Palestra do Rafael Miashiro apresentada na Design & Experience 2019 (#DEXCONF19) que aconteceu nos dias 26 e 27 de julho na Bienal São Paulo.
Seguindo a nossa série de posts com os conteúdos apresentados na #DEXCONF19, venho trazer o podcast + transcrição e slides da palestra “Brasil vs Global: aprendizados e percepções trabalhando com diferentes culturas de design” com o Rafael Miashiro, que é UX Lead na Visa.
[Início da transcrição]
Rafael Miashiro: Vamos lá, então. Hoje, a nossa conversa vai ser sobre esse assunto: Brasil vs global: aprendizados e percepções, trabalhando com diferentes culturas de design.
Eu sou Rafael Miashiro, trabalho no time de inovação e design da VISA. A VISA tem uma área nova, intitulada Inovação e Design e ela é nova, tem 3 anos. Completou agora. Liderada por Érico Fileno, que falou ontem no PaySpace sobre comunidade. Quem tava lá assistindo ergue a mão… ninguém assistiu sobre comunidade? Assistiram! Tem o Gustavo Oliveira, que era para estar aqui comigo, falando sobre esse esse Talk, só que ele tirou férias, ele fugiu. E tem a Bia, que a gerente de produto.
Então, o time são quatro pessoas com esse desafio de ajudar. Uma das missões da VISA é ajudar os parceiros. Os parceiros… quem são os parceiros? Os bancos, né? Os bancos… é uma buzzword, mas os bancos… acompanharem essa transformação digital que está acontecendo tão rápido nesse mundo financeiro com a vinda das FinTechs, está bom? Essa é uma das missões da VISA.
Vamos começar então, lá. Por que que desse talk? Esse talk nasceu de uma conversa bem informal de cafezinho — eu ainda tenho uma teoria de que o cafezinho é o lugar que realmente você consegue tirar vários insights, várias conversas muito produtivas — e que eu e o Gustavo convergimos em algumas percepções trabalhando com times globais. Então, a VISA, ela tem na Ásia, ela tem na América do Norte, ela tem… então a gente tem o design share, que é mensalmente, que a gente compartilha as nossas entregas, né? Então, às vezes, o fuso horário é um pouco ruim. Teve uma vez que a gente teve que estar 6 horas da manhã na VISA, porque o fuso de Cingapura era bem diferente. Eu acho que eram 13, 14 horas. Então, o fuso horário, ele foi difícil. Mas é interessante ver como que os times de design estão trabalhando com esses projetos de inovação.
E esse cafézinho, ele foi o Gustavo junto com o Edu Agni. E o Edu Agni falou: “Olha, acho que esse dá para ser um bom talk para fazer no Dex”, uns três meses atrás. Então, a gente estruturou esse talk, especialmente aqui pro evento. Então, vamos começar.
Aqui, um pouquinho lá da sala de inovação e é um pouco das percepções minha e do Gustavo nesses quase dois anos de VISA. É um ambiente colorido, interessante… A gente brinca de lego o dia inteiro… brincadeira!
Mas se vocês vieram aqui por causa do título Brasil vs Global, na verdade, isso é uma mentira. Vocês caíram numa farsa. Por que vocês caíram numa farsa? O Brasil é muito grande, né? Na verdade, não é Brasil em São Paulo. Mas São Paulo também é muito grande. Então, na verdade é… Vila Olímpia. Na verdade, não é Vila Olímpia, é JK 1909, terceiro andar. Porque no mesmo prédio tem times de designer na Embraer, tem time de design em agência de publicidades, tá a WMcCANN, a Publicis tá lá também. Tá a G2, que mais que está lá? O Uber está lá também. Então, é uma visão muito enviesada do time de design… só do terceiro andar, da sala de inovação. O Érico, eu e Gustavo.
