O Google e a experiência Mobile-Friendly

O Google segue como o rabo que balança o cachorro da web. Isto é bom. Diferente da Microsoft que criou uma web dependente da droga do IE.

É bom que uma empresa influencie tanto assim a internet?

Um antigo statement do Google dizia “don’t be evil”. Hoje muita gente teria um gogol de motivos para listar que não é bem assim. Mas convenhamos que o Google impactou na web quando ela poderia ter escorrido pelo ralo com o estouro da dotcom bubble, com o vírus player do IE dominando, e uma internet nova em folha e muito mais chata – a WAP – botando as manguinhas para fora.

O Google entrou em cena e meio que arrumou a casa. A web volta a ser relevante. Publicidade não sustentou a bolha? Olha aqui o Ad Sense. Seu site gasta 80% da banda passando metatag keyword, usando termos QUE TODO SITE usa? Não ligamos. Quem anda usando <h1> neste mar de <div> e <p>? É este que queremos.

O Google amestrou web designers a fazer o serviço que deveriam estar fazendo deste sempre.

Eu poderia dizer aqui então que a recente atualização do seu algoritmo (o pessoal do Marketing de Busca costuma chamar cada reforma desta com nomes de furacões, por causa do estrago que causam em suas estratégias), priorizando sites Mobile-Friendly, é mais do Google não sendo malévolo?

Não, isto entra na cota do gogol de malícias do Google.

É fato que a mobilidade cresce a cada dia. Mesmo no Brasil, na lanterna de adoção de tecnologias (porque somos um povo tradicional, que preza muito ter ministros da ciência e tecnologia que promulga leis que impeça adotar tecnologias que demitam trabalhadores – se Aldo Rabelo fosse um lorde inglês há um século e meio, ele teria ajudado a quebrar teares; se fosse um congressista americano há um século atrás, teria mandado prender Henry Ford), a mobilidade já ultrapassa o número de acesso usando a caixinha mágica em cima da mesa.

Mobile-Friendly

Hoje, quando vemos um livro ou um curso de Flash, não contemos a vontade de rir. Quanto tempo perdido numa coisa que foi esquecida com a mudança de panorama.

Naturalmente a experiência mobile é diferente daquela do desktop.

O desktop tem telas largas, multitarefa, salva, imprime, copia e cola. O celular está limitado a uma tela por vez, alternar telas é bem menos produtivo e estamos amarrados ao que há no menu “compartilhar”. Mas o diacho é que a experiência desktop está para esta geração o que a TV estava para a geração anterior: É uma experiência de hora marcada, no conforto da residência, escritório ou de uma lan house.

Mobile, é o tempo todo, ao alcance do bolso (ou do tablet na mochila). Liga e tem internet (não é como um boot do computador, que você liga, vai buscar um café, vai ao banheiro, arruma seus CDs e volta, e ainda está na tela da bandeira do Windows). As conveniências da mobilidade não são as mesmas do desktop, mas elas ganharam na proximidade e na praticidade.

Faltava agora um terceiro “P”: Pertinência. Seria isto que o Google estaria fazendo, adestrando web designers a se adaptarem a este novo paradigma mobile? Uma olhada superficial diria que sim. Mas eles não fazem isto porque são bonzinhos.

O Google anunciou recentemente seu Projeto Fi. Basicamente, habilitará os usuários do Nexus 6 (isto mesmo, apenas um tipo de celular, num mercado dominando de iPhones e Galaxies) a usar o Google como operadora de telefonia. A treta usará uma rede de wi-fi específica, por uma taxa muito mais módica. Quando o tal wi-fi não estiver ao alcance, será usado duas redes 3G dos EUA aonde rolou um acordo.

Basicamente, o Google começa a testar o óbvio futuro da telefonia: Provedores deixarão de servir ligações de voz para ser mera ligação de dados. Eu pensei que quando o WhatsApp habilitasse chamadas de voz, seria a demarcação do fim das operadoras de ligação de voz. O Google furou o WhatsApp.

Mas só no Nexus 6? Não é proteção para o “celular do Google”?

O Google declarou que o Projeto Fi seria de “nicho”. O gigante das buscas não pode abrir um serviço de massa, e precisou desse nicho para que nenhuma operadora se assustasse. Um fato conhecido da tecnologia da informação é que uma boa ideia no momento errado ainda assim, dará errado. Transformar ligações de voz em pacotes IP é inevitável. Mas nenhuma operadora alegremente irá fazer uma canja de uma galinha que ainda está botando ovos.

Então o plano maligno do Google é:

  1. Adestrar web designers a fazer sites Mobile-Friendly;
  2. Tornar mais barato o acesso mobile;
  3. Lucros.

Diferente do business plan dos gnomos das cuecas, o Google tem bem em vista todas as etapas. Vai lucrar porque quanto mais gente online, mais gente clicando no Ad Sense. E para que as pessoas vejam Ad Sense, é melhor exibi-los num dispositivo que é usado umas 10 horas por dia (desktops) ou naquele que as pessoas usam todo o tempo enquanto estão acordadas (mobile)?

O Google só vai perder o foco em mobile quando puder inserir Ad Sense nos nossos sonhos.

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