Qual a melhor forma de documentar e descrever seus projetos de UX Research para criar uma boa vitrine profissional?
No dia 09 de outubro realizamos o oitavo episódio do Papo Qualitativo, com duas conexões internacionais: de Estocolmo na Suécia tivemos a participação da Lu Terceiro (Sr. UX Designer na Zettle by PayPal), e de Amesterdã na Holanda tivemos a participação da Marcella Medeiros (UX Researcher Lead na Mirabeau — Cognizant Digital Business). O objetivo dessa conversa foi abordar as melhores formas de documentar e descrever projetos de UX Research em um portfolio.
O Papo Qualitativo teve sua primeira temporada acontecendo em episódios semanais as sextas-feiras com transmissão ao vivo pelo Youtube, LinkedIn, Twitter e Facebook da Mergo, posteriormente sendo publicados também como podcast e transcritos aqui no blog. Todo esse material pode ser visto logo abaixo.
Bom divertimento 🙂
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[Início da Transcrição]
Edu: Olá pessoal, tudo bem? Estamos em mais uma sexta-feira, mais um Papo Qualitativo. Estou aqui novamente com a Karen, minha fiel escudeira. Para quem está apenas me ouvindo, eu sou o Edu Agni, eu sou um homem branco de cabelo moicano, estou usando um fone de ouvido grande, barba por fazer, óculos pretos e camiseta cinza escuro, estou sentado em uma cadeira preta grande e atrás de mim tem um biombo com duas placas, em uma escrito “bora pesquisar?”, e na outra escrito “eu pesquiso antes de falar”, e credenciais de alguns eventos: Consciência Negra no Design, Campus Party e DEXConf — além de um adesivo sobre acessibilidade, ali. Esse Papo Qualitativo está um pouquinho diferente, normalmente a gente faz ele como um happy hour, então normalmente eu estou conversando com vocês à noite, estou tomando um vinhozinho… Hoje a gente está fazendo ele logo após o almoço, então hoje não é happy hour, hoje é matinê, estou tomando meu chazinho aqui, mas ainda assim a gente vai seguir falando de pesquisa, então o Papo Qualitativo existe para a gente discutir sobre pesquisa, para a gente falar aqui mais de pesquisa, menos achismos, então a gente vai seguir trazendo assuntos sobre pesquisa para vocês. A gente também está transmitindo esse papo para o Facebook, para o YouTube, para o LinkedIn, para o Twitter, então vocês que estão assistindo em todas essas redes podem ir deixando comentários para a gente, podem ir trazendo a opinião e as dúvidas de vocês.
O papo hoje está acontecendo à tarde porque na verdade, além de ser um papo para a gente falar sobre portfólio, também é um papo de conexão internacional! As nossas convidadas estão na Europa, então elas estão a cinco horas de diferença da gente. A ideia do Papo Qualitativo é acontecer às 19h, para elas é às 19h! Aqui para gente é às 14h, então essa é a razão de a gente fazer essa pequena adaptação, mas eu tenho certeza que vai ser um papo muito legal independente do horário que a gente está fazendo. E para a gente começar a bater esse papo, eu quero chamar então as nossas convidadas aqui. Para começar eu quero chamar a Luciana Terceiro. Olá, Luciana, tudo bem?
Luciana: Olá! Olá, tudo bem com vocês? Edu, obrigada pelo convite, é um prazer estar aqui! Para quem não me conhece, meu nome é Luciana Terceiro, eu trabalho com UX Design e pesquisa há mais de 15 anos — eu estou sendo boazinha para não parecer uma tia (risos). Eu não vou exatamente descrever o meu fundo como o Edu fez porque eu estou aqui na sala de casa, então se vocês ouvirem alguns barulhos, enfim, coisas aqui da casa mesmo. Eu estou atualmente morando na Suécia, eu trabalho em uma empresa chamada iZettle aqui em Estocolmo, e atualmente eu também faço um mestrado em Antropologia Social.
Edu: Legal, maravilha. E para completar o nosso time quero chamar aqui a Marcella Medeiros, olá Marcella!
Marcella: Oi! Oi, Edu! Oi, Karen! Oi, Luciana! Deixa eu me apresentar… Eu sou Marcella, eu também trabalho já há alguns anos, eu estava fazendo as contas aqui quando a Luciana falou, então… Acho que no meu caso eu trabalho já há uns dez anos ou um pouco mais como UX Researcher, sempre como pesquisadora. Hoje eu moro em Amsterdã, eu me mudei para a Europa há uns três anos. Eu comecei minha carreira trabalhando com eletrodomésticos na Whirlpool, depois eu trabalhei com o Edu na ContaAzul, eu trabalhei com software, mudei para cá, fiquei um tempo procurando emprego, me adaptando, e hoje eu trabalho em uma empresa que chama Mirabeau — é uma agência da Cognizant, que é uma consultoria maior. É o meu primeiro trabalho em agência, é bem interessante. E… Estou aqui! Amsterdã! Conexão Estocolmo e São Paulo! (Risos).
Edu: Maravilha! Legal que inclusive não só a gente vai falar do nosso tema de hoje, que é portfolio, como vocês também vão trazer uma visão de outros mercados para cá, que é a primeira vez que a gente está fazendo isso no Papo Qualitativo também, e eu acho que é bem interessante. E o tema que a gente tem para conversar hoje é portfolio de UX Research! A gente vai falar um pouquinho sobre portfólio, qual é a importância de um pesquisador ter um portfolio. Na área de design como um todo isso já é uma coisa muito consolidada, as pessoas estão aí o tempo todo montando seus portfolios, perguntando como fazer portfolio, fazendo cursos só para criar portfolio… E a gente não vê isso tão forte na área de pesquisa, não é? Então, será que precisa ou não de um portfolio, quem é pesquisador? Então essa é a primeira pergunta que eu quero deixar para vocês. Por que um pesquisador precisa de portfolio? E quando vocês, talvez, também sentiram essa necessidade? Jogo a bola primeiro para a Luciana, só para direcionar.
Luciana: Edu, eu acho que precisar, mesmo, não é que precisa, mas ter um portfolio eu acho que ajuda bastante você a expor onde você já trabalhou, a se expor para o mercado, estar aberto a outras oportunidades… Então eu acho que pode ser uma ferramenta bastante útil para você conseguir mostrar o seu trabalho. É claro que a gente vai até conversar um pouco sobre o que ter nesse portfolio, porque nem sempre dá para mostrar tudo, mas eu acho que um portfolio para todo mundo que trabalha com projetos, não só design e pesquisa, todo mundo pode lançar mão de um portfolio como vitrine dos seus trabalhos.