Como ter uma visão mais ampla dessas percepções de diferentes times de design? A gente foi fazer pesquisa… ouvindo pessoas que, designers brasileiros que trabalham fora, que tiveram essa transição. Ou seja, fizeram uma carreira aqui no Brasil e, atualmente, hoje, tão na Europa ou nos EUA. Esse foi o nosso filtro. Então, a gente saiu da América do Norte e a gente, também, foi ouvir pessoas que estão em Estocolmo e também Amsterdam. Foi uma pesquisa qualitativa… foi uma pesquisa qualitativa tentando retirar alguns insights, algumas padronizações, alguns pensamentos que a gente poderia compartilhar aqui com vocês. Então, foi um product designer, dois UX designers e dois design director.
Tá, então o quê que rolou nesta pesquisa? Então, o que eu vou trazer aqui é uma cagação de regra. Não, na verdade não é uma cagação de regra aqui. É o famoso UX de palco, que está na moda agora? Também não! Eu vou trazer percepções dessa pesquisa, que a gente vai ter dois momentos, então. O momento de percepções, que eu vou falar agora. E o momento de, talvez, uma estrutura que pode ajudar a vocês se desenvolverem na carreira de vocês, olhando para essas pessoas que estão lá fora. Então, são esses dois momentos.
Vamos começar com o primeiro aqui. O primeiro, tem a ver muito com o contexto cultural que eu vi aqui que o Caio Calado falou, certo? Quem tava aqui assistiu que o contexto cultural é importante. Então, parece que eu copiei os emojis que o Caio Calado usou, eu estou usando os mesmos, e ele também usou contexto cultural. Parece que a gente fez junto. Mas o outro momento que eu acho interessante de estar nesse talk, é estar junto com essas feras como o Caio Calado antes, e depois vem a Samille, que eu já tive a oportunidade de ter um spoiler e está bem bacana o talk dela.
Mas voltando aqui ao contexto cultural e o ritmo. É justamente isso de questão que você… vamos falar sobre o contexto da VISA, né? O Brasil… uma das missões que acabei de falar da VISA é ajudar esses parceiros a terem essa visão digital e ágil. Então, ao mesmo tempo que a gente precisa ajudar o Banco do Nordeste, por exemplo, a gente também ajuda o Banco do Rio Grande do Sul, que é lá da ponta. E isso, se você for pensar, ao mesmo tempo que… vou tentar dá um exemplo aqui: se você sabe dançar um para lá e para cá. Lá no Nordeste, para você criar uma conexão, isso poderia ser — o nosso amigo Neudson — lá eu poderia um para lá, um para cá no forró. Mas no Rio Grande do Sul, um pra lá outro pra cá pode ser um show de rock. Então, é exatamente isso que a gente precisa levar em consideração, né?
Eu tenho um vídeo, agora, que fala um pouco desse contexto cultural e ritmo. Eu me identifico muito. Eu vou soltar ele aqui — pode soltar. Tem um sonzinho também. Será que a gente tem um som? Será que ele vai rodar? Não vai rodar? Será que vou ter que dançar aqui? Não vou ter que dançar aqui? A internet está ruim, eu estou usando o 4G. E agora, José? E travou e eu vou ter que fazer um stand up comedy aqui, um improviso. Não vai para frente, nem para trás. E agora?
Bom, eu vou continuar o talk aqui. Então, na verdade, eu tava falando do contexto cultural, né? Então vamos lá continuar. E aí, eu vou falar, eu vou trazer algumas falas que eu captei nessa pesquisa. O quê que a gente encontra é que, muitas vezes, o ritmo não existe certo ou errado. O ritmo de projetos eles são um pouco diferente de acordo com o país que você está. E daí, eu trago a essa visão, principalmente da primeira visão veio da Lu Terceiro, que ela tá lá em Estocolmo e ela fala que ela sente que os projetos têm um ritmo mais lento, né. E que lá, as pessoas se preocupam mais em analisar, do que realmente continuar fazendo. Então, tem muito essa separação, de ter essa veia um pouco mais analítica — será que vai rodar? Agora vai, porque começou ali. Agora carregou. Tem som. Solta o som!
[SOM AMBIENTE NÃO IDENTIFICADO]
Rafael Miashiro: No Mac, acho que no Mac dá para aumentar o som. No Mac tem o som… aumentar o som? Então tá bom, é um forrozinho. É um forrozinho lá da terra do Neudson, lá de Fortaleza. E só para identificar que… — voltou, voltou aqui, óh. Tenho a impressão aqui, que as coisas são menos urgentes e as pessoas acabam dependendo mais tempo estudando e analisando os projetos antes de seguir adiante. Então, essa é uma questão que também a gente verifica na VISA com relação a… quando a gente vai configurar uma pesquisa, por exemplo, a gente consegue configurar em duas semanas. Muito pelo contexto também, né, que eu comentei esse contexto dos bancos digitais quererem essa agilidade e o cenário americano, talvez, já ter passado por esse momento, não terem essa ansiedade. Então, acaba que a gente verifica que, a gente faz pesquisa, às vezes, em duas semanas, e o pessoal quer fazer em quatro semanas, por exemplo.
Outro item interessante que a gente verificou fazendo essa pesquisa é o foco no trabalho. A gente foi em Miami no ano passado e a gente via que, quando a pessoa coloca o pé dentro do escritório, é o momento dele trabalhar, realmente. Então, horário de almoço não é um intervalo, é o horário de almoço que ele está na mesa e depois ele volta a trabalhar. Mas deu cinco horas da tarde, a pessoa vai embora. Então, é o foco, realmente, no horário de trabalho. “Eu estou ali para trabalhar”. E uma fala interessante do Caio, ele fala assim: “não existe perder tempo num almoço ou num cafezinho. Se estou no escritório, é para estar super focado”. Foi essa a palavra que ele falou, super focado.
Às vezes, sinto falta de um ambiente mais descontraído, que é esse balanço, que ao mesmo tempo eu vejo que esse cafezinho pode ser um ambiente rico, na Europa esse tempo é um tempo perdido, vamos dizer assim. Mas, novamente, eu vou dizer que não existe certo e errado. É todo um contexto cultural, como eu disse lá no primeiro.
Terceiro item falado foi com relação à qualidade de vida. A Lu Terceiro também comentou a qualidade de vida. Ela é mãe e ela vê que a política, lá da empresa, ela é muito focado para essa característica. Então, é uma maturidade um pouco maior com relação ao cuidado com seus funcionários, né. E a fala do Caio, também, quando ele morava em São Paulo, ele falava assim: “até para comprar pão era estressante em São Paulo”. Hoje ele disse que a qualidade dele é muito alta, inclusive ele falou assim: “ah, eu vou comprar uma casa para não sair mais daqui”. E uma fala que dele é assim: “a qualidade de vida aqui venceu”, foi bem esse o termo que ele usou. Então, ele disse que ele tem acesso a museus com preço super irrisório e que essa questão, também, de uma localização privilegiada, faz com que ele possa conhecer outros países da Europa.
O outro item interessante é com relação a multidisciplinaridade e a especialidade. A multidisciplinaridade ela vai muito, com relação ao brasileiro, ao designer brasileiro; ele ter essa pegada. Pelo menos o meu contexto de entender um pouco de tudo, do processo. Fazer desde pesquisa, fazer UX, fazer interface também, ir para rua pesquisar. E, em contrapartida, a questão de especialista, né, que é bem diferente nesse modelo global.
O Davi Pacheco, ele está em São Francisco e ele falou a seguinte coisa: “Designers brasileiros fazem barba, cabelo e bigode, o que traz mais autonomia para desenrolar o projeto”. E essa fala é muito interessante, porque as nossas entregas aqui no Brasil, ela reflete muito essa frase, porque nesses design share, onde time global de design compartilha os projetos, o vice-presidente global de design da VISA, que também fica lá em São Francisco, falou: “não sei como o time de design do Brasil — que são só quatro pessoas, que eu falei, né — consegue entregar tanta coisa”. Que eu acho que tem um pouco a ver com essa questão da autonomia, de você conseguir fazer os projetos rodarem.
Esse foi unânime com relação aos pontos positivos, com relação a trabalhar fora, todos falaram com relação ao diferencial financeiro, né. A galera lá ganhar em dólar, ganha em euro. Uma moeda quatro vezes mais forte, quase quatro vezes mais forte que o real. Então, eles estão como esse GIF aqui.
O Caio, ele falou uma coisa bem legal, que aqui parece que o dinheiro rende até o final do mês. Então, esse ambiente estressante que ele tem no Brasil é muito diferente lá na Europa. Ele disse que as pessoas parecem não querer demonstrar que são ricas ou pobres. As pessoas são tudo no mesmo nível financeiro. Então, ao mesmo tempo ele pode ter um vizinho que é médio, mas ele pode ter um vizinho que tá desempregado. Isso não é importante para eles demonstrarem. O desempregado pode ter um carro na garagem, mas o médico pode ter uma bicicleta. E parece que eles preferem se esconder atrás dessa cortina e priorizar na qualidade de vida.
O último tema é com relação à balanço, business e designer. Até teve um Open Space com relação a maturidade do Design, certo? Então, isso tem muito a ver com isso. Tanto na Europa quanto na América do Norte, essa questão de design, então você tem que vender design, se o design é diferencial, ter essa questão de evangelizar a empresa inteira com relação ao valor do design… é uma etapa que as pessoas com que a gente conversou aqui, já está suprimida. Então, o discurso é outro, né. O Davi, ele fala o seguinte: “que o designer que entende mais as necessidades de negócio, cresce mais rápido”. O Davi está fazendo a carreira lá, é uma agência de publicidade chamada Elephant , que fica dentro da Apple, e ele desenvolve os produtos lá dentro. Ele começou lá como designer lead e agora está como diretor lá.
Então, fazendo aqui um resumo — eu não sei quanto tempo que eu tenho, cadê? Que falta a segunda parte. Cadê? Eu tô procurando ela. Eu tenho que correr aqui. É por causa do Jaspion que demorou. O Jaspion travou ali e demoramos. Então, os seis itens que a gente falou aqui, com relação a percepções de times globais, está bom? Quem aqui quer trabalhar e viver na gringa, levanta a mão. Olha, metade das pessoas querem trabalhar fora. Por que vocês querem sair do Brasil? O Brasil está tão bom… brincadeira!
Então, vamos lá ver. Com relação a essas pesquisas, têm algumas características que podem ajudar a vocês terem um parâmetros da bagagem dessas pessoas, né. Essas pessoas que já trabalham lá fora, quais as característica delas? Aqui é um framework que eu tabulei. Então, todas as pessoas que foram entrevistadas, elas ficaram na empresa e tiveram uma promoção. Começaram como um designer pleno, foram designer sênior. E, como segundo item que essas pessoas têm, de atributos, é que, de alguma forma, já participaram de algum voluntariado ou ONG.
Outra característica: elas tiveram experiências anteriores em empresa global, ou seja, trabalhando, mesmo no Brasil, sem estarem lá fora ainda, elas já tiveram oportunidade de fazer projeto lá fora… em projetos de um mês, dois meses. Elas têm um background de terem passado em agência de publicidade, que muitos falam que deu muita bagagem de projetos diferentes, isso contribui. E com relação de agência de consultoria de UX também, né. Então, uma hora entra projetos relacionados a Finanças, outras vezes entram projeto relacionado a mobilidade, por exemplo.
Outra característica é professora ou professor — Tá certo barra O? Eu não sei. Eu quis inverter ali. Ou R só, professora barra “ER”. Não, não, foi ruim. Opa, calma, calma…
O terceiro item é com relação a experiência em gestão de times, né. Já lideraram equipes. Pós-graduação também entra em terceiro. E tem um último ali, que já empreendeu ou fazia muito freela, né. Então isso contribui para a bagagem. Esses são os quatro itens verificados.
Mais uma coisa que todos, além do financeiro, e que todos falaram que é diferencial foi essa questão aqui, do inglês. O inglês é, realmente, uma barreira que, por mais que eles consigam ser fluentes, algumas coisas, quando você vai defender algum projeto, ser nativo ou estar ali, ela prejudica um pouco. E essas pessoas, que metade ergueram a mão e querem trabalhar na gringa, eu faço a seguinte pergunta: Você é realmente fluente em inglês?
Estou um monte de gente dizendo sim, alguns não, alguns médio. Então, esse é o primeiro passo que depende muito de vocês, com relação a essa barreira que eles encontram hoje. O bafana, bafana.
Agora, esse é o último slide. Se você não prestou atenção — eu sei que está acabando meu tempo aqui. A menina de laranja já está falando. Se vocês não prestaram atenção em nenhum desses itens que eu falei, esse é o mais importante. Eu quero que vocês levem para casa, que é esse último item aqui: SEJA UMA PESSOA LEGAL!
Ou seja, se não fosse a abertura dessas quatro pessoas para falarem comigo, eu não traria esses insights, esses aprendizados super bacanas que eu venho compartilhar com vocês. O Caio está em Amsterdam, a Lu está em Estocolmo, o Gustavo também está nesse time global, que a gente responde pra Califórnia, em São Francisco e o Davi Pacheco que está, também, em São Francisco, nessa agência chamada Elephant, da Apple.
Então é isso!
Ah, última coisa! Sabe quando vocês — esse aqui é mais uma inspiração minha, que eu quero compartilhar com vocês, é um produto que eu acho muito legal chamado Score Space. E aí, eu fui ver qual designer tinha feito isso, né? E foi o André do Amaral. Será que o vídeo vai? Ele não tem áudio. Ainda bem que não tem áudio, porque o áudio aqui não funciona. E eu entrei no portfólio dele só para mostrar que ele ajudou a construir esse produto. E ele tem um podcast no Movimento UX, acho que vale à pena vocês ouvirem. É um podcast bem bacana. E nesse podcast, aquele produto que você fala assim: “poxa, eu gostaria de ter participado desse projeto, desse produto aí, que é muito legal. Eu já fiz vários sites nele e eu acho um produto incrível”.
E eu queria terminar com uma fala dele, que ele deu no podcast no Movimento UX. Vão lá depois e assistam o podcast dele, que eu vou terminar com a seguinte frase dele. Hoje ele tá no YouTube Music, lá em Los Angeles, e ele fala o seguinte: “mais importante do que o trabalho que você faz, é a sua relação como as pessoas. Quero ser uma pessoa que as pessoas gostem de estar por perto”. Ou seja, a missão dele, ele comenta, a missão principal dele não é ser o melhor designer do mundo. Mas vendo o portfólio dele, eu acho ele muito fodido! Mas é que, hoje, o YouTube Music, eu acho que é um produto muito bacana, que eu assino e acho uma experiência bem legal.
Então, eu queria que vocês fossem embora com esse pensamento, está bom? E acabou meu tempo, que a menina de laranja já tá falando que passei, por causa do Jaspion, que travou. Não foi culpa minha. E é isso.
Obrigado, gente!
Daniel Furtado: Eu estava quase indo dançar com você mesmo. Eu ia dançar, se eu soubesse a música, eu dançava. Vamos? Qual que era a música? Ah, é o amor. Eu não sei!
Rafael Miashiro: “Galaxy, galaxy”… A música do Jaspion mesmo.
Daniel Furtado: Ah, você tá viajando, cara! Cadê? Mas eu vi esse GIF. Esse GIF é muito louco. E era você, a gente sabe.
Rafael Miashiro: Sou eu!
Daniel Furtado: Todo mundo sabe que era você. Você quis mostrar assim: “ah, esse negócio aqui sou eu”.
Bebe água lá, bebe água. Deixa esse bagulho aí e bebe água. Quem quiser conversar a respeito de dança, dança de salão, a importância do 3G para palestras e coisas assim…
Bebe água ai. Bebe água. É cachaça!
Rafael Miashiro: A Ana Coli vai fazer uma pergunta pra mim.
Daniel Furtado: Ai, meu Deus!!! Esse aqui, óh, ele pode pedir música, já. Porque ele já vem em todas perguntas. Pode pedir música.
Rafael Miashiro: O Rodrigo é um querido. Eu já dei aula pra ele. Eu adoro ele. Me dá um abraço aqui!
Participante 1: Oi, Rafa.
Rafael Miashiro: Oi!
Participante 1: Não foi muito o tema, assim, da palestra, mas eu queria entender a sua percepção sobre a relação dos times globais de fora com Brasil. Por que… Minha pergunta é para você concordar comigo.
Rafael Miashiro: Tá enviesado já!
Participante 1: Tá enviesado! Tive uma experiência… Sempre trabalhei com consultoria de fora e esse ano eu tive três projetos para fora e dois com uma experiência bastante ruim, no sentido de que as pessoas meio que, parecem, não sabem que você sabe fazer o trabalho. Desconfiam um pouco.
E essa coisa cultural que você falou, assim, de contratarem somente a moderação da pesquisa e não a análise. E eu fiquei bem frustrada, porque parece que eles não entenderam o contexto do que eles estavam analisando, porque eles não falaram com a gente. Como que é a sua experiência? É que é um time só, talvez seja diferente. Mas como é?
Rafael Miashiro: eu acho que existe, sim, essa questão da percepção deles, né. Aquela fala do vice-presidente global que fala: “Ah, não sei como vocês do Brasil conseguem entregar tanta coisa”, é assim, partiu dele. Mas e as 100 pessoas que estavam lá, por que que não percebem isso? Então, tem que ser uma pessoa de cima pra falar: “olha, dá uma olhada no Brasil”. Então, acho que também tem essa questão de “se o presidente não falar, eu vou continuar fazendo aqui o meu trabalho e eu não vou delegar análise”, por exemplo, sabe? Eu acho que tem esse ponto também de ter uma visão mais ampla, assim. Eu senti isso.
Então, a partir do momento em que o VP viu valor, aí sim, por exemplo, os designers do estúdio de Nova Iorque, eles começaram a olhar diferente. Tem um programa chamado Design Share, em que você consegue ficar 3 meses em vários Innovations do mundo inteiro. Então, o menino do design de Nova Iorque quer vir aqui ficar com a gente três meses. Então, isso é muito legal. A mesma coisa em São Francisco, né. Em São Francisco, eles querem ouvir cases que a gente consegue ser mais ágil. Isso também é bem legal. Eu até comentei que demoraria duas semanas para… quatro semanas que eles fazem pesquisa, a gente faz em duas. Mas é muito pelo contexto cultural. Então, os bancos precisam… têm essa expectativa de querer as coisas mais rápido, né.
Então, eu concordo com você. Mas eu não sei como a gente muda esse cenário. Eu acho que a questão de… eu acho que também tem os dois lados, né? Eu acho que também tem um lado do posicionamento nosso como os designers. Posicionamento da seguinte forma, o Davi Pacheco, que está lá na Califórnia, ele fala que ele tem um pouco de síndrome do vira-lata. E aí ele falou assim: “aí, eu vim de Maceió, aí depois eu fui para o Rio, depois fui para São Paulo e agora estou na Califórnia”. Mas mesmo assim ele se sente ainda… ele falou essa seguinte frase: “eu vim de um time de segunda. E agora eu estou num time ponta principal”. Ele ainda vê em algumas falas que ele tem um pouco de síndrome do vira-lata, vamos dizer assim.
Mas acho que é inerente a nós, brasileiros. A gente, aos poucos, vai ganhando confiança e ganhando mais espaço no mercado.
Respondi, Ana?
Participante 1: Sim, sim! E a coisa do contexto cultural… essa coisa de perder um pouco, assim. O que eu senti um pouco foi isso. Acho que a parte mais frustrante foi como que ele vai entender se ele só tá passando o que está sendo falado pelo moderador pra um tradutor, para ele assim. Mas ele não conversou com ninguém, da gente, para entender o contexto que as pessoas estão, né?
Rafael Miashiro: Eu acho, também, muito o trabalho da consultoria. Que é muito mais, até certo ponto, em que você não está ali, né. Dono do negócio, né? A consultoria está muito ligada ao meu entregável. Mas eu concordo com você que seria muito mais rico essa… esse acolhimento.
Participante 1: Obrigada!
Rafael Miashiro: Vamos lá, Rodrigo… você faz várias perguntas pra mim no Messenger já…
Participante 2: Verdade! (risos) Seguinte, eu anotei três coisas aqui que você mencionou tanto no início, quanto no meio, quanto no final que é qualidade de vida, dinheiro e multidisciplinaridade. Eu acho muito do que ela falou também e você já puxou o gatilho sobre a síndrome do vira-lata, é que é bizarro como que a gente, no Brasil, trabalha muito essa questão da multidisciplinaridade. Eu comecei trabalhando na empresa que eu estou, trocando capa de Facebook e, hoje, eu desenho todos os produtos.
Rafael Miashiro: E ficou muito bonito, afinal. Que é o Ingresse. Ele fez o aplicativo, pessoal. Baixem aí, e se tiver ruim reclamem com ele.
Participante 2: Reclamem comigo direto! … E é muito louco como essa multidisciplinaridade é cobrada, mesmo quando você está em outro cargo. Então, hoje, eu sou o head de product design de lá, só que as pessoas ainda vêm me consultar sobre “ai, vamos postar esse instagram ou não vamos? Como você acha que tá nossas redes sociais? E o LinkedIn?”. É engraçado, porque eu gosto muito de me envolver.
Mas eu acho que esse lance da síndrome de vira-lata, por exemplo, vem muito da gente também… eu tenho refletido muito sobre isso, sobre nossa cabeça muito colonizada, como Davi mesmo falou “ai, eu vim de um time de segunda, agora eu tô num high level”. Eu acho que nós, como designers, e o design mesmo como ferramenta de mudança social e cultural, acho que talvez esteja na hora da gente olhar para o que a gente tem em casa e justamente se posicionar a respeito disso. Tipo, o NuBank é um caso, assim, excepcional, porque é uma empresa que a galera curte muito, e tal… ah, bacana, só que, eu acho que é muito, no design ela é muito valorizada, na questão de produto ela é muito valorizada. Eu acho que não tem, por exemplo, por parte da sociedade, tipo cara, um produto nacional e que, tipo, cases da América Latina e tudo mais.
Como será que a gente consegue se postar, assim, tipo, nós somos fodas, nós somos multidisciplinares, mas também não se deixar pegar por essa vibe meio Via Olímpia, Itaim Bibi, como você falou ali, que tipo, muita gente, principalmente, C-Level aproveitam disso, de tipo, realmente você é foda, vai lá e faz. Quando, na verdade, o intuito é muito “vamos pagar”… Porque tem a ver com dinheiro também. Vamos pagar X pra essa pessoa que faz o trabalho de 20, e a gente sai ganhando.
Como que o mercado está lidando com isso? Como que os profissionais estão olhando pra isso? Porque lá fora, a gente vê que tem muita gente especialista para ganhar muito mais do que uma pessoa multidisciplinar. E isso, muitas vezes, desestimula a galera.
É isso que eu, mais ou menos, vislumbro. Não sei se tinha uma pergunta aí, mas era mais uma reflexão mesmo.
Rafael Miashiro: Eu acho, que na verdade, existe características diferentes. Novamente, eu acho que não existe errado ser especialista ou errado ser multidisciplinar. Eu acho que existem características e empresas que demandam esse tipo de profissional, né. Eu acho, também, que tem muito a ver, como eu disse antes, com a maturidade do design lá fora. Como o design é um passo já ganho, vamos dizer assim, então, você molda ele “ah, eu quero, talvez, um especialista…” e aí, como o Davi falou, o meu passo é muito mais entender o negócio, né. Ele fala até questão de o processo de design já entender, já entender que eu consigo fazer uma tela baseada num processo de design que vai entregar mais valor para o usuário final. Mas será que isso vai mexer o ponteiro aqui da empresa? Será que isso vai gerar valor para os stakeholders, para os acionistas? Eu acho que vai muito da maturidade de cada empresa. E não existe certo ou errado.
Eu tô ficando sempre em cima do muro. Tá chato isso, né?
Participante 2: não! Mas é muito isso mesmo. Até porque a gente fica, tipo… Eu já estou tão acostumado a ser multidisciplinar que, às vezes, eu imagino no dia que eu decidir ou que eu for demandado a virar um especialista, vai ser meio, tipo, que eu estou com a impressão que eu não estou fazendo nada.
É muito louco isso, mas é muito de mindset, porque as pessoas que se acostumam a fazer muitas coisas em paralelo a vida inteira, fica meio bagunçado na cabeça, assim, “puts, agora eu sou especialista em interfaces”.
Rafael Miashiro: Mas eu acho que uma questão interessante desta questão multidisciplinar e especialista, essa questão até o Davi comentou… que hoje ele está numa agência de publicidade que é projetos, né. Que tem a ver, também, com bagagens. Você, ao mesmo tempo, ele disse assim: “ah, o meu próximo passo, no futuro, eu gostaria de trabalhar numa solução. Num produto”. Beleza… isso vai dar uma bagagem. Beleza… Posso trabalhar num produto, mas, se daqui cinco anos, eu posso voltar a trabalhar com projeto de novo.
Acho que essa ânsia aí é só respirar fundo. Se você quer ser especialista, se você quer ser multidisciplinar, continue fazendo seu trabalho multidisciplinar aí, que um dia acontece.
Participante 3: Boa tarde, Rafael.
Rafael Miashiro: Boa tarde!
Participante 3: Parabéns pela palestra. Eu também trabalho numa multinacional e, também, tem várias áreas de design no mundo, né. Quando trabalhei na Sony, também, tinha essa questão de fuso horário de um país pro outro. Tipo, ficar até às 8 horas da noite para atender o pessoal às 8 horas da manhã.
Eu queria saber como você vê o Brasil, a base VISA, em relação ao mundo, como que ela guia muita coisa do que está acontecendo de inovação na VISA e na área de design também, e como você vê integrado com as outras unidades, também, de design do mundo?
Rafael Miashiro: Eu acho que é um privilégio, sim, ter oportunidade de ver times de design de outras regiões. Ela é muito rica, porque cada um tem suas peculiaridades, né. Que a gente vê, que por exemplo, um aplicativo da Ásia, o contexto é diferente, né. Então, no Brasil você “nossa, está um pouco poluído isso, né. Será que o usuário vai entender esse super app que tem tudo?” Que eu posso pagar, mas eu posso… tem um supermercado dentro, mas também tem um petshop no mesmo aplicativo. Você fica meio confuso, mas eu acho que é muito rico, assim… cada país tem sua característica própria. Tanto a Ásia, quanto a América do Norte…
América do Norte a gente sente que os projetos compartilhados, eles tem esse viés um pouco mais parcionado. Então, “ah, hoje, a gente só vai falar do processo desse pedacinho aqui, que foi pesquisa. A solução vai ser no outro design share, no outro encontro”. Então, a gente vê que é mais fatiadinho, como eu disse anteriormente. E aqui no Brasil, quando a gente vai compartilhar nossos projetos, a gente conta de ponta a ponta já, né. Que a gente faz as design sprints, um pouco adaptada do Google, que… enfim, a gente começa já fazendo pesquisa na rua, tem uma interação com o usuário no meio das design sprints e, no final, a gente valida. A gente tem três pontos de contato com o usuário final. E em determinadas regiões não. É numa salinha, com ar condicionado, testando ali. Então, a gente dialoga até… fala assim: “Ah, mas o cenário do usuário não é nesse centro de inovação com ar condicionado e cafezinho”. E a gente traz esses cases que é pra contribuir com essa outra visão que na rua você realmente vê como as coisas acontecem.
[Fim de transcrição]