valiosa para passar pra gente? Quer contribuir com o Escuta Ativa, compartilhar alguma experiência comigo ou então trazer uma dúvida? Segue a Mergo lá no Instagram, procure por @MergoUX, mande uma mensagem e assim a gente vai mantendo não só a escuta, como toda essa conversa ativa.
Então é isso, um abraço para você e até a próxima. Fui!