Edu: Legal. Marcella?
Marcella: É bem interessante essa pergunta, se precisa ou não, porque… Para mim foi uma surpresa quando eu cheguei aqui… A gente nunca… Eu, que minha experiência é com psicologia, então talvez o designer ouça desde a faculdade essa palavra, no campo das ciências isso não é muito comum, e em todos os meus trabalhos no Brasil eu nunca precisei, mas quando eu cheguei aqui, na real, em algumas vagas eu realmente precisei, eu não sei como isso também, nesses anos, evoluiu no Brasil, se as vagas estão pedindo… E realmente, eu acredito que, se precisa ou não, eu acho que é muito a questão da vitrine, e acho que mais do que a vitrine, eu acho que o portfolio, no fundo, é um importante processo para a gente se posicionar. Como que eu me posiciono como Researcher? Ele que vai mostrar isso. Então eu acho que assim, para algumas vagas, sim, vai precisar. Aqui, bastante, acho, até como opcional, eu lembro muito isso, mas também não sei como está aí no Brasil, como eles estão pedindo portfolio… Você tem uma ideia, Edu?
Edu: Eu vejo muitas discussões, principalmente nos grupos de profissionais de Research, a gente tem alguns grupos em Telegram, em WhatsApp e tal, e também eu faço parte de grupos de Managers aqui, e de vez em quando a gente vê o pessoal falando “como que eu posso recrutar um Researcher? Como vocês estão fazendo? Vocês estão passando teste?”, porque hoje é meio clássico um profissional de UX ter que executar um teste, não é? Eles falam “vocês estão fazendo algum teste com Researchers?”, o pessoal até fala, é difícil pedir para uma pessoa executar uma pesquisa como um teste, mas a gente pode pedir para, sei lá, a pessoa, a partir de um desafio, montar a estrutura do que seria um projeto de pesquisa como um teste, não é? A gente vem falando muito nessa direção. Mas efetivamente eu não vejo recrutadores aqui no Brasil pedindo portfolio para pesquisadores, a gente costuma ver muito para designers… E eu lembro até de conversar com você, Marcella, de você justamente ter falado isso quando você foi aí para o Amsterdã, que você estava participando aí dos processos, eu lembro que você falou “aqui o pessoal está pedindo portfolio! Eu tive que montar um portfolio de pesquisa!”. Como foi essa experiência?
Marcella: Foi! Olha, Edu, foi bem isso, assim. Eu fiquei surpresa pelas vagas, porque eu nunca imaginei! E eu acho que talvez eu tenha falado com você inclusive para pedir fotos, para pedir coisas… Eu lembro que eu entrei em contato com muita gente. Porque talvez um designer, enquanto ele está trabalhando, ele já pensa nisso, ele pensa em um futuro… Eu nunca pensei nisso na minha vida! Eu nunca liguei para isso! E aí cheguei aqui e falei “ai… Tenho que olhar para o meu trabalho!”. Como foi: quando eu sentei para fazer eu tive… Ele foi um trabalho e ainda é um trabalho, ele é interminável. Ele foi assim: eu sentei para fazer, eu estava tão preocupada, “que template eu uso? Onde eu vou colocar? Como que ele vai ficar?”, e eu não tenho… As minhas habilidades visuais não são como as de um designer. A gente pode até… A gente dá uma enganada, mas não é! E eu estava muito preocupada com o visual, até o momento em que eu parei “não, deixa eu ler sobre o que que é o portfolio em UX Research”, comecei a dar Google… Acho que eu compartilhei com você um material que eu tinha da minha pesquisa de mesa. E aí eu falei “tá, então eu tenho que olhar para essas partes!”, e aí eu comecei a desenhar ele em um papel, em um documento e assim foi, foi mais esse processo. E aí eu fui repensando todo o meu trabalho até aqui, como foi… Mas no começo foi assim “o que que eu vou colocar nesse portfolio?!”, eu não tinha ideia! E eu só pensava no visual! (Risos)
Edu: (Risos) Mas isso que você falou é muito real, porque normalmente a gente não fica fazendo registros de fotos do nosso trabalho… Tem o registro que a gente faz durante sessões de pesquisa sim, a gente grava, tira foto, quando é de campo eu sempre tiro muitas fotos — inclusive os poucos registros que eu tenho de trabalho de Research é muito mais quando eu vou a campo, que aí tem a coisa contextual para você registrar — mas a gente não fica realmente registrando assim! E aí é até estranho quando fala “beleza, portfolio de UX Research!”, a gente vai pôr o que? Portfolio sempre parece, pelo menos, ser uma coisa tão visual, não é? E de repente a gente está falando ali de uma coisa que é mais intangível. Luciana, sua experiência com esse tipo de portfolio? Você vem fazendo, levantando a bola da questão do portfolio aí, tem um trabalho que você vem fazendo que eu queria que você contasse um pouco para a gente, inclusive, sobre ele…
Luciana: É, pois é. Como eu já tenho um background de design, eu acho que essa questão de coleta do que a gente produz, de guardar os artefatos que a gente produz, já é algo que já vem meio naturalmente, mas eu acho que para ninguém é fácil fazer portfolio, porque primeiro que é um trabalho chato, a gente nunca sabe direito o que colocar, e é bem isso que a Marcella falou, às vezes mesmo o designer tem que sair caçando o material dele para organizar. Então a gente até começou esse projetinho, que depois a gente até pode passar o link, de portfolio canvas, e a ideia é exatamente assim: é que você consiga ir documentando o seu processo. Eu acho que a melhor coisa que você pode fazer é documentar o processo enquanto você está fazendo o projeto. Óbvio, não precisa documentar dia a dia porque não tem tanta novidade assim dia a dia, mas de tempos em tempos você parar e fazer uma espécie de retrospectiva, “como é que foi esse projeto até agora? O que que eu tenho de material?”, e ir salvando da maneira que você achar mais fácil, pastinha no computador, Google Docs, enfim, a ferramenta mais prática, e ir documentando mesmo, vai escrevendo e tudo mais, porque na hora que você tiver que transformar isso em um material público você pelo menos já tem um material lá. Mas eu entendo muito o que a Marcella falou, porque para o designer realmente já vem isso desde a faculdade, vem como é que é a construção de portfolio e tudo mais, só que se você trabalha com outros aspectos de um projeto isso não é falado, óbvio, nunca é conversado, então a hora que você tem que montar esse material é toda uma curva de aprendizado, então… Não é fácil mesmo.
Edu: Realmente. A Giovanna até trouxe aqui uma questão, “o ruim é que é estratégico e sigiloso”, porque eventualmente a gente está trabalhando com projetos que realmente são confidenciais! E às vezes você vai olhar tudo o que você fez — dessa coisa que a Marcella falou de “caçar”, eu também já fiz muito isso de mandar mensagem para pessoas que trabalharam comigo, “você tem algum registro daquele projeto?” — mas às vezes você olha tudo que você fez e fala “putz, eu tenho esse projeto que é muito bom e que eu não posso mostrar!”, e às vezes o que sobre não é o melhor de você também, então acaba sendo um outro fator dificultante.
Luciana: É, com certeza. Eu acho que cada projeto, e depende da empresa que você trabalha, tentar entender qual que é o grau do que você consegue abrir, porque tem alguns projetos que é nada, você não vai conseguir falar nada mesmo, tem alguns projetos que de repente você pode falar “ah, eu fiz um projeto para uma empresa da área de alimentação e foi um projeto mais ou menos assim”, e você consegue às vezes descrever o seu processo de pesquisa, do tipo “entrevistei 20 pessoas, etc”, ou seja, são informações que não vão entregar muito, mas que pelo menos você como pesquisador consegue falar “eu consegui lançar mão de algumas ferramentas, eu consegui fazer algumas coisas”, então você consegue contar um pouco do que foi esse projeto.
Marcella: Exatamente. Eu acredito que essa é uma das partes mais difíceis, do que contar, e dependendo você pode tentar falar sobre o setor, mas também falar sobre o problema que você resolveu, porque às vezes é um problema genérico, principalmente na pesquisa, às vezes é um problema que não é necessariamente relacionado a um produto, então eu acho que uma coisa bem interessante é, se você conseguir falar o problema e qual foi o seu pensamento por trás desse problema, porque eu acho que a grande questão do pesquisador, a grande habilidade, é realmente o pensamento crítico, então assim, qual foi o problema e qual foi o recorte que eu dei, como eu enquadrei esse problema. Eu acho que isso é bem interessante mas muito difícil fazer em questão de confidencialidade. Outra coisa que talvez seja interessante, se você realmente tem um projeto bom e quer falar, acho que você também consegue tentar conversar na empresa o que pode-se abrir ou não, ou talvez você não colocar isso em público, porque o processo seletivo tem um sigilo, não é? Ele tem umas questões éticas, então se você só precisa ir lá apresentar um caso talvez você consiga fazer isso, mas sem colocar isso em um portfolio, sem enviar para ninguém, você só chega na sua última… Não sei qual seria a etapa, acho que talvez o portfolio seria ali o meio ou o início, mas chega lá e pode tentar apresentar de alguma forma, mas sem enviar para alguém, apresenta no seu computador… São alguns meios que você pode tentar.
Edu: É, porque essa é uma questão também, portfolio não necessariamente é algo que você tem que ter publicado na internet para todo mundo acessar e ver! Você pode, como você falou, ter o seu portfolio ali… Eu já tive isso muito tempo, até hoje eu tenho arquivado aqui portfolio em que eu tenho projetos que não estão publicados e que assim, eu já conversei com empresas… Teve uma empresa que eu fiz uma consultoria uma vez e ela falou “olha, eu não gostaria que você publicasse esse projeto, mas se você só for mostrar para alguém, sei lá, algum recrutador, mostrar e tudo mais, não tem problema”, então eu tenho coisas que eu já deixei publicadas mas tenho coisas que eu tenho aqui, como uma apresentação, um Keynote, um PDF aqui, que eu apresento para quem importa, para quem precisa, mas não está público necessariamente.
Luciana: Eu faço a mesma coisa, eu tenho um portfolio que é website, que é público, e ele é meio sucinto, ele é meio resumidinho, e aí se eu acabo participando de algum processo seletivo, aí você leva computador, aí você pode mostrar alguma coisa sem enviar, aí dá para explicar um pouco mais dos cases.
Marcella: Isso.
Edu: É, exato. Essa era uma coisa, eu lembro… Há anos atrás, assim, trabalhando em agência de design, que a gente ia entrevistar pessoas, até para design editorial, gráfico, que vinha aquela pasta de material ali, tipo… Meu, nada está público! A pessoa trazia a pastinha, “olha, eu fiz essa revista, eu fiz esse livro, dá uma olhada”, era o portfolio. E eu sempre falo isso, a gente não precisa ter o portfolio público, eu prefiro, inclusive, que se for para tornar algo público, mas é opinião minha, eu prefiro às vezes fazer um post em um blog, tipo a apresentação daquele case que eu fiz, na verdade, porque aí ele vai servir como um material de estudo para outras pessoas, agora portfolio, portfolio mesmo… Normalmente eu tenho um PDF aqui para apresentar ou para mandar para as pessoas especificamente. Agora, uma outra questão também, pessoal, porque eu acho que no imaginário de todo mundo, principalmente quem está assistindo aqui, portfolio de design já é uma coisa muito mais clara, agora, qual que é a grande diferença do portfolio de design para um portfolio de pesquisa? É claro, também tem aquele imaginário, o portfolio de design gráfico que é aquela coisa cheia de layouts só, que a gente sabe que em um portfolio de UX a gente faz um processo diferente… Mas para vocês, qual que seria a principal diferença de um portfolio de design e de um de pesquisa?
Luciana: Puxa… Eu acho que em termos de estrutura macro, não é que tem uma grande diferença, a gente quer apresentar qual era o problema inicial, qual era a questão inicial, a gente quer falar sobre o processo todo, um pouco do resultado final, o que que a gente atingiu, aprendizados… Agora, é claro que assim, o processo em si pode ser bem diferente, o pesquisador, como o próprio nome diz, ele vai estar muito mais focado na pesquisa, ele vai estar muito mais preocupado nas técnicas de pesquisa, nos recursos que ele lançou mão, e o resultado final dele, do pesquisador em si, vai acabar sendo diferente, não é? Eu acho que pode até incluir, se houver resultados mais gráficos porque ele trabalhou junto com designers, se ele puder de alguma maneira mostrar “olha, a pesquisa que eu fiz resultou também nisso” é interessante, mas não é mandatório para um portfolio de pesquisa porque, afinal, portfolio de pesquisa pode ter outros objetivos.
Marcella: É, pois é, eu acho que é bem nessa linha. Eu poderia falar que a grande diferença é que um vai mostrar muito mais as telas e o outro vai mostrar o processo, mas na verdade também para o designer é muito importante o processo. Eu acho que são os momentos, o designer vai apresentar aquele processo dele dentro do espaço da solução, e nós apresentamos muito o espaço do problema, e são processos diferentes, no espaço do problema, no espaço da solução. Ele vai mostrar muito mais o resultado final nas telas, e talvez o pesquisador vai mostrar mais o impacto dele, não necessariamente o resultado final, mas o impacto dele naquele problema de negócios, naquele problema que ele estava querendo resolver. Então acho que separar esses dois momentos aí, a gente separando e tentando entender qual é o processo no espaço do problema e qual é o processo do designer, que é no espaço da solução.
Edu: Eu achei legal essa parte que você falou do foco do que é cada um. Tem uma frase da Erika Hall que diz que no design você está resolvendo as necessidades do usuário e as metas de negócio, e na pesquisa você está resolvendo a falta de informação. De certa forma os dois lados, em termos de portfolio, têm como objetivo contar a história do projeto! Eu sempre gosto de salientar que o processo de pesquisa é um projeto de pesquisa também, ele tem começo, meio e fim estruturados, então querendo ou não, seja o projeto de design para chegar na solução final, ou seja o projeto de pesquisa que vai ajudar a gente a trazer o entendimento do problema às informações, de modo geral a gente está querendo contar a história do projeto, então a gente vai ter que passar pelas etapas, pelo entendimento, pelo objetivo, pelo resultado final, pelo entregável…
Marcella: Isso é muito verdade, a história que a gente está contando. Na real é isso que chama a atenção e que vai fazer a maior importância no seu portfolio, é “qual a história?”, e ela é difícil, porque ela passa por você entender a sua história, que muitas vezes a história real é muito diferente do que você tem que sintetizar no portfolio, então passa por uma reflexão muito importante sobre o seu trabalho, sobre… Na verdade, quando eu montei o portfolio eu vi impactos que quando eu estava no dia-a-dia ali do trabalho “nossa, mas realmente, eu fiz isso”, e “nossa, realmente esse trabalho foi interessante!”, e quando você está vivendo ali o problema às vezes você não tem dimensão do que é, então às vezes é aquele movimento de você sair um pouco de fora do seu trabalho e olhar ele por fora, e como eu vou contar isso.
Luciana: Isso é tão legal, não é? Eu conversei com umas duas pessoas que comentaram a mesma coisa, para eles fazer o portfolio foi tipo uma jornada de autoconhecimento…
Marcella: Foi uma terapia!
Luciana: Exatamente! Foi um super momento de reflexão sobre o trabalho!
Marcella: Mas é por isso que eu acho que tem a questão do posicionamento. Eu entendi muito sobre mim mesma fazendo os processos seletivos e fazendo o meu portfolio, que ainda eu acho que deveria continuar — não teve fim o portfolio!
Luciana: Nunca tem!
Marcella: Não tem, não tem! Você está sempre ajustando aqui, ali… E é um trabalho de autoconhecimento muito grande, porque é uma forma que você tem que achar uma forma elegante para falar sobre o seu trabalho — eu gosto muito dessa palavra. E é difícil, é uma reflexão muito grande.
Luciana: É, é bem difícil mesmo.
Edu: (Risos) Eu falo que… Tem essa coisa que você falou, que querendo ou não, às vezes quando a gente está naquele projeto, a gente está preocupado com o que a gente está obtendo, às vezes a gente não está tão preocupado com o próprio processo, a forma que a gente aplicou, e montar um portfolio é isso, revisitar o seu processo! E você olha, “meu, realmente eu fiz isso dessa forma!”, eu falo que é você olhar por trás dos olhos, é você se ver fazendo uma coisa e entender mesmo, e eu acho que isso ajuda muito até no próprio crescimento profissional, como você vai evoluir o seu processo de trabalho, porque inevitavelmente você também coloca… Talvez você não exponha tanto isso no portfolio mas você tem um senso crítico sobre o que você fez bem ou o que você não fez, e revisitar isso acho que sempre tem essa visão, que acho que acaba acrescentando bastante.
Marcella: É, exato. E acho que é muito importante, e acho que a gente deveria criar uma disciplina melhor e tal… Eu, talvez, pelo menos o meu jeito de trabalhar, eu fico tão imersa no trabalho… Aqui, então! A Luciana sabe como é trabalhar em outra cultura! Eu estou impressionada! A Luciana está fazendo mestrado, mas eu não tenho espaço ultimamente para outra coisa na vida (risos). Mas é tão… A gente sempre deveria tentar fazer essa reflexão, sabe? Você está imerso no seu trabalho, dá um passo para trás, olha o que você está fazendo, mexe no portfolio… É uma disciplina que a gente precisa trabalhar. Eu realmente sou bem disciplinada com esse processo.
Luciana: É que não é fácil a gente ter essa disciplina, não é?
Marcella: Não.
Luciana: Mas a gente deveria ter, tipo um “momento retrospectiva”, assim como nos métodos ágeis tem o momento de retrospectiva do sprint a gente deveria ter também de tempos em tempos. Isso ajuda realmente a gente a refletir sobre o que a gente fez e a ir organizando o nosso material…
Marcella: Uhum…
Edu: É muito bom isso. E agora pensando no portfolio em si, o que que eu posso colocar efetivamente no portfolio? Porque tem aquela coisa… Eu vejo muita discussão sobre portfolio falando “ah, você tem que descrever exatamente o seu processo”, ou então “você tem que trazer os métodos exatamente como você fez”, ou então “não, o importante de um portfolio é você trazer os resultados, não necessariamente o como”… O que vocês acham importante, exatamente, de descrever em um portfolio? Talvez não só restrito a pesquisa, mas principalmente dentro da pesquisa, que é o nosso foco aqui. Vou jogar dessa vez para a Marcella primeiro.
Marcella: Eu primeiro? Está bem. Eu acredito assim, tem aquelas fórmulas, se você olhar vai ter sempre uma estrutura para você seguir, mas eu acho que o importante é: fala de você, como que você é, porque esse é o momento em que você se posiciona, “eu sou um pesquisador mais da parte inicial, com uma experiência com antropologia”, ou “eu sou um pesquisador mais generalista”… Então essa é a parte, fale sobre você. Eu acho interessante você também… Muito para recrutamento, até porque eu não sou uma pessoa que eu gosto de ficar atenta a métodos, mas mostra a sua caixa de ferramentas, quais são os métodos que você já trabalhou, você pode citar… Aí você pode realmente mostrar os cases, e aí eu acho que não tem receita, “dois projetos”, “três projetos”… Acho que não tem receita, e o que é importante nesse projetos, que eu vejo, é você colocar o contexto, o cenário, como eu falei antes, como você abordou, e esse processo de pensamento seu é muito interessante se de alguma forma você conseguir explicitar ele, até talvez as ferramentas que você usou, a matriz que você gosta muito, das certezas…
Edu: Suposições e dúvidas.
Marcella: … Hipóteses… Talvez isso seja um começo, como quando você está olhando para algum problema, então mostra quais ferramentas você usou, pode ser… E aí qual foi o seu papel dentro desse projeto, é bem importante, porque às vezes é um projeto enorme, qual foi a sua contribuição? Aí a estrutura, como você escolheu os métodos, como você definiu a população, o que você fez, e acho que o impacto. Acho que uma coisa bem importante é o impacto. E também acho bem interessante mostrar como você colaborou com as pessoas… Alguma ideia a mais, Luciana?
Luciana: Não, eu acho que é isso mesmo. Eu acho que, como o Edu falou também, um caso do portfolio é uma história, não é? Então a gente quer ver o começo, meio e fim, vamos dizer… Então o que que originou esse projeto de pesquisa? Como é que foi o desenrolar disso? Eu acho que tudo que a gente comentou é importante. Não precisa ir super no detalhe, porque a gente tem que imaginar também que quem está lendo não tem todo o tempo do mundo, e está fazendo uma triagem de outros portfolios, então o que que é importante citar? O que que foi fundamental entre as ferramentas, entre o processo? Como é que foi o desfecho desse projeto? Então pensar assim, que quem está lendo quer saber como tudo começou, como foi o desenrolar o que que aconteceu quando — porque todo projeto tem um certo fim, não é? Tem um fechamento, vamos dizer — como é que foi isso no final, e peça para outras pessoas darem uma lida, gente de confiança, porque às vezes você acha que você explicou super bem, você foi super claro, e de repente não foi em algum ponto, ou faltou alguma coisa, ou você precisa cortar alguma coisa porque não precisa, está meio chato o texto, enfim… Se você quer que outras pessoas leiam, os recrutadores, eu acho que vale a pena ter algumas pessoas em quem você confia para dar uma lida e ir afinando isso.
Edu: Sim. Tem um comentário aqui, da Giovanna também, falando “eu acho que o resultado final não deve ser o foco, porque ele pode refletir decisões que não dependiam de você, mas revelar como você lidou com essas decisões pode ser a chave do portfolio”. Eu acho que é bem por esse caminho, Giovanna, que a gente está colocando, a ideia de você contar a história, porque dentro desse processo tem o como você conseguiu trazer o engajamento. Eu acho que o resultado da pesquisa, a forma como você trabalha a pesquisa, é uma oportunidade muito grande para a gente engajar a organização sobre a importância desse olhar ali para um cliente, para um usuário… E contar essa história! Às vezes contar essa história vai passar por você contar que você interferiu até um ponto, depois veio uma decisão às vezes top down…
Marcella: Exato.
Edu: Agora, a Luciana trouxe um outro ponto importante também, que é a visão do recrutador, não é? Agora trazendo assim o lado do recrutador, eu já fiz esse papel algumas vezes… É bem isso, às vezes a pessoa que está recrutando tem ali 300 e-mails de candidatos para olhar, e uma coisa que eu sempre falo, até para os meus alunos, quando a gente está como recrutador a gente começa a decidir regras para ir afunilando, para ir fazendo recortes, então… Eu já fiz uma regra uma vez que era tipo assim “se a pessoa mandou currículo em Word eu não vou olhar, só quem mandou em PDF”, sabe? “Eu preciso recortar aqui”, tipo, tinham 400 e-mails para ver, então você vai fazendo recortes assim… Claro, essa história que eu contei minha não precisa considerar muito (risos), mas…
(Todos riem)
Marcella: Já sabe!
Edu: A grande questão é que… Eu acho que é essa questão da objetividade! Você quer contar toda a historinha, dizer que você chegou no campo em uma manhã fria com orvalho, você foi até o usuário e não sei o quê…? Você pode contar a sua história, mas conta, sei lá, em um post! Monta ali no blog a história completa! Agora… Eu acho que o recrutador precisa muito ver essa objetividade dentro do portfolio, “vamos ir direto ao ponto, o que que você fez? O que que é a real razão de isso ter acontecido?”, eu acho que esse direcionamento é bem importante.
Marcella: Isso. E acho que esse direcionamento é também uma forma de você mostrar o seu poder de síntese como pesquisador, como você sintetiza… E acho que a Luciana também falou dos detalhes, não é? Às vezes você não precisa colocar todos os métodos que você usou, mas o mais importante que te levou, porque às vezes o projeto não é tão linear como ele aparece no portfolio, então (risos)… E acho que a questão do resultado também é bem interessante, porque na pesquisa é muito mais… Eu falo de impacto, eu não falo também de resultado, eu falo o que que você mudou nas pessoas? Que conhecimento você introduziu ali, novo? Que perspectiva diferente você trouxe? Porque chega a ser cruel falar em resultados muito tangíveis para pesquisa, que às vezes é um processo tão longo até o final — dependendo do tipo de pesquisa, claro — que chega a ser cruel, assim, quando as empresas ou um recrutador quer realmente, “ah, me mostra resultados mensuráveis e impacto, o quanto essa pesquisa trouxe?”, isso dá outra live! É bem complicado isso.
Luciana: Só para complementar, que a história do resultado, eu acho que não precisa necessariamente ser algo super tangível. Eu acho que muitas vezes pode ser desde algo tangível, realmente algo que dá para mostrar, como realmente algo que você tem controle, até onde você conseguiu chegar, então é bem aberto a interpretação mesmo.
Marcella: E acho que a questão do recrutador… Tenta fazer um teste de dois minutos do seu portfolio — eu li sobre isso uma vez -, se você fosse uma pessoa de fora olhando o seu portfolio em dois minutos, você continuaria olhando? Porque no fim é isso que o recrutador faz, não é? Ele vai passar, se aquilo for atraente ele vai ler, mas se não for… E o atraente, o que torna isso atraente, é você fazer o casamento com a vaga que você está procurando… Não é só visual, acho que é a objetividade, como você sintetiza, acho que é bem complicado isso quando você pensa que você gasta muito tempo da sua vida fazendo um portfolio para… (risos).
Edu: Exato… E esse negócio que você falou, Marcella, do impacto, da mudança… Eu falo que o resultado da pesquisa tem que trazer algum tipo de mudança sempre, seja no projeto exatamente, ou às vezes até mesmo na cultura da empresa, às vezes aquele resultado de pesquisa não impactou tanto o projeto porque talvez outras questões de negócio já estavam muito direcionadas, enviesadas, sei lá, mas às vezes impactou muito na própria cultura da empresa. Como a Marcella falou no início, a gente trabalhou juntos, eu lembro muito, Marcella, e eu sempre mostro para os meus alunos isso, aquilo que você fazia na ContaAzul do “café com cliente”, sabe? De trazer as pesquisas e deixar ali no café, que era a área mais movimentada da empresa, tipo “meu, perca cinco minutinhos seus aqui para tomar um café com o cliente!”, e as pessoas sentavam e assistiam os melhores momentos daquelas entrevistas, e você via um monte de gente de outras áreas da empresa, que não eram designers ou da área de produto, comentando “nossa, o cliente está falando isso”, “o cliente está falando isso”, e mudando a perspectiva e mudando a forma de pensar! Então acho que o impacto do que a pesquisa traz pode ser em várias direções! O importante é você mostrar como ela gerou algum tipo de mudança, realmente, ou no projeto ou na cultura.
Marcella: É, aquilo ali foi muito legal! Você já citou isso, não foi só ideia minha, acho que foi uma ideia colaborativa, acho que muita gente (colaborou), acho que foi uma coisa que a gente criou, mas foi interessante que… Eu trazia muito nos meus processos seletivos aqui, tipo “ah, divulguei no banheiro o resultado da pesquisa!”
(Todos riem)
Luciana: Eu lembro até hoje essa história do banheiro!
Marcella: Mas você sabe que eu vi em um livro?! Acho que tem naquele livro “The User Experience Team Of One: A Research and Design Survival Guide”, tem um capítulo de “UX no banheiro”! Mas você sabe que eu usava isso até para quebrar o gelo? Ainda mais aqui, sabe? Às vezes é muito sério e tal, aí eu sempre trazia isso nas minhas entrevistas, e era uma coisa muito legal. Mas não foi só ideia minha, teve todo o time junto, mas foi muito bacana o que a gente fez lá! A Luciana lembra, também!
Luciana: Não, genial! Mas agora você vai ter que explicar o que é o “UX no banheiro”, para ninguém pensar…
(Todos riem)
Edu: Eu ia pedir o contexto, justamente! Não é? Porque, de repente…
Marcella: Então, acho que era isso, essa questão do impacto. Às vezes você quer criar mais empatia, não acho que a forma como você decide divulgar os resultados de pesquisa necessariamente vai resolver só o ponto ali do projeto, às vezes é para criar empatia, e lá na ContaAzul a gente tinha essa cultura muito bacana, muito informal, e eles tinham também já essa cultura de colocar avisos no banheiro, então chegou um momento em que a gente começou a divulgar comentários de cliente, a cada semana a gente trocava, e colocava comentários dos clientes nas portas dos banheiros (risos), na porta das cabines, que é um lugar que você lê! Era muito bacana isso. Acho que eu vi isso no livro! Foi incrível.
(Todos riem)
Edu: Sim! Usar o banheiro era literalmente um momento de reflexão, porque você estava ali vendo aquelas frases… E nem sempre eram comentários positivos! Às vezes eram comentários ali de clientes criticando o produto e você não tinha para onde correr! Você tinha que sentar ali e ler (risos).
Marcella: E tinha gente que reclamava — é uma cultura difícil de você manter sempre e tal -, e às vezes as pessoas “gente, já estão muito antigos aqueles comentários lá!”.
(Todos riem)
Marcella: Era bem interessante!
Edu: Era muito bom, aquilo… Tinham várias dessas coisas, tinham cartazes com frases de clientes espalhados pelo corredor, ou explicando uma vertical de clientes, “empresas de manutenção de computadores: são assim, assado, trabalham assim…’, tinha muita coisa assim, então impactava muito na própria cultura da empresa tudo isso da pesquisa, não só diretamente nos projetos, eu acho que era muito bom. Agora, Luciana, tem gente, aqui o Renato, com curiosidade do link que eu mandei, que é o portfolio canvas! O pessoal está querendo saber um pouquinho mais sobre ele! Você quer falar um pouquinho mais do que que tem exatamente no canvas, de que forma ele ajuda as pessoas a montar o portfolio…? Para quem não viu, é esse link aqui: https://projectportfoliocanvas.com/
Luciana: Pois é, esse projeto nasceu da “sofrência” minha e da Matina para fazer portfolio, a gente também sofreu e falou “oh, meu Deus! Isso é muito chato!”, e aí a gente começou a bolar um guia, porque no começo era assim “puxa, que tipo de informação a gente quer pôr?”, e aí a gente começou a estruturar, “tem que ter o nome, tem que ter quando a gente fez o projeto, como é que foi o processo, se a gente de repente usou alguma coisa interessante, alguma tecnologia nova, enfim…”, e aí uma reflexão começou a levar a outra, depois a gente começou “não, mas interessante seria se antes até do projeto a gente conseguisse ter um momento de refletir o que eu quero fazer nesse projeto, será que eu quero aprender alguma coisa nova? Será que eu quero me aperfeiçoar em algo?”, então dessas ideias começaram a nascer uns checklists, uns guias para a gente parar e pensar, e aí acho que a última coisa que a gente fez — eles chamam de hyper journal, eu acho — é uma espécie de diário onde você pode ir contando um pouco do projeto, e a ideia era exatamente ter um registro de tempos em tempos de como anda o seu projeto, e aí você pode, além de escrever, você pode também anexar fotos, documentos e tudo mais, mas ainda muito em um caráter pessoal. Esse é o seu inventário dos projetos, e a ideia é exatamente assim, que possa tanto ser uma reflexão sobre como você está fazendo o projeto, quanto depois ficar um pouco mais fácil de estruturar o portfolio, porque realmente, uma parte que a gente sempre sofre é recolher todo o material, é ter tudo organizado, é ter os conteúdos, porque o projeto, se ele dura seis meses, um ano, não sei, pode ser até mais, tem uma hora que você não sabe mais direito o que você fez durante o processo, você começa a perder os detalhes, então a gente foi desenvolvendo esses canvas. A gente fez em algumas plataformas diferentes porque a gente entende que cada um se organiza melhor em uma plataforma, então tem para Google Docs, tem para Google Spreadsheets, tem para Miro, tem para Figma, então conforme a gente foi tendo tempo a gente foi fazendo, e é basicamente isso.
Edu: Legal demais. Já dá uma direção, principalmente para quem inclusive nunca montou um portfolio, inclusive tem uma pergunta aqui da Carol… Perguntando “alguma dica para quem nunca trabalhou na área e ainda assim precisa de um portfolio para conseguir uma vaga?”, porque a verdade é essa, quase toda vaga que a gente tem hoje pede portfolio! Talvez de pesquisa não tanto, mas de modo geral se pede um portfolio, e aí eu tenho contato com muito profissional Jr que vem me fazendo exatamente essa pergunta que a Carol está fazendo. Como que a gente monta um portfolio sem ter trabalhado efetivamente em uma empresa, em um projeto? Luciana?
Luciana: Bom, eu acho que dá para colocar projetos que foram desenvolvidos em cursos, em faculdades, ou projetos, de repente, que você faz pro bono, sabe? Procura uma ONG, ou uma pequena empresa de repente… Oportunidades que você tenha de exercer o que você já sabe, e aí com base nisso dá para montar um portfolio. Eu não sei, eu trabalhei um bom tempo lá no UOL, e a gente fazia análise de portfolio, por exemplo para vaga Jr, e não tinha problema, por exemplo, se era portfolio com coisas que as pessoas fizeram pro bono, ou na faculdade, ou em cursos livres, isso não tinha o menor problema. Se era possível analisar a linha de raciocínio da pessoa, o que ela lançou mão… Claro, não era expectativa de ser um profissional super experiente, não era isso, mas você já conseguia identificar que a pessoa tinha um potencial bacana lá, que ela tinha um interesse, que ela correu atrás… Enfim, se ela conseguiu demonstrar isso dentro de um portfolio, eu acho super factível, eu não vejo nenhum problema.
Marcella: Eu acho isso mesmo, e enquanto eu não estava trabalhando aqui eu fiz muitos projetos voluntários. E eu acho assim, tem muita startup, pessoas, na verdade, começando e que não têm nada estruturado, e que estão precisando de pessoas com a sua habilidade, seja de pesquisa ou design, então assim, se você consegue conectar com uma empresa que está ali iniciando, acabou de ter a ideia, e se você consegue conectar, trazer um pouco da sua especialidade ali… Outra ideia interessante: eu fiz um curso naquela plataforma Acumen, e uma coisa interessante que a gente sempre lê para essas dicas é “faça o seu próprio projeto”, mas é mais legal se você consegue conectar com outras pessoas para desenvolver esse projeto, então uma startup ou esses cursos… Essa plataforma da Acumen, você conecta com pessoas da sua região… Eu lembro que eu fiz um bem inicial sobre design centrado no humano, e ele era bem simples, para mim era muito básico o conteúdo, mas me ajudou a me colocar em contato — eu estava em Dublin na época, mas eu tive contato com pessoas que estavam na cidade, foi uma forma mais de eu fazer amizades do que… (risos) E daí de lá saiu um projetinho, e é um curso de graça, é uma plataforma de graça em que você monta um próprio grupo, aí você tem um problema… Acho que procurar tudo que tem disponível hoje para fazer esses cursos, acho que é muito interessante. E o mais legal é que você consiga fazer isso colaborando com outras pessoas, porque você mostra esse processo no portfolio.
Edu: É, até porque — é importante dizer! — quando você vai trabalhar em uma empresa, dificilmente você vai trabalhar sozinho, mesmo que talvez você seja o único pesquisador você vai ter outras pessoas ali. Agora, isso que a Luciana falou, de quando você está avaliando um portfolio de um profissional Jr, não necessariamente você está buscando a experiência, mas entender a linha de raciocínio da pessoa, as decisões que ela tomou. E aí isso me lembrou de uma questão que eu já discuti com bastante gente, que é inclusive uma provocação… Aquilo que você faz em um curso pode ser considerado um portfolio? Porque assim, vamos lá: o portfolio, ele não está só dando uma amostra do seu trabalho ali, ele também está mostrando como você toma decisões dentro do projeto, porque você escolheu fazer aquilo, porque você escolheu aquilo, então não é questão de necessariamente você falar “olha, eu fiz uma entrevista em profundidade aqui”, é o porquê você decidiu fazer aquela entrevista em profundidade! E aí eu acabo vendo muito, e eu até falo para os meus alunos, “olha, isso que vocês estão fazendo no curso talvez seja considerado um portfolio por muita gente, e até por recrutadores, mas a verdade é que é um caso de estudo, porque assim, apesar de você ter feito ali uma pesquisa em profundidade, ter feito uma pesquisa de mesa, ou coisa assim, vocês mesmos tomaram decisões dentro do método que vocês executaram, mas vocês não tomaram decisões sobre o processo e o método, o professor foi passando mastigadinho ali!”, e será que isso a gente pode considerar um portfolio, sendo que a pessoa que executou não tomou necessariamente decisões sobre o que ia ser feito? Isso é muito mais uma provocação que eu quero ouvir a opinião de vocês.
Luciana: Edu, eu consideraria, porque assim, se a gente está analisando cases que foram desenvolvidos em um curso, eu acho que a gente, como recrutador, vai saber que a pessoa de repente não tem muita experiência na área, esse é o material que ela tem, e aí no caso, mesmo que ela não tenha uma total decisão sobre os métodos utilizados, ela colocou aquilo em prática, e como é que foi colocar aquilo em prática? E eu acho que assim, se a pessoa se aplicou no processo, no projeto que foi desenvolvido no curso, isso transparece no momento que ela vai escrever esse case, sabe? Então dá para notar quando você fala “aquele aluno super se dedicou e fez um projeto lindo!”. Mesmo que ele não tenha uma super liberdade, mas aí até a pessoa trabalhando em uma empresa às vezes também não vai ter uma super liberdade, não sei, ou alguém Jr em uma empresa também vai meio que ser guiado por outros, então eu acho que, claro, depende de cada caso, mas eu acho que fica claro quando a pessoa super se dedicou no projeto, a gente sabe que é um projeto de curso mas você consegue ver as qualidades lá, então… Eu não desconsidero assim, de cara, não! Não dá para dizer que todos são inválidos, não é?
Marcella: É, eu concordo totalmente! Acho que eu não desconsideraria. É muito mais você olhar para que vaga aquilo ali… Provavelmente a pessoa é mais Jr, ou está mudando de carreira, está iniciando… É muito mais o olhar que você dá, e também o professor, na real ele não vai ditar, não é? Você vai guiar ali. Se ele fez realmente uma escolha muito errada você vai guiar e vai ensinar e aí você vai ter uma ideia, sim, ele passou por esse processo de aprendizagem. Acho que isso não é um professor fazendo por você, não está o professor fazendo o portfolio por você, acho que… O importante é que esse portfolio mostre você mesmo e como foram suas decisões no fim, como a gente tem falado aqui. Não é?
Edu: Legal. Tem mais um comentário aqui da Giovanna falando que “para quem está começando, acho que ter honestidade e saber vender as qualidades que vocês tem, tipo falar como trabalhar como garçonete te levou a desenvolver empatia”. Eu inclusive estava lendo um post da Karen Santos, que toca o projeto UX Para Minas Pretas, falando de como quando ela trabalhou como profissional de telemarketing ajudou ela hoje no processo de pesquisa, de como ela faz pesquisa, de como ela recruta, e tem uns pontos bem interessantes nesse artigo da Karen, mas eu acho que é isso, acho que para um profissional que está começando o principal é a honestidade. Se você coloca uma coisa no portfolio, que você consiga defender isso! Que você consiga explicar o que você fez, porque às vezes a gente vê também muito profissional Jr que acaba pegando referências na internet sobre etapas, processos, passos, e coloca no portfolio, e depois o recrutador pede para explicar, “e aí, como você fez isso?”, e a pessoa não tem a consciência de porque que aquilo pode ser usado ou não. Eu acho que, de modo geral, é bem interessante a parte da honestidade, acho que é essencial — não só para quem está começando, logicamente (risos).
Marcella: Mas isso é muito importante, até porque hoje em dia, como você falou, é muito fácil você começar a ler Mediums, artigos, e usar os frameworks e tudo que você tem… É muito fácil hoje em dia (falar) “ah, eu fiz aquele processo”, mas se aquilo não se sustenta…
Edu: Uhum, exatamente. Pessoal… Passou muito rápido, já faltam cinco minutos para acabar nosso tempo aqui, mas… Eu sei que é bem genérico isso, mas eu queria, para a gente encerrar, ouvir de vocês uma declaração final para quem está assistindo a gente, alguma dica que vocês queiram dar, algum comentário… É um espaço livre para vocês falarem o que quiser! Começando pela Luciana.
Luciana: Cara, a minha dica é: tenta registrar para você, fazer o seu inventário, o máximo possível. Vai guardando no computador, faz uma pastinha, e se vocês estão começando melhor ainda, porque vocês vão guardando desde o começo! Porque depois a gente perde mesmo a documentação, a gente esquece dos detalhes, então faz um diário — o pessoal chama de “diário de carreira” — faz uma coisa assim, porque vai te ajudar muito, muito!
Edu: Legal.
Marcella: Acho que a minha dica é: quando você começar a fazer esse portfolio, provavelmente é porque você está procurando alguma vaga, começa a pensar qual exatamente a vaga que você quer, na área de pesquisa por exemplo, “eu quero uma vaga que seja muito focada na parte do produto, de otimização, de pesquisa”, ou “eu quero uma vaga que vai ser mais na pesquisa fundamental”… Que tipo de pesquisador eu sou? Acho que essa é bem importante! E olhar para essas vagas, e aí você vai conseguir dar um norte para o seu portfolio, “que tipo de pesquisador eu estou querendo colocar nesse portfolio? Que tipo de projeto eu quero mostrar?”, acho que essa reflexão inicial é fundamental. Ela vai começar em um documento… E aí se você já tem vários projetos, se você já é um profissional experiente, aí você vai olhar para trás e falar quais projetos você quer pegar. Se você está iniciando, você vai olhar “tá, eu quero ser um pesquisador mais para esse lado”, então eu olho, que tipo de projeto eu quero tentar fazer? Tarefas… Acho que isso é bem importante, essa vitrine, como você vai apresentar essa vitrine.
Edu: Legal. Só para a gente fechar, o Robson deixou um comentário aqui, eu falei do post da Karen e o Robson falou “meu primeiro trampo foi em 2006 com telemarketing, é um trampo bem complicado, mas ajuda muito a entender o cliente, buscar no sistema a jornada dele e tentar ajudar”. É interessante porque é… Até na época do ContaAzul a gente chegou a fazer algumas vezes de passar um dia na área de atendimento realmente atendendo telefone e falando com as pessoas, justamente para ter essa aproximação, assim. Inclusive, uma coisa que eu sempre falo: se a empresa em que vocês trabalham tem área de atendimento, dê atenção para essa galera, converse com eles, porque eles estão em contato com os clientes, com os usuários, de uma maneira muito mais frequente que você, pesquisador, designer! E já teve projetos, inclusive — a gente sabe que, principalmente quando você não trabalha só como pesquisador, lá na ContaAzul eu fazia pesquisa mas eu não era exclusivamente pesquisador como a Marcella, mas tinha projetos que eu não conseguia tempo hábil para fazer uma pesquisa, e aí eu acabava fazendo co criação com pessoas da área de atendimento, chamava algumas pessoas, a gente mapeava informações… Eles mapeavam tanta informação para mim que era como se eu tivesse ido a campo e feito uma imersão de pesquisa! Então eu acho legal as duas coisas, tanto a gente dar atenção para quem trabalha na área de atendimento quanto a gente também assumir esse papel de vez em quando, é sempre uma experiência bastante rica.
Marcella: É, é uma riqueza sem fim o atendimento, e mais: eu já vi muita gente, na ContaAzul mesmo eu trouxe pessoas do atendimento para começarem a trabalhar com pesquisa! Ela leu o Design do Dia-a-Dia inteirinho! E eu já vi muita gente migrando do atendimento para pesquisa, porque é muito… Acho que é um bom início, porque são as pessoas que mais estão ali lidando com o cliente e tentando entender em profundidade a dor que ele está sentindo, e tentando resolver depois.
Luciana: Eu acho que atendimento e suporte é o maior parceiro do pesquisador e do UX e do designer dentro da empresa, nossa! Eles que realmente estão lá dia-a-dia sentindo a dor do cliente, não é a gente!
Edu: Exatamente! Ah, gente, foi muito bom esse papo! Eu sempre lamento… Passa voando o tempo aqui, uma horinha já passou, de papo, mas eu acho que foi muito rico, muito divertido, a gente conseguiu conversar sobre várias coisas… Queria muito agradecer a presença de vocês, a disponibilidade de vocês, a gente conseguir se ajeitar aí para conseguir fazer esse papo e essa conexão internacional acontecerem! Então, Marcella, Luciana, muito obrigada pela presença de vocês! Muito obrigado vocês que estão assistindo a gente por comentarem, por trazer as visões de vocês, por compartilhar a experiência de vocês! Eu acho que um papo como esse é muito mais rico quando tem a colaboração de todos vocês. Agradeço a Karen, minha fiel escudeira me ajudando mais uma vez aqui com esse papo, e é isso, gente! Muito obrigado e até a sexta-feira que vem. Bye bye! Tchau tchau para vocês!
Luciana: Tchau!
Marcella: Tchau, Luciana! Tchau, Edu! Tchau, Karen!
Luciana: Tchau tchau!
Edu: Tchau, gente, valeu!