Me lembro bem que certa vez acompanhei uma discussão num grupo do Linkedin, que começava com a afirmação de que atualmente havia um certo “excesso de design” em muitos sites da web. Essa afirmação se referia na verdade ao excesso de elementos gráficos, tipos, cores, formas, ilustrações e imagens, em detrimento a qualidade da informação ou função prática da página. Enfim, firulas demais e conteúdo de menos.
Mas será que podemos mesmo chamar todos esses excessos de “design“?
Menos é mais
Esse “excesso de design” citado na discussão vem a ser na verdade um excesso de elementos estéticos desprovidos de função, que geram sobrecarga cognitiva e prejudicam a experiência do usuário. Idealmente, nenhum elemento deveria estar em uma interface sem possuir uma função definida. O design deve agregar apenas elementos que possuam um objetivo dentro da função do produto.
Na mesma linha da discussão sobre excesso de design, certa vez ouvi comentários de que uma estética mais minimalista possui “pouco design“. Na verdade, trabalhar com o “simples” e sintetizar um conceito em poucos elementos com função objetiva definida é sempre mais difícil, mais eficaz, e exige profissionais mais experientes. O excesso de recursos, elementos estéticos ou conteúdos vem justamente da falta de refinamento e capacidade de sintetizar a mensagem, principalmente numa mídia tão efêmera como a web. Todo esse excesso mostra na verdade a falta de um design bem projetado.
Podemos dizer também que parte desse falso excesso advém da falta de parâmetro profissional para delinear projetos de forma concisa. Isso pode acontecer por vários motivos como inexperiência, a falta de projetos centrados no usuário, a velha mania publicitária de criar cases para ganhar prêmios, e até mesmo a questão da falta de regulamentação da nossa profissão (questão que já está se resolvendo).
Design = Projeto
No livro+DVD Alexandre Wollner e a formação do design moderno no Brasil da editora Cosac Naify, o designer gráfico Alexandre Wollner dá uma grande contribuição nessa discussão, explicando o que é o design em sua concepção:
Design é projeto, não ilustração. Capa de disco não é design, caixa de sabão em pó não é design. Se eu projetar a caixa para fazer com que o pó caia facilmente, isso é design. Mas pegar uma caixa quadrada ou retangular e pinta-la de vermelho e branco não é. Isso até poderia ser design se se tratasse de uma linha de produtos, pois a preocupação com o comportamento da identidade de uma empresa entraria como parte da ilustração das caixas. Quem fizer apenas a ilustração de uma caixa e submetê-la à pesquisa de mercado vai acabar fazendo o que a McCann Erickson fazia tempos atrás, quando eu trabalhava lá. Eles produziam milhares de versões de embalagens dos cigarros Continental para o cliente escolher. Isso pode ser design?
Podemos ver o trecho da entrevista do Wollner no vídeo abaixo, que faz parte do DVD que acompanha o livro, produzido pela Tecnopop.
[vimeo 13192992 w=640 h=424]
Compartilhando dessa mesma linha de raciocínio, posso dizer que o design refere-se a um projeto visual, funcional e interativo, coisa que vai muito além da produção estática. É claro que elementos visuais possuem uma função psicodinâmica, emocional e persuasiva, e para que isso seja eficaz esses elementos precisam ser muito bem estudados e planejados. Ainda assim, a estética não funciona de forma isolada, e sim integrada a estrutura da informação, as definições de interação, a usabilidade e a ergonomia. Para que tudo isso possua uma sintonia é imprescindível um projeto bem elaborado.
A experiência do usuário possui diversos elementos, e a estética é apenas um deles. O Design visual é apenas a ponta do iceberg